sábado, 7 de fevereiro de 2009

Mais Fernando Pessoa

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

que chega a fingir que é dor

a dor que deveras sente.

 

E os que lêem o que escreve,

na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve

Mas só a que eles tem.

 

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

que se chama coração.