domingo, 31 de janeiro de 2010

Se beber, não case!

Depois de dias na fila, consegui locar o filme “Se beber, não case!”, e valeu ter esperado!

Talvez o que me tenha levado a gostar tanto deste filme tenha sido justamente a forma despretensiosa como velhas piadas e velhos clichês foram revitalizados pela atuação  de quatro malucos que parecem realmente estar se divertindo muito, acho que a “pedra de toque” deste filme é realmente a sensação de diversão que todas aquelas loucuras conseguem transmitir, você jura que se estivesse alí, naquela situação, como ator ou personagem, estaria realmente rindo às bandeiras despregadas, e assim o filme flui…

A história parece ter sido construída para homens (embora funcione maravilhosamente para as mulheres, que reconhecem nos personagens aquele irmão muito louco ou aquele amigo “da pá virada), pois relata as peripécias de quatro amigos em uma despedida de solteiro em Las Vegas, onde tudo acontece, desde acordarem com a suíte do hotel totalmente destruída até encontrarem um tigre e uma galinha gloriosamente presentes em sua ressaca fenomenal.

E o pior é que os três não se lembram do que aconteceu, e para piorar, perderam o noivo…

E esta é a história do filme: a reconstrução da noite da despedida de solteiro, quando através de pequenas pistas, os três amigos vão reconstruindo as loucura que o grupo fez naquela festa.

Para se poder curtir mesmo este filme, acho que é necessário que o espectador se dispa um pouco de sua mentalidade adulta, é necessário curtir uma boa brincadeira, é necessário se conseguir voltar a ser um pouco criança de novo, e afinal, quem não quer alguns minutos livres da chateação de se encarar a vida de forma obsessivamente séria?

Cristo e sua sombra

Cristo-e-sua-sombra[1]

Esta imagem, desta forma, eu nunca vi!!!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A previsibilidade do ser humano e a responsabilidade do leitor na evolução da literatura

Ando lendo vários artigos na Internet sobre clássicos que são repaginados por escritores atuais. Sabemos que o mundo é redondo e esgotável, mas assistimos agora este fenômeno abranger também a literatura. Ninguém pode discordar que os livros da série Crepúsculo nada mais são do que releituras de personagens de Jane Austen. Edward Cullen e Mr. Darcy são iguais, só não vê quem não quer que Dona Meyer aproveitou toda a estrutura do personagem austeniano para compor seu vampirinho vegetariano. Bom? Ruim não foi, lí o livro e ouso dizer que, se bem que muito mal escrito, dá para divertir…

Agora outros escritores também procuram as fontes austenianas para basear seus novos-velhos heróis. E lá vem Mr. Darcy Vampiro, Mr. Darcy Zumbi, Mr. Darcy Múmia, Mr. Darcy Monstro do Mar, e por aí vai…

Muitos críticos literários já discutiram a questão da influência de clássicos na literatura atual, nada que já não tivesse sido feito, que continua sendo feito e que sempre será feito, o interessante será observarmos o mercado que se abrirá para este contínuo fenômeno.

Sabemos o quanto Jane Austen é lida até os dias de hoje, resta esperarmos para sabermos como serão recebidos os novos títulos pelo mercado consumidor, imagino-me entrando na Livraria Cultura e dando de cara com títulos tais como: Pride and Prejudice and Zombies; Mrs. Darcy, Vampyre; Darcy’s Hunger; Jane Bites Back; Mansfield Park and Mummies; Northanger Abbey and Angels and Dragons; Razão e Sensibilidade e Monstros Marinhos…

Apenas tenho receio da qualidade destas adaptações (serão adaptações ou plágios camuflados?), percebemos cada vez mais a fraqueza e a pobreza de certos escritores na composição de diálogos interessantes e que tais, e se voltarmos a Crepúsculo, perceberemos o que quero dizer através de uma análise do livro, sem maldade, mas Dona Meyer poderia ter se dedicado mais para escrever um pouquinho melhor, certas partes do livro são sofríveis, e isto, mesmo com muito boa vontade…

E concluo então afirmando que toda cultura tem o livro que merece, se o público consumidor estiver amadurecido para exigir um livro sólido, mesmo que baseado em livros já existentes anteriormente, veremos surgirem boas adaptações (ou cópias camufladas, vá lá…), mas se nossos queridos consumidores se acomodarem com um produto de qualidade ruim, com diálogos sofríveis e construções de mal gosto, então será  isto que teremos…

Relembrando Jane Austen

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, na casa da paróquia de Steventon, Hampshire, Inglaterra, e faleceu em 18 de julho de 1817, na cidade de Winchester, Inglaterra.

Em 1801, a família de Jane Austen mudou-se para Bath, onde permaneceu até 1805.

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(Foto da residência de Jane Austen em Bath)

Com a morte do pai, em 1805, Jane Austen, sua mãe e sua irmã Cassandra mudaram-se para Chawton.

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(Foto da casa onde Jane Austen viveu em Chawton)

Quando sua saúde piorou, Jane Austen procurou a cura de seus males na cidade de Winchester, uma cidade no sul da Inglaterra, onde faleceu e foi enterrada.

(Catedral de Winchester, onde Jane Austen está enterrada)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Valsinha

 

Composição: Chico Buarque / Vinícius de Morais

Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

PEDIDO…

A  TODOS..........

 
PEDIDO

A todos os amigos que me mandaram

correntes que  prometíam fortuna e

dinheiro em 2009  lhes comunico que:

 

 

NÃO  DEU RESULTADO!!!

Por isso, para 2010, mandem o

dinheiro diretamente!


OBRIGADA.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Vídeo encontrado no youtube publicado por Jacqueline Viana sobre “Persuasão”

Apelo aos amigos: Orgulho & Preconceito ou Persuasão…

Convite geral!!!

Sou uma apaixonada por Jane Austen, especificamente por dois de seus livros: “Orgulho e Preconceito” e “Persuasão”.

Quando li Orgulho & Preconceito cheguei a uma aterradora conclusão: nada poderia igualar a maestria desta escritora, nada poderia cativar mais meu coração, eu estava definitivamente perdidamente apaixonada pela família Bennet e pelos Senhores Darcy e Bingley, por Longbourn, Netherfield Park, Rosings Park e Pemberley e por todo o maravilhoso universo criado a partir da pena desta escritora que em pleno século XXI continua fresca, intacta, soberba, encantando gerações de almas sensíveis e apaixonadas.

Acontece que a alma humana é inconstante, e um dia, quando em um dos meus passeios favoritos (Pela Livraria Cultura...), eis que me deparo com outro livro de Madame Austen: Persuasão...

Ressabiada, na verdade inteiramente desconfiada e mais pelo velho hábito de tentar completar minha coleção “Austeniana”, o adquiri.

Estava plantada a semente da infidelidade, só faltava para que esta germinasse o frescor das palavras de Persuasão.

E foi assim, senhores e senhoras, a escalada de minha perdição, nunca mais pude professar amor incondicional por meu querido O&P, pois quando o fazia minha paixão por Persuasão exigia seu lugar em minha vida e em meu coração.

Mas diz o dito popular que “quem tem amigos não morre desamparado”, e então resolvi apelar para vocês, preciso de ajuda para decidir se abandono “O&P” e me entrego aos prazeres prometidos por “Persuasão” ou se persisto neste meu amor antigo e volto as costas aos amores atuais prometidos por esta velha/nova publicação...

Capitão Wentworth no filme de 2007

 

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Descrição do Capitão Frederick Wentworth no livro “Persuasão”.

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Não era o senhor Wentworth, o antigo sacerdote de Monkford como as aparências poderiam levar a supor, mas sim um capitão Frederick Wentworth, seu irmão, que, tendo sido promovido a capitão em seqüência a uma batalha próxima a São Domingos e não tendo sido imediatamente destacado, viera para Somersetshire no verão de 1806: e, como já não tinha os pais vivos, hospedara-se durante meio ano em Monkford. Ele era, àquela altura, um jovem esplêndido, muito inteligente, ativo e brilhante; e Anne era uma jovem extremamente bonita, meiga, modesta, com bom gosto e bons sentimentos. Metade da atração sentida por cada uma das partes teria bastado, pois ele não tinha nada que fazer e ela não tinha praticamente ninguém para amar, mas a confluência de tão abundantes qualidades não podia falhar. Foram se conhecendo gradualmente e, depois de se conhecerem, apaixonaram-se rápida e profundamente. Seria difícil dizer quem vira maior perfeição no outro, ou qual deles se sentira mais feliz, se ela ao receber as suas declarações e propostas, ou se ele ao vê-las serem aceitas.

(Capítulo 4 do livro “Persuasão”, belíssimamente escrito por Jane Austen)

Artigo retirado do Jasbra – Jane Austen Sociedade do Brasil – de Adriana Zardini, informação que esqueci de publicar.

 

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Orgulho e Preconceito - Hollywood sem beijo** Por Genilda Azerêdo*

Sempre que uma nova adaptação de Jane Austen aparece – e esta é a oitava de 1995 para cá – somos induzidos a (mais uma vez) questionar o que há em seus romances, publicados entre 1811 e 1817, que ainda pode atrair a atenção do espectador do século XXI. No caso desta mais recente adaptação, Orgulho e Preconceito, baseada no romance homônimo, a expectativa talvez ainda tenha sido maior, uma vez que se trata do romance mais lido e amado da autora.A própria Jane Austen referiu-se a Elizabeth Bennet, a protagonista do romance, como “uma criatura adorável, como jamais aparecera na literatura (...)”. E confessou: “Não sei como serei capaz de tolerar aqueles que não gostem dela”. De fato, Elizabeth é a mais famosa das protagonistas de Austen, uma personagem que combina inteligência e senso de humor, sensibilidade, vivacidade e rebeldia. Como se sabe, todas as narrativas de Austen constituem pretextos para que suas protagonistas amadureçam emocionalmente, passem de um estado de ignorância a um estado de consciência e conhecimento. No caso de Orgulho e Preconceito, no entanto, tem-se, de início, a impressão (o que não se concretiza), que Lizzy já é madura o suficiente, tornando tal processo esvaziado de função. De modo geral, é o personagem masculino central aquele que contribui para este crescimento emocional e afetivo da heroína. Porém, neste romance, é interessante ver como o processo de conscientização e amadurecimento se dá de forma dupla: ambos Lizzy e Darcy não só vivenciam um processo de aprendizagem, mas gradualmente ensinam um ao outro. Talvez este aspecto seja responsável por fazer deste o mais famoso par amoroso de Austen. E não fosse por outros aspectos do romance, que faz um registro dos costumes e valores da sociedade pré-vitoriana, e uma crítica social contundente à dependência que aquela mulher tinha do casamento, como único meio de sobrevivência (material e emocional), bem como aos efeitos decorrentes dos conflitos entre classes sociais, da hipocrisia e da aparência, só a história de Lizzy e Darcy já justificaria uma adaptação.O título do romance já se oferece como primeira possibilidade de compreensão da narrativa: se Darcy é imediatamente considerado por todos como orgulhoso e arrogante, Lizzy (embora se considere lúcida) não se contém em seus pré-julgamentos em relação a ele. Mas a associação não se dá deste modo único: Lizzy também tem seu orgulho abalado (lembremo-nos de uma fala sua, quando diz, “eu poderia até perdoar sua vaidade, se ele não tivesse ferido a minha”); por outro lado, o pré-conceito inicial que Darcy tem em relação à família de Lizzy vai aos poucos se materializando, de modo que o “orgulho” e o “preconceito” do título não ocupam posições estáveis, mas ambíguas. Na verdade, estabilidade é uma palavra que não combina com Jane Austen. Embora suas narrativas sejam “limitadas” a um universo principalmente feminino e doméstico, e suas temáticas focalizem a importância do casamento como único meio de sobrevivência e estabilidade para a mulher, a questão é tratada de forma tensa, a ponto de fazer com que Lizzy recuse a proposta de casamento de Mr. Collins e a primeira proposta de Darcy, algo até certo ponto inconcebível, quando pensamos na realidade de penúria que a espera. Ou seja, ao mesmo tempo em que a narrativa revela a centralidade do casamento e a importância de uma vida familiar estável naquele tipo de sociedade, ela também mostra representações variadas de casamento, além de sugerir que algo maior – além da conveniência e sobrevivência material – deve fundamentar a escolha e a decisão, ao menos, dos pares centrais.Orgulho e Preconceito já foi adaptado anteriormente, inclusive mais de uma vez. Como filme, há uma versão de 1940. Como série da BBC/A&E, foi adaptado em 1979 e em 1995 (esta, embora série, foi filmada em película). Esta mais recente adaptação (2005; dir. Joe Wright, com roteiro de Deborah Moggach) traz uma diferença bastante significativa em relação às outras adaptações de Austen: uma ênfase maior na visualidade do meio rural (animais e trabalhadores rurais são mostrados), com o propósito de não apenas situar a história no countryside inglês pré-industrial, mas de indiciar esse meio como contexto comercial e econômico daquele grupo social.No início do filme, acompanhamos Elizabeth (que caminha com um livro na mão) pelos arredores da casa, e depois pelo seu interior. À medida que nos familiarizamos com sua casa e sua família, já nos damos conta da cumplicidade existente entre ela e Jane, de um lado, e entre ela e o pai, de outro. Esta cumplicidade é relevante para traçar limites entre duas formas de se relacionar com o mundo: uma altamente pragmática, que visa uma sobrevivência imediata (representada principalmente pela mãe e pelas filhas mais novas); outra mais racional e equilibrada, porque também fundamentada na sensibilidade.A cumplicidade entre essas duas irmãs mais velhas será dramatizada no decorrer do filme, como, por exemplo, numa cena no quarto, mais especificamente na cama, antes de dormirem, em que apenas seus rostos ficam à mostra, e elas conversam como confidentes e grandes companheiras. Essa amizade de irmãs, neste filme, se coaduna com o tratamento da questão não só em Razão e Sensibilidade (uma narrativa essencialmente de irmãs), mas também na adaptação de Mansfield Park (com o título, no Brasil, de Palácio das Ilusões).

Ao contrário de outras adaptações de Austen, em Orgulho e Preconceito as músicas e as danças são festivas e alegres, algo que se alinha com certa leveza da narrativa (em oposição, por exemplo, às narrativas de Razão e Sensibilidade, Persuasão ou Palácio das Ilusões). O ritmo da música (e, conseqüentemente, da dança), no entanto, muda quando Lizzy e Darcy dançam. O contraste com as danças anteriores fica explícito. O ritmo mais lento possibilita que conversem; a câmera se demora nos dois, já que precisam ser revelados (não só um ao outro, mas ao espectador). Por um momento, inclusive, cria-se a ilusão de que apenas os dois rodopiam no salão, o que mostra a função da dança como ritual erótico.De modo geral, ainda que em determinados momentos haja exagero (Mr. Collins, por exemplo, soa caricatural), o filme consegue refletir temáticas relevantes da narrativa de Austen; consegue, ainda, em determinadas cenas, uma tonalidade de humor e ironia característica da autora.

No entanto, na tentativa de atrair um público ávido por histórias de amor (e a narrativa romântica é mais facilmente adaptável – ou transferível para a tela – que a crítica social, principalmente quando consideramos o estilo altamente irônico de Austen), esta adaptação também acaba por se definir como “hollywoodiana”, principalmente no tratamento que dá à relação entre Lizzy e Darcy.Para ilustrar a ênfase na relação romântica, tomemos como exemplo as duas cenas em que Darcy se declara a Lizzy. Em Austen, é comum o narrador fazer uso de narração sumária, ou do discurso indireto, exatamente como estratégias para a criação de um distanciamento, para a quebra ou diluição da emoção, em momentos de grande densidade dramática. É o caso no que diz respeito ao desenvolvimento gradual da relação afetiva entre Lizzy e Darcy. Mas não só isso. No romance, na primeira vez em que Darcy declara seu amor a Lizzy, eles estão dentro de casa. No filme, como era de se esperar, há não só a dramatização do diálogo (“showing” em vez de “telling”) e o deslocamento espacial, na medida em que a cena acontece ao ar livre, mas também a utilização de um contexto de trovões e chuva forte, além de uma música que adensa a carga (melo)dramática da situação, o que acaba culminando num imenso clichê romântico.A segunda cena, quando os mal-entendidos entre eles já foram esclarecidos, e Darcy novamente renova seu sentimento por Lizzy, também chama a atenção em termos de construção visual. Aqui, como no romance, o encontro se dá ao ar livre. No entanto, diferentemente do romance, o encontro entre eles se dá de madrugada, algo impensável para aquele contexto pré-vitoriano, principalmente quando consideramos os personagens envolvidos (protagonistas, e, portanto, guiados por certas regras de conduta e racionalidade). É claro que, mais uma vez, a utilização desse espaço acentua a carga dramática (tornando-a romântica) da situação e cria um deslocamento em relação ao contexto de Austen.

A fotografia nesta cena – marcadamente escura, nebulosa, uma escuridão inclusive acentuada pelas vestimentas escuras de ambos – acaba por remeter a um contexto posterior, vitoriano, sendo bem mais adequada aos arroubos e romantismo das irmãs Brontës, por exemplo, que a contenção de Austen. Esses recortes servem para mostrar a escolha ideológica por trás da adaptação. Se, como diz Dudley Andrew, “adaptação é apropriação de significado de um texto anterior” (e um texto pode ter significados variados, ficando a critério do cineasta e roteirista dar maior visibilidade a um ou a outro), fica evidente que a escolha empreendida, neste caso, tentou conciliar a crítica social de Austen à história pessoal de Lizzy e Darcy; porém, ao romantizar (principalmente em termos visuais) a narrativa privada, o filme perdeu a chance de, por exemplo, aprofundar as relações inseparáveis entre o público e o privado em Austen. No entanto, talvez como certo consolo, o final do filme acaba por resgatar, mais uma vez, a tonalidade contida de Austen, através da ausência do beijo e da conclusão do filme sem a cena do(s) casamento(s). De modo que talvez a melhor definição para esta adaptação seja “Hollywood sem beijo”.

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* A prof. Dra. Genilda Azerêdo é professora do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Federal da Paraíba, onde atua nos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Letras. É mestre em Literatura Anglo Americana (Dissertação sobre Virginia Wolf) e Doutroa em Literaturas de Língua Inglesa (com tese sobre as relações entre literatura e cinema, especificamente as adaptações de Obras de Jane Auten).

** Este artigo foi gentilmente cedido pela amiga Genilda Azerêdo, tendo sido publicado inicialmente em revista acadêmica e no blog Correio das Artes. Originalmente, o artigo não possui as imagens acima, sendo de minha responsabilidade adição das mesmas.

Dom Diego debaixo de seu cobertor vermelho…

 

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Somos viciados em Jane Austen - Texto de Adriana Sales Zardini e Laurie Vieira Rigler

Hoje eu vou falar de um assunto que todos nós já percebemos em nosso cotidiano de fãs: somos viciados em Jane Austen! Recentemente conheci a autora Laurie Viera Rigler através de seu site Jane Austen Addict. Laurie escreveu o livro 'Confessions of a Jane Austen Addict' (tradução livre: Confissões de uma viciada em Jane Austen). Laurie gentilmente me autorizou traduzir o texto 'Signs of Addiction' - Sinais de Vício.
Sou viciada em Jane Austen - Sinais do vício
* Você se reconhece em alguma destas situações? Se afirmativo, então é hora de revelar!
* Você se esquece de pegar as roupas na lavanderia, mas consegue recitar de cor e salteado a carta do Capitão Wentworth’s para Anne Eliot.
* Seus amigos carregam fotos dos filhos e outras coisas significantes na carteira, enquanto no seu celular tem uma imagem do Colin Firth como Mr. Darcy (ou Matthew MacFadyen, dependendo do seu gosto pessoal).
* Se sua casa está em chamas, você deixa para trás o álbum de fotos da família e seu computador, mas salva sua bonequinha da Jane Austen, a camiseta do Mr. Darcy e o mapa de Bath.
* Enquanto seus amigos fantasiavam sobre o possível vencedor da Copa de 2006, o seu desejo era estar no encontro anual da Jane Austen Society em Tuscon. Contextualizando para as fãs do Brasil: enquanto seus amigos fantasiavam sobre a copa de 2006, você não via a hora de encontrar suas amigas virtuais no próximo orkontro regional.
* Você está com coisas atrasadas no trabalho, escola, organização da casa (complete o espaço em branco de acordo com a sua situação) porque gasta mais da metade do dia visitando os fóruns sobre Jane Austen discutindo se Fanny Price é o exemplo de moral em Mansfield Park ou se é mais chata personagem da história literária.
* Você gasta a outra metade do seu dia nos fóruns discutindo quem é o Mr. Darcy mais bonitão: Colin Firth ou Matthew MacFadyen.
* O ideal de riqueza dos seus amigos é uma casa nas montanhas de Hollywood. Você daria tudo pela primeira edição de Orgulho e Preconceito ou pelo menos uma edição de capa em couro. Falando sério… qualquer uma de nós ficaria feliz da vida com a coleção da Cambridge.
* Você está em uma multidão, numa boate irritante e alguém lhe convida para dançar, você logo responde: “num lugar como esse, seria insuportável” (referência à fala de Mr. Darcy: “At an assembly such as this, it would be insupportable”).
* Você é propenso a fazer citações de romances e filmes, na maioria das vezes fora do contexto (veja citação acima).
* Para seus amigos fazer alguma atividade física significa caminhar ou praticar yoga. Para você é fazer aulas de dança típica da Inglaterra. Quer dizer, se pudesse arrumaria alguém para ir junto com você! * Sua melhor amiga pensa que você está de brincadeira, apesar de ter visto a última versão de Orgulho e Preconceito duas vezes. Ela, diferente de você, não tem nenhum problema para separar ficção da realidade.* O seu amado lhe diz que encontraria sua marca favorita facilmente na lojinha mais próxima (com certeza ele não acertará) e acha um absurdo ter que andar de loja em loja porque acha desagradável.
* Você tem apelidos secretos baseados nos personagens de Austen para pessoas importantes em sua vida. Até batiza os animais de estimação em homenagem a um dos personagens. O seu chefe, por exemplo, é o Sr. Noris (referência a tia de Fanny em Mansfield Park). A gata de Laurie se chama Georgiana, em homenagem à irmã de Darcy. Seu marido é o Capitão Harville sempre que ele resolve mexer na caixa de ferramentas, constrói uma prateleira ou pendura um quadro. (E ainda por cima, ele tem que referir-se desse modo também, apesar de nunca ter lido persuasão).
* Você julga os atores e suas respectivas atuações nas adaptações para o cinema e TV dos livros de Austen. Por exemplo, Laurie achou bastante desagradável lembrar-se de Persuasão (1995) quando viu o Ciaran Hinds fazer o papel de um pedófilo na série Prime Suspect series. Captain Wentworth nunca faria tal coisa, ela fez uma tempestade em um copo d’água e logo desligou o DVD. Que vergonha!!
*Por favor, envie seus sinais de vício em Jane Austen! Postarei os meus favoritos aqui no blog! Mas espere, tem mais… amanhã farei um post sobre o artigo de Jeanne Kiefer.
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Este post é de direito autoral de Adriana Sales Zardini e Laurie Veira Rigler, se for citar a tradução favor linkar este blog e/ou fazer citação, como abaixo:
ZARDINI, A.S.; RIGLER, L. V. Sou viciada em Jane Austen. Disponível em:
www.janeaustenclub.blogspot.com Acessado em: 13 de janeiro de 2010

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Texto de Carla Milhazes Gomes sobre "Persuasão"

"Persuasão" de Jane Austen
A fortaleza das personagens femininas dos romances de Jane Austen, desponta em toda a sua glória com a heroína de “Persuasão”, Anne Elliot. Por detrás de uma aparência de fragilidade, de submissão incondicional a um pai indiferente e narcisista que vive rodeado de espelhos na mansão da família, e a uma irmã escrava das convenções sociais em vigor, Anne não abdica da sua independência intelectual.Contudo, a personagem Anne Elliot sofre uma evolução nos dois momentos chave da obra. Enquanto jovem requestada por um simples Capitão da Marinha Britânica sem posição social nem fortuna, ela cede ao peso do parecer familiar: Wentworth não era um partido ao nível da fidalguia que o nome Elliot comportava. Apesar do amor que por ele sentia, Anne cede às exigências familiares, deixa-se persuadir por uma ilusão imposta e termina um noivado que nunca chegara a efectivar-se. Oito anos passados desde a decisão que a mortificara, Anne reencontra o Capitão Wentworth devido ao facto de Sir Walter Elliot se ver obrigado a alugar Kellynch-Hall, a casa no Somersetshire desde sempre habitada pela família, ao Almirante Croft e esposa (irmã do Capitão Wentworth), graças a problemas financeiros. E Anne, ao revê-lo e apesar do desinteresse aparente por ele manifestado, persuade-se de que nunca deixara de o amar. E é esta cedência íntima da heroína à inevitabilidade do seu amor por Wentworth que acompanhamos ao longo da quase totalidade do livro.Wentworth mostra-se interessado em assentar, agora que conseguira posição e fortuna consideráveis após várias comissões no estrangeiro, no entanto, o orgulho ferido pela rejeição de que fora vítima, a certeza de que a Anne faltava o carácter necessário para impor uma vontade férrea, levam-no a procurar noiva noutra casa de família onde o seu nome não estivesse manchado pela lembrança de um tão ignominioso repúdio. Assim, Wentworth deixa-se também ele persuadir mas pela convicção de que a sua presença junto de uma certa jovem, era entendida como genuíno interesse e cede à possibilidade de ter de, por uma questão de honra, pedir a mão em casamento a Louisa Musgrove.Preparado que estava para assumir as suas responsabilidades, um incidente com Louisa obriga-a a convalescer na companhia de um amigo de Wentworth e com a ausência deste, um inesperado noivado é dado a conhecer entre ambos. Wentworth estava liberto da suposta obrigação em que se vira enredado.E desta forma, o antigo sentimento que o unira a Anne aflora-lhe novamente ao coração e deixa-se abandonar, persuadido que finalmente estava de que nunca deixara de a amar, ao fito único de a “acompanhar” onde quer que ela se encontrasse.Um feliz desencadear de acontecimentos, provocados por acasos duvidosos (parecendo mais “manipulados” por um braço mecânico que consolida as peças da história por forma a que Anne e Wentworth se encontrassem frente a frente desnudados de preconceitos) provocam a compreensão de ambos os envolvidos nesta história de amor, a compreensão de que é inútil fugir ao sentimento que os avassala e de que os outros são apenas isso: Outros. O tempo é dos que se amam e o amor vence sempre.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Onde vivem os Monstros

A idade da solidão
Baseado em um clássico da literatura infantil, Onde Vivem os Monstros explora o lado maluco — e também o melancólico — da imaginação de um menino
Jerônimo Teixeira
"Que comece a bagunça", grita o menino fantasiado de lobo e com uma coroa na cabeça. Ao seu redor, os monstros – gigantes balofos e peludos, feiosos mas simpáticos – aprovam a ordem do novo rei e disparam a correr pela floresta, derrubando uma ou outra árvore no caminho. É nesse momento anárquico que Onde Vivem os Monstros (Where the Wild Things Are, Estados Unidos, 2009) – filme do diretor esquisitão Spike Jonze, que estreia nesta sexta-feira no país – segue mais fielmente a obra que o inspirou, o clássico infantil homônimo do americano Maurice Sendak. É uma contagiante exaltação das pulsões mais primitivas – perigosas, até – da infância. Parte do fascínio do livro de Sendak vem do modo como ele mimetizou a imaginação de uma criança em toda a sua autossuficiência: a ilha onde vivem os monstros é um universo à parte, no qual os caprichos e vontades do menino Max (no filme, interpretado com cativante sinceridade por Max Records, de 12 anos) reinam soberanos, libertos das exigências adultas de responsabilidade e bons modos. Em seus filmes anteriores, Quero Ser John Malkovich e Adaptação, protagonizados por adultos cheios de angústias e veleidades artísticas, Jonze já transitava por esses recessos isolados da consciência humana. Onde Vivem os Monstros põe a mesma carga existencial sobre os ombros de um garoto. A bagunça que Max e os monstros promovem na sua floresta – significativamente situada em uma ilha – serve para afugentar a solidão. Em teoria um filme para crianças, Onde Vivem os Monstros é, na verdade, um filme sobre a infância, que será mais bem compreendido e apreciado por adultos.
Lançado nos Estados Unidos em 1963 – e só no ano passado publicado no Brasil, pela Cosac Naify –, Onde Vivem os Monstros vem encantando sucessivas gerações de crianças. Vendeu 18 milhões de exemplares no mercado americano. É o livro de um ilustrador, com imagens de um surrealismo exuberante amparadas por uma narrativa simples que se desenvolve em poucas frases. Vestido com uma inexplicável fantasia de lobo, Max promove a arruaça em sua casa e, repreendido pela mãe, ameaça devorá-la, como faria um lobo de verdade. De castigo, é mandado para o quarto, sem jantar – mas o quarto se transfigura em outro mundo, no qual Max veleja em um barco até a ilha onde é coroado rei dos monstros. Ele acaba se cansando da ilha e dos monstros e resolve voltar para "algum lugar onde alguém gostasse dele de verdade". Indiferente às súplicas dos monstros para que fique, navega de volta para casa – e eis aí toda a história.
A solidão da fantasia infantil já se encontrava bem representada no livro, no qual só figuram Max e seus monstros (a mãe não aparece nas ilustrações). Escrito a quatro mãos por Jonze e pelo escritor Dave Eggers, o roteiro expande esse enredo enxuto. Os monstros, que no livro não têm personalidades distintas, ganham cada qual seu perfil psicológico – para ficar em três exemplos, Carol (com a voz de James Gandolfini, ator de Os Sopranos) é caloroso mas instável, KW (Lauren Ambrose) se mostra compassiva e maternal com Max, e Judith (Catherine O’Hara) é autocentrada e mesquinha. Essas criaturas são visualmente notáveis – uma conjugação de técnicas "analógicas" (atores vestidos com fantasias peludas) com a mais eficiente tecnologia digital (utilizada para conferir expressividade ao rosto). Esses seres às vezes se comportam realmente como monstros: ameaçam devorar Max ou se desmembram uns aos outros (não, não é um filme para crianças miudinhas). Como rei da ilha, Max tenta pacificá-los com a promessa de construção de uma cidade-modelo, feita de acordo com maquetes construídas, com insuspeita delicadeza, por Carol. Mas essa utopia pueril segue o caminho de suas congêneres adultas: redunda em fracasso e violência. A imaginação, afinal, também conhece seus limites melancólicos.
As picuinhas entre Carol e KW soam como as discussões de um casal humano separado por um fosso de ressentimento. Reproduzem, pode-se supor, os desentendimentos dos pais divorciados de Max. O filme às vezes se desvia da fantasia que o inspira para demorar-se nesses conflitos domésticos vulgares (tendência que Eggers levou ainda mais longe, até o limite da trivialidade, em Os Monstros, romance baseado no filme, que a Companhia das Letras lançou no Brasil). Também há um momento de constrangedor psicologismo: KW engole Max para escondê-lo do enfurecido Carol e, depois, regurgita o menino através de um canal estreito, do qual ele sai todo melecado. Trata-se de uma alegoria óbvia e desajeitada do parto. A despeito desses defeitos, Onde Vivem os Monstros, com suas criaturas mal-educadas e barulhentas, oferece ao espectador a chance de revisitar o lado mais indômito da infância. Toda a sua alegria selvagem, porém, esbarra em uma conclusão meio tristonha: não se pode viver para sempre nas ilhas da imaginação.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Persuasão, reencontro de Anne e do Capitão Wentworth

E assim foi. Dois minutos depois do aviso de Charles, os outros apareceram; elas estavam na sala de visitas. Os seus olhos encontraram-se com os do comandante Wentworth; uma vênia, uma cortesia. Ela ouviu-lhe a voz - ele falava com Mary; disse as palavras corretas; disse algo às Meninas Musgrove, o suficiente para indicar que estavam de boas relações; a sala parecia cheia - cheia de pessoas e vozes, mas tudo terminou passados poucos minutos. Charles apareceu à janela, estava tudo pronto, o visitante tinha feito uma vênia e saído; as meninas Musgrove também se foram embora, tendo decidido subitamente ir com os caçadores até ao extremo da aldeia, a sala ficou vazia, e Anne tentou terminar o pequeno-almoço o melhor que pôde.
- Já passou! Já passou! - repetiu para si própria, numa gratidão nervosa. - O pior já passou.
Mary estava a falar, mas ela não conseguia prestar atenção. Ela vira-o. Tinham-se encontrado. Tinham voltado a estar na mesma sala!

sábado, 2 de janeiro de 2010

Persuasão, quando Anne e o Capitão Wentworth se conhecem


Não era o Sr. Wentworth, o antigo cura de Monkford como as aparências poderiam levar a supor, mas sim um capitão Frederick Wentworth, seu irmão, que, tendo sido promovido a comandante em sequência de uma batalha ao largo de São Domingos e não tendo sido imediatamente destacado, viera para Somersetshire no Verão de 1806; e, como já não tinha os pais vivos hospedara-se, durante meio ano, em Monkford. Ele era, nessa altura, um jovem esplêndido, muito inteligente, activo e brilhante; e Anne era uma rapariga extremamente bonita, meiga, modesta e com bom gosto e bons sentimentos. Metade da atracção sentida por cada uma das partes teria bastado, pois ele não tinha nada que fazer e ela não tinha praticamente ninguém para amar, mas a confluência de tão abundantes qualidades não podia falhar. Foram-se conhecendo gradualmente e, depois de se conhecerem, apaixonaram-se rápida e profundamente. Seria difícil dizer quem vira a maior perfeição no outro, ou qual deles se sentira mais feliz, se ela a receber as suas declarações e propostas, se ele ao vê-las serem aceites.