O EXEMPLO ASIÁTICO - A China mostra que a ideia de que não pode haver educação de alto nível em cenário de pobreza é balela. No último Pisa, a província chinesa de Xangai, que tem nível de renda per capita muito parecido com o brasileiro, deu um show (Philippe Lopez/AFP)
Capítulo 2 – A Escola
Fui para a China em outubro, já esperando ver escolas diferentes da realidade brasileira, por tudo o que havia lido a respeito e pelo próprio resultado do PISA. Em dez dias de viagem – dois dias em Pequim, uma semana em Xangai e um dia e meio em Shenzhen, todas na região leste (a mais desenvolvida) do país – visitei cinco escolas (mais duas escolas técnicas e três universidades, sobre as quais escrevo nas páginas a seguir). Mas mesmo todo o preparo não foi suficiente para, de início, afastar a impressão de que tudo aquilo que eu estava vendo era uma farsa, uma campanha de propaganda cuidadosamente elaborada pelo governo chinês para iludir esse forasteiro. Foi só depois de conseguir visitar escola sem o conhecimento ou consentimento do governo, de checar os rankings das escolas visitadas e de falar com uma série de alunos e ex-alunos chineses que me convenci de que o que estava vendo era uma boa representação da realidade. Se não de toda a China – porque o Oeste do país é profundamente mais atrasado que o leste, e em muitas províncias a situação é de pobreza extrema – pelo menos naquilo que ocorre nas três províncias que visitei. O contraste com uma escola brasileira é gritante.
A primeira diferença é do espaço físico, especialmente da limpeza e do cuidado. A maioria das escolas que visitei não tinha nada muito sofisticado ou diferente, mas também não tinham nada fora do lugar ou improvisado. Os pisos das escolas eram imaculadamente limpos, e em duas ocasiões presenciei algo que nunca vi no Brasil, nem no tempo de estudante e nem em visitas a escolas: o diretor ou vice-diretor que nos acompanhava se agachando para recolher um pedaço de papel caído. Os prédios são parecidos com os de muitas escolas brasileiras, ainda que um pouco mais verticalizados. As escolas têm três ou quatro andares. São escolas grandes, a maioria com mais de mil alunos. O sistema chinês é dividido em três níveis: o “Elementary”, do 1º ao 6º ano; “Middle”, do 7º ao 9º, e o “High School”, de três anos. Em Xangai há uma leve alteração: 5-4-3 ao invés de 6-3-3.
Não visitei nenhuma escola que tivesse os três níveis. A maioria tinha apenas um nível, ou no máximo dois (middle e high). Em algumas escolas cada série ocupava um andar. Essa organização do espaço é relevante. Pois em cada andar há uma sala de professores, e essa divisão permite que professores das mesmas séries estejam em contato frequente e tenham a formação do seu grupo de estudos facilitado (veja o capítulo 3). A sala de professores não tem nada a ver com esse espaço social e descontraído dos colégios brasileiros: em Xangai, cada professor tem o seu cubículo, em que guardam livros e materiais de sua disciplina e onde também há um computador, onde preparam o material de aula (sempre da marca Lenovo, empresa chinesa que adquiriu o negócio de PCs da IBM).
Ana Clara Pereira de Freitas, de 7 anos, filha de diplomatas brasileiros: “Na escola que eu frequentava, no Rio de Janeiro, o trabalho de casa era uma folhinha de papel e acabou."
O mais marcante, porém, são as salas de aula. O espaço físico é parecido com as congêneres brasileiras, em termos de dimensão e formato. A parede frontal também é ocupada por um quadro negro, depois vem a mesa da professora e as carteiras e cadeiras dos alunos. Não há grandes aparatos tecnológicos, decorações, apetrechos etc. Tudo bastante simples. Só há três diferenças em relação às nossas salas de aula. A primeira é que, tanto em Xangai quanto Pequim, há uma bandeira da China sobre todo quadro-negro. A segunda é que há um data show, através do qual os professores mostram material didático através de apresentações de Power Point. O terceiro é que há vassoura e pá ao fundo de todas as salas: cabe aos alunos a limpeza do seu ambiente. Há equipe de limpeza nas escolas, mas elas só tomam conta das áreas comuns.
Acompanhei várias aulas de várias séries diferentes. Todas começam da mesma maneira. A professora não se atrasa, nem os alunos. A professora, de pé, então se inclina em direção à classe e diz: “bom dia, alunos”. Os alunos então se levantam, se inclinam em direção à professora e, em uníssono, respondem: “bom dia, professora”. Eles então se sentam e a aula inicia.
Não há chamada nas aulas chinesas. Cada turma tem um professor que é designado o seu “head teacher” (professor responsável, em tradução livre), que deve ter um contato mais aprofundado com aquela turma, conhecer seus alunos, suas famílias etc. Uma vez por dia, em horário aleatório, o professor responsável passa pela turma e vê se tem alguém faltando. Se há, ele deve ligar para seus pais para saber o que está acontecendo. Caso todos estejam lá, o professor dá uma espiada e vai embora. É um detalhe simples, mas pense em seu efeito. Se você tem oito períodos por dia e gasta, digamos, três minutos fazendo chamada, quase meia hora de aula do dia terá sido desperdiçada com esse ritual. Ajuda o fato de que quase ninguém falta, claro. Nem alunos, e muito menos professores.
No meu primeiro dia na China, em Pequim, conversava com uma diretora de escola, Cui Minghua, 55. Perguntei a ela se o absenteísmo de professores era um problema sério. Ela me olhou algo incrédula, conferiu a pergunta com a tradutora. Pra simplificar, perguntei quantos professores, em média, faltavam num determinado dia (a escola é muito grande, com mais de 4 mil alunos em sete campi). “Nenhum”, ela me disse, ainda sem entender muito onde eu estava querendo chegar. Então lhe expliquei que em muitos lugares do Brasil o absenteísmo de professores era um problema sério, que causava o cancelamento de aulas, a perda de ritmo de ensino etc. A sra. Cui me pareceu um pouco incrédula, e me contou a sua história para explicar o porquê de sua incompreensão. Ela estava na carreira há 32 anos, sendo mais de 20 deles como professora. Em todo esse tempo, tirou uma licença médica para realizar uma operação, mas fora isso não teve falta nenhuma, em nenhum ano. Nessa escola, chamada Fang Cao, fui ao campo de futebol para acompanhar a sessão de exercícios físicos realizada pelos alunos com precisão militar.
Descobri que havia dois alunos brasileiros lá matriculados, que me foram apresentados. Ana Clara Pereira de Freitas, carioca de 7 anos, e Giovanni Iduino, seu conterrâneo de 10, são filhos de diplomatas e estão na China há pouco mais de um ano. Nenhum deles mostrou alegria especial por estudar em escola conduzida por diretora que não falta ao trabalho há trinta anos. “No Rio, trabalho de casa era fazer uma folhinha de papel e terminou. Aqui eu volto pra casa às 3 da tarde e preciso ficar fazendo dever de casa até o jantar”, disse Ana. Giovanni confirma a dureza. “Tô estudando aqui no 4º ano coisas que não estudaria no Brasil nem no 6º. E num dia em que eu faltei à aula, a professora me perguntou se achava que por ter faltado ia poder pular a matéria. Aí ela me mandou mais trabalho de casa pra recuperar a ausência e me obrigou a ficar trabalhando no horário do almoço”. Ambos querem voltar ao Brasil.
O sistema é realmente organizado para que o tempo seja utilizado de forma efetiva. As aulas têm quarenta minutos de duração e dez minutos de intervalo entre elas, ao contrário do sistema brasileiro, em que a maioria das escolas adota aulas de 50 minutos, sem intervalos, exceto o recreio. Como os professores precisam mudar de aula (na China também), é óbvio que esse horário é inexequível. O professor brasileiro sempre vai chegar na aula atrasado, e como o atraso é inevitável e sua duração é incerta, o professor tem a liberdade de demorar o que achar necessário, e os alunos podem fazer a balbúrdia que bem entenderem. Na escola chinesa, os horários são cumpridos à risca, e os alunos sabem quando a descontração começa e quando ela terá de terminar. Quando a professora chega à aula, todos estão prontos para começar a lição.
A primeira coisa que chama a atenção nessas aulas é a disciplina. Para um ocidental, e ainda mais brasileiro, parece até exagerada. A separação entre as carteiras é milimétrica, e todas as mesas estão perfeitamente alinhadas em relação à parede frontal. As cadeiras, por sua vez, também estão alinhadas com as carteiras, e todos os alunos sentam de frente para o quadro negro, costas eretas e pernas dentro de suas mesas. Sobre estas, todos têm o mesmo material: estojo, caderno e, quando usado, livro didático. Na maioria das classes que visitei havia entre 30 e 35 alunos, mas a média de Xangai é mais alta, de mais de 40 alunos no middle school e 38 no high school . Sempre que o espaço permitia, cada aluno sentava sozinho. Nas aulas menores ou mais numerosas, sentavam em pares. No interior da China, sabe-se que chega a haver até 60 alunos por sala, e aí há arranjos em que até se formam trios.
O que mais chama a atenção é que não há “turma do fundão”, conversas paralelas ou problemas de disciplina. Não vi um único aluno pedindo para ir ao banheiro nem, muito menos, celular tocando. Em quase todas as aulas que presenciei, a professora tinha o total domínio da situação e mantinha a atenção de todos os alunos, todo o tempo. Pra quem está acostumado com salas de aula em que uma minoria costuma prestar atenção e vários outros grupelhos paralelos se formam, cada qual falando sobre o seu assunto, foi incrível ver uma sala assim. Também já cansei de ver, no Brasil, professores que claramente não planejaram o seu tempo e não têm a menor idéia de como preencherão aqueles cinquenta minutos, e acabam ocupando esse tempo com chamada, avisos, repreensões, lições de moral ou, na variação menos nociva, entupindo o quadro negro de texto para que os alunos copiem ou pedindo a eles que leiam algum texto do livro didático, hábitos que no Brasil são confundidos com dar aula. Nas aulas chinesas, o valioso e escasso tempo de contato entre professores e alunos é usado para ensinar. A organização da aula costuma ser assim: a professora começa recapitulando onde pararam e o que aprenderam na aula passada, rapidamente. Depois explica o conteúdo novo. Então faz alguns exercícios, com o auxílio do data show, em que a idéia subjacente ao conteúdo é explicitada e testada.
Sempre que possível, esses exercícios são feitos repetidamente, sob prismas diferentes, pra ter certeza de que o aluno entendeu o princípio e não apenas se tornou um resolvedor de problemas. E os exemplos usados eram, várias vezes, ligados a temas de interesse dos alunos. Assim, por exemplo, quando estive em uma aula de Matemática da 3ª série e a professora queria ensinar a calcular o perímetro de uma superfície, ela usou o exemplo de uma quadra de basquete, um dos esportes mais populares do país. Mostrou que aquela quadra tinha 28 metros de largura por 15 de altura, e então ensinou como o perímetro podia ser derivado: somando-se todos os lados (28+15+28+15), somando a altura com a largura e multiplicando por dois [(28+15) x 2] e duplicando cada lado para depois somar [(28x2)+(15x2)]. Abre-se então uma sessão de perguntas e respostas, que tem um ritual peculiar: quando a pergunta é feita, várias mãos costumam ser erguidas. Os alunos têm ânsia de participar. E todos levantam a mão exatamente da mesma maneira: o braço é levantado na altura do ombro, paralelo à mesa de cada um; o cotovelo é flexionado em um ângulo reto e a mão, espalmada em direção à parede lateral da sala. Quando um aluno é selecionado pelo professor, ele ou ela se levanta antes de responder e se senta logo depois. Depois desse momento, costuma haver um tempo em que os alunos trabalham sozinhos, fazendo exercícios. Perto do fim da aula, a professora corrige alguns desses problemas, normalmente pegando os cadernos de alunos com dificuldades e os mostrando a todos, mesmo que tenha erro. Se aquele aluno estiver errado, alguém com a resposta certa será encontrado e explicará a resposta certa para a turma. E, importante, a professora volta ao aluno que havia dado a resposta errada e fica com ele para ter certeza de que entendeu onde errou e como a resposta certa diferia da sua. O circuito é fechado.
Esse microcosmo mostra três dimensões importantes da educação chinesa: disciplina, transparência e foco no aprendizado de todos os alunos.
A disciplina é visivelmente ensinada pela escola. Não é possível imaginar que crianças e adolescentes tenham um impulso natural de se levantar para responder uma pergunta ou que levantem o braço, espontaneamente, na mesma altura. Uma série de programas da BBC chamado Chinese Schools, disponível no youtube, mostra como o processo pode ser cruel: um aluno é chamado à frente de seus colegas para se penitenciar e desculpar por ter a borracha mais carcomida da sala. Ele se confessa perdulário e promete cuidar melhor do seu material no futuro. O meliante tem 7 anos de idade, e não segura o choro quando a aula termina. Essa disciplina também é reflexo de uma educação inserida em um sistema político repressivo, e claramente tem funções de controle social que vão além dos interesses escolares. Mas é reconfortante notar que as próprias autoridades educacionais chinesas, nos níveis mais altos, como o Diretor Geral de Políticas Públicas do Ministério da Educação, Sun Xiaobing, a quem entrevistei, sabem que essa disciplina excessiva acaba criando profissionais que talvez possam ter sido bons operários do sistema fabril dos séculos XIX e XX, mas que não suprem as demandas de flexibilidade e criatividade que o século XXI demanda.
Há uma iniciativa coordenada, em todos os níveis de governo, para relaxar esse controle e formar pessoas mais inquisitivas e criativas para a Economia do Conhecimento. Como o PC chinês obterá esse triunfo educacional-econômico sem perder a hegemonia política é assunto para o artigo O século 21 será da China? Por outro lado, a constatação desses exageros não obscurece uma conclusão inescapável: sem um mínimo de disciplina e ordem, em que o professor possa se fazer ouvir, não é possível dar aula. E sem um sistema em que todos os alunos são ativamente envolvidos pelo professor e em que os grupos, conversas ou interesses paralelos são dissolvidos, não é possível haver disciplina. Como no Brasil ainda se confunde ordem com autoritarismo, a desordem também é confundida com liberalidade, e dessa bagunça não sai aula que preste.
O caso do caderno dos maus alunos sendo exibido é um exemplo da transparência radical que permeia o sistema. Os resultados mensais dos alunos são exibidos para toda a comunidade escolar. Todo aluno sabe como está o seu desempenho em relação aos seus colegas de turma e de escola. Em um sistema muito competitivo e justo, essa transparência é quase indispensável. Porque a educação chinesa é uma corrida constante, em que apenas os melhores e mais esforçados alunos conseguem chegar às boas universidades.
O sistema começa igualitarista: todas as crianças de um bairro vão para a escola daquela área. Ao final do nível elementary, no 5º ano, há um teste, e para aqueles alunos (ou seus pais) que querem ir para escolas públicas melhores ou privadas no nível middle, o resultado desse teste é importante para conseguir essa melhor colocação. Esse teste não causa grande consternação à maioria dos alunos porque seu resultado não é excludente: mesmo os maus alunos continuarão no sistema e irão para a middle school mais próxima de sua região. Ao final da middle school, no 9º ano, vem o primeiro teste realmente importante, o jun kao. Feito em todo o país, ele determina a high school que o aluno poderá frequentar. Ao fazer o teste, o aluno marca suas 15 escolas preferidas, sendo que pelo menos 14 precisam ser do seu distrito. A escola em que o aluno poderá entrar será determinada pelo resultado dessa prova. Os melhores alunos querem ir para as chamadas “key schools” (escolas-chave). Cada distrito tem pelo menos uma escola-chave, mas também há as escolas-chave da cidade, da província e, no topo da pirâmide, as de nível nacional. Essas escolas recebem os melhores alunos, o governo coloca os melhores professores e devota a elas mais recursos. Oficialmente, de uns anos pra cá, não há mais escolas-chave e todas são tratadas igual, mas é um pouco como o regime de castas na Índia: o governo pode as ter abolido, mas todo mundo sabe quem é da casta dos brahmins e quem é dos intocáveis. Apesar de supostamente não existirem mais nas políticas públicos, alunos, pais e professores ainda usam o termo escola-chave e sabem perfeitamente quais elas são.
Quem vai bem no jun kao pode ir para uma high school chave, o que aumenta significativamente as chances de ir bem no gao kao e consequentemente entrar em uma universidade top. Quem tem um desempenho mediano segue sua vida acadêmica, sabendo que as portas das melhores universidades dificilmente se abrirão. E, por último, quem tem desempenho ruim no jun kao é obrigado a ir para uma escola vocacional/técnica, que conduzirá ao mundo do trabalho ou, na melhor das hipóteses, a uma faculdade técnica.
Como o número de alunos das escolas técnicas não é pequeno – na China como um todo, 47% da matrícula no ensino médio está em escolas técnicas/vocacionais – e, por outro lado, a competição para entrar na universidade é muito acirrada, não dar ao aluno e seu pai a noção exata de onde ele se encontra durante o decorrer de sua vida escolar e quais são suas reais perspectivas seria quase criminoso. Ademais, ajuda o fato de que a transparência é para todos: também os professores recebem notas que são divulgadas entre seus colegas, e também cada escola é ranqueada em seu distrito e tem sua posição divulgada publicamente. O aluno não tem razão para se sentir injustiçado ou perseguido, portanto: o sistema é o mesmo para todos.
O que contrabalança toda essa cobrança e rigor é o inegável compromisso de todos os educadores chineses – do professor primário da escola do interior ao ministro – com o efetivo aprendizado de todos os alunos e com o seu bem-estar em geral. A China ainda ostenta um forte sentimento de patriotismo e de comunidade. Não foram poucos os alunos com quem conversei que disseram ter vontade de ficar no país para ajudar a construir um projeto coletivo de futuro. Um mestrando me disse explicitamente que recusaria ofertas salariais mais altas de empresas estrangeiras, para poder ficar no país. O sentimento de lealdade familiar e, por extensão, à coletividade mais ampla está arraigado na cultura chinesa de uma maneira que é difícil para um ocidental compreender. É paradoxal que um país de 1,3 bilhão de habitantes se comporte de modo algo provinciano, como uma grande família, mas é verdade. E em nenhuma área esse desvelo é mais evidente do que na educação, que representa um enorme esforço dos chineses adultos para com a próxima geração. Hejio Jiang, 14 anos, é aluna da escola de Xangai que visitamos em segredo.
Ela estuda muito e está um pouco nervosa com o jun kao. Me contou um sonho recente: que começou a chover doces em sua sala de aula. Ela é aluna top 5 da sua aula e top 15 da sua série. Ano passado, suas notas subitamente caíram, e ela ficou em 36º lugar na série. Sua professora a chamou para uma conversa particular. Não para cobrar, reclamar ou dar bronca, mas para saber o que estava acontecendo. Quis saber como andavam as coisas em casa, se havia brigas, como andava o trabalho do pai etc. Quis entender o que estava acontecendo e se colocou à disposição para ajudar. Notando que não havia nenhum problema familiar, entrou em contato com os pais e, juntos, trabalharam para que Jiang voltasse a ser uma aluna top, o que efetivamente aconteceu. Os cuidados também se manifestam nas áreas mais simples, como o físico. Nessa escola, me chamou a atenção que 16 dos 25 alunos de uma turma que visitei usavam óculos. Perguntei ao diretor que nos acompanhava se a escola fazia testes visuais. Ele me explicou que não apenas aquela escola, e não apenas testes de visão: em todas as escolas da China todos os alunos passam por um exame físico básico a cada ano. Médicos e enfermeiros vêm à escola e passam um dia examinando os alunos, verificando visão, audição e saúde geral. Confirmei a informação nas outras escolas em que visitei.
Na mesma escola, quando estávamos entrando em uma aula de artes da 6ª série, uma aluna estava chorando e com dificuldade de caminhar por conta de uma queda que havia machucado seu joelho. Imediatamente uma professora veio ficar com ela, confortou-a, pegou-a pelo braço e a ajudou a caminhar para longe dali. Uns quinze minutos depois, a mesma professora voltou com a aluna, já recuperada, e a entregou à sua sala de aula. Me veio à mente uma escola que visitei em Goiânia, em que os alunos faziam um verdadeiro vale-tudo de pancadaria no horário de recreio. Um deles veio, com o pé ensangüentado, na direção da coordenadora pedagógica que conversava comigo. Ele pedia atendimento, mas ela não interrompeu o seu discurso sobre como eles estavam comprometidos com a formação do cidadão integral. Resignado com a desatenção, o aluno cuspiu em seu próprio pé para tirar o sangue e voltou para sua aula. Há milhares de professores brasileiros comprometidos com seus alunos e apaixonados por eles, que se importam profundamente com seu futuro. Mas há outros tantos que adotam a postura cínica manifestada pela diretora de escola interpretada por Judi Dench no filme “Notas sobre um Escândalo” , que dá a seguinte dica à professora novata: “A gente aprende que educar é controlar as massas. Nós somos uma ramificação do serviço de assistência social. Console-se com os bons alunos. O resto é rezar e controlar o rebanho.”
Na China, não vi esse cinismo – nem em minha visita, nem nos programas de TV ou livros de relatos feitos por estrangeiros. O sistema realmente se importa com cada aluno. Essa talvez seja, em síntese, a razão do sucesso da educação chinesa: ela combina a competitividade dos americanos com o cuidado e amparo dos melhores sistemas europeus. A competição, sozinha, tem gerado comportamentos antiéticos e a seleção e priorização dentre o alunado. E os sistemas sem nenhuma competição e cobrança, em que tudo é oferecido e pouco é exigido, acabam se tornando complacentes. O Brasil não faz nenhum dos dois – bane a competição por inclinação ideológica, e o fracasso acadêmico dos alunos mostra que a preocupação com sua formação é conversa mole. A China está conseguindo unir as duas vertentes. Pode cobrar e exigir muito do aluno porque ele sabe que é pro seu bem, que o sistema visa os seus interesses. E também porque o sistema é justo. Não apenas cobra de todos os alunos, mas cobra ainda mais de seus professores.
Capítulo 3 – Professores
Wei Du, professora de engenharia química de Tsinghua
A excelência dos professores chineses é 1% inspiração e 99% transpiração. Os próprios oficiais da China admitem que a formação de seus professores não tem nada de especial. É o que acontece depois que o professor sai da faculdade que o transforma, e a metodologia para isso é basicamente a mesma aplicada aos alunos: muito trabalho, monitoramento constante, competição misturada com apoio e um sentimento de coletividade.
Não há nada de especial com a carreira de professor em Xangai. O salário não é exatamente atraente. Nos três primeiros anos de carreira, fica entre 30 e 40 mil yuans por ano, ou algo entre 400 e 500 dólares por mês , o que é perto da metade da renda média do habitante da região. Nessa fase, muitos professores recorrem a outros trabalhos para complementar a renda. Os melhores podem até dobra-la dando aulas particulares ou em escolas de reforço. Os professores de nível médio recebem praticamente o dobro, 72 mil yuan/ano. E os professores top recebem 90 mil. Todos esses profissionais ainda podem receber bonificações, decididas por suas escolas, que não chegam a 40% do valor do salário. Grosso modo, o salário do professor vai de 0,5 a 1,5 vezes o PIB per capita de sua região. No Brasil, o salário médio é de 1,4 vezes o PIB per capita nacional. Lá, assim como cá, ninguém se torna professor pelo salário.
Conversei com muitos professores e também com alunos de graduação e mestrado na área de magistério, e as razões apontadas por elas (também na China a maioria dos docentes é do sexo feminino) são parecidas com aquelas mencionadas no Brasil: gostam de lidar com crianças, a carreira é estável, têm professores na família e/ou cresceram admirando a profissão. Os alunos mais ambiciosos não querem ser professores, e quando perguntei a um aluno do curso de magistério, Xu Xiao, 24 anos, o que seu pai achara de sua decisão de carreira, sua resposta foi seca: “sem comentários”.
Os cursos de formação de professores não são muito especiais ou inovadores. Duram quatro anos e sua carga horária é dividida assim: metade do tempo é devotado ao ensino da matéria que o futuro professor ensinará (professor de Matemática estuda Matemática etc.), 20% a 25% do tempo é gasto com matérias gerais (Inglês, Chinês, Política, TI), 20% a 25% com cursos gerais de educação (Pedagogia, Psicologia e didática para ensinar a matéria específica que o futuro professor ensinará) e o restante com disciplinas opcionais. Há três diferenças principais entre a formação dos professores brasileiros e chineses. A primeira é que, na China, a prática de sala de aula se faz muito mais presente do que no Brasil. Ela começa já no segundo ano do curso, quando o futuro professor acompanha aulas em escolas regulares duas vezes por semana durante oito semanas. Depois, o aluno devota o penúltimo semestre do curso a estágio em uma escola, e no último semestre do curso ele precisa refletir sobre essa experiência e escrever a respeito. No Brasil, apesar desse período de estágio e reflexão estar em lei, ele não costuma ser cumprido com muita seriedade, como apontou pesquisa recente da Fundação Victor Civita. A segunda é que as escolas chinesas são mais pragmáticas e diversificadas na escolha de seus pensadores pedagógicos de referência. Há um esforço constante de se abrir ao mundo e ver o que funciona, e pinçar de cada lugar as melhores idéias. O Brasil ainda é primordialmente construtivista, e Piaget tem influência desproporcional em nossos cursos.
Finalmente, diferimos no papel da ideologia. A propaganda ideológica é explícita na China, e a louvação do país, suas lideranças e seu sistema transparece abertamente nas aulas de política a que os futuros professores são expostos. Mas ela é restrita a esse momento e não contamina as demais áreas, assim como o fato de a China ser oficialmente República Popular da China e ser comandada há décadas por um único partido, o Comunista, não faz com que ninguém se iluda quanto ao fato de o país ser um dos mais capitalistas e menos republicanos do mundo. No Brasil, a ideologia contamina todas as áreas do saber ministrado nesses cursos, que não pode ser “neutro”. E, ao contrário dos companheiros chineses, os futuros professores brasileiros se convencem dessa pregação e a propalam por livre e espontânea vontade aos seus alunos. As universidades chinesas entregam professores competentes ao mercado escolar; o que os torna excepcionais é o que vem a seguir.
Antes de poder dar aulas, o futuro professor precisa passar por um processo de certificação, através de prova. Isso é assim para todo o país. Em Xangai, o funil continua. O candidato deverá fazer um teste de teoria educacional, escrito, que tem entre 150 e 200 perguntas. Se passar nesse teste, vai para uma entrevista com as autoridades da província. Aliás, não é bem uma entrevista, mas uma prova de fogo. Os entrevistadores são funcionários da secretaria da Educação local e escolhem um assunto, dentro da disciplina na qual o candidato se formou, e pedem para que ele prepare uma aula. O candidato tem 50 minutos para prepará-la. Passando por essa fase, ele tem então exame físico e psicológico. Ao final desse processo, ele então está liberado para negociar com uma escola que o contrate.
A maioria dos contratos para novos professores são de apenas um ano. Durante esse ano, o novo professor será acompanhado de perto. Ele precisa submeter ao diretor de sua escola o plano de aula de todas as lições, ou ele será acompanhado em todas as aulas por um professor mais velho ou alguém da direção. Em algumas escolas, ambas as coisas. A liberdade ao professor é uma conquista, não um direito: ela só vem depois de sua competência ser comprovada em sala de aula. Depois desse ano probatório, o professor é então efetivado, normalmente em contratos de três anos que, se renovados, podem chegar a cinco anos. Não há contratos vitalícios ou estabilidade no emprego, ainda que, na prática, muito poucos professores veteranos sejam demitidos.
Parece bastante trabalho, mas o grosso do esforço vem quando o professor é efetivado. Aí ele passa a integrar um “grupo de estudos dos professores”, que é sem dúvida a inovação mais importante da educação chinesa, que está presente em todas as escolas do país, em todos os níveis, até mesmo na educação técnica. Cada professor faz parte de três grupos de estudo. Um com os colegas que ensinam a mesma matéria para a mesma série. Esse se encontra uma vez por semana para preparar as aulas juntos. O segundo grupo é formado pelos colegas de disciplina de todas as séries da mesma escola. Esse se encontra duas vezes ao mês. O terceiro é formado pelos professores da mesma disciplina e série do seu distrito (Xangai tem 18 distritos, cada um com população média de 1 milhão de pessoas). Esse grupo também se encontra duas vezes por mês.
Nesses dois últimos grupos, o objetivo é compartilhar práticas de ensino de sucesso. As reuniões normalmente têm o formato de aulas abertas, “master class”: os melhores professores da escola (e, no terceiro grupo, do distrito) dão uma aula a todos os seus colegas, como se esses fossem estudantes. Os professores na platéia assistem à aula e depois se dividem em grupos para comenta-la e dar feedback ao professor-mestre.
Somando os três grupos, é um regime exigente e que demanda muito tempo: são duas reuniões por semana, toda semana. A maioria desses encontros leva entre duas e três horas. No primeiro grupo, congregando os professores da mesma série, há um professor-líder, normalmente mais experiente. Esses grupos cumprem algumas funções importantíssimas.
A primeira é de espalhar as boas práticas e fazer com que os professores de uma região conheçam qualquer boa idéia ou inovação praticada por um de seus colegas. Isso faz com que a qualidade da aula ministrada em cada turma seja, efetivamente, a melhor aula disponível em toda a região. E as melhores aulas de cada região são vistas pelos representantes de toda a província, que se encarregarão de espalha-la para todos os outros distritos, através de material didático, artigos ou seminários. Essa é uma diferença radical em relação à educação brasileira. Apesar de nossas escolas também serem, nominalmente, parte de uma rede, em realidade cada unidade é um universo paralelo, que funciona de acordo com as vontades de seus diretores e professores. Na mesma Goiânia da escola da pancadaria e aluno ensangüentado, que tinha IDEB 1,2 (em uma escala de 0 a 10 que mede a qualidade da escola), havia uma escola com IDEB 7,1, com aulas efervescentes, alunos interessados e professores e diretora comprometidos. Essas diferenças são da vida, mas o mais incrível é o seguinte: as duas escolas estão separadas por não mais de dez minutos, atendem públicos de perfis semelhantes, fazem parte da mesma rede (a municipal) e seus profissionais ganham o mesmo salário. Sabe quantas vezes o pessoal de uma escola tinha falado com a outra? Zero. Nunca. Uma escola de nível subsaariano é vizinha de uma escola de nível europeu e não se beneficia em nada de todos os anos de aprendizados, esforços e vitórias da escola boa. É vergonhoso. Na China, elas estariam em contato constante, e sua diferença de qualidade certamente seria menor.
A segunda função importante dos grupos de estudo é de controle. De uma forma suave e furtiva, todo professor chinês é constantemente monitorado por seus colegas. Digamos que um professor de Física, por exemplo, não domine bem a segunda lei de Newton e deva ensina-la a seus alunos. O que acontece? No Brasil, depende da boa vontade do professor. Se for uma pessoa comprometida, vai voltar aos livros para estudar, vai fazer um esforço para procurar outro professor e se aconselhar. Se, pelo contrário, for pessoa menos séria, o professor dará uma má aula sobre o assunto, ou nem o ensinará. O aluno ficará com a lacuna naquele conhecimento pelo resto da vida, ninguém ficará sabendo da deficiência do professor e estamos conversados. Como o professor tem estabilidade no emprego e a maioria dos seres humanos prefere trabalhar menos e se divertir mais, o arranjo institucional estimula a preguiça e o descompromisso. Na China, o que aconteceria com esse mesmo professor? Se ele decidisse dar um “dane-se” a Newton e não viesse preparado para a reunião de seu grupo na semana em que o assunto seria ensinado, provavelmente sofreria um tremendo embaraço frente a seus colegas. Em último caso, o assunto poderia chegar ao diretor da escola, que poderia rescindir o contrato com o professor ou, dependendo das suas cláusulas, simplesmente não renova-lo. De forma que ou o professor se esforça e aprende ou, no limite, será desligado. Quem sofre com a irresponsabilidade docente é o docente, não o aluno.
A terceira função dos grupos é dar amparo e acolhimento aos professores. Tanto em termos pedagógicos quanto emocionais. Digamos que esse professor que desconhece a segunda lei de Newton seja bem intencionado, volte a estudar o assunto mas, mesmo assim, continue sem muita firmeza em relação ao tema. Ele sabe que será ajudado por pessoas que estão inseridas na mesma realidade que ele, e é provável que pelo menos algum membro do grupo domine melhor o assunto e possa dar dicas de como ensina-lo. Como o grupo se reúne toda semana, ele vai resolver o problema antes que ele aconteça. Talvez naquela quinzena verá esse assunto debatido e ensinado pelo melhor professor do seu distrito, fazendo com que sua aula deixe de ser mediana e passe a ser muito boa. O professor não precisa recorrer a amigos ou conhecidos ou vasculhar na internet por alguém que ele nunca viu na vida. O exercício da docência, na China, é efetivamente uma tarefa compartilhada, que os professores constroem juntos, um se aproveitando das virtudes do outro, até que todo o sistema convirja para as melhores práticas de cada assunto.
Isso é muito diferente da dinâmica no Brasil e, aliás, na maioria dos países ocidentais, em que cada professor opera por conta própria, sente-se isolado, não tem a quem recorrer em caso de problemas e continuará dando a mesma aula, ano após ano, sem saber que talvez o colega de classe dá uma aula excelente sobre o mesmo assunto.
Suspeito que esse pertencimento e essa vida em grupo, apesar da carga de trabalho adicional que gera, seja a responsável também pela melhor saúde emocional dos professores chineses. No Brasil e outros países ocidentais, são freqüentes os afastamentos de professores por motivo de depressão, estafa, problemas de voz, “síndrome de burnout”. Esgotamento, enfim. Na China, quando perguntei para professores e diretores sobre o assunto, era como se perguntasse sobre o problema de tsunamis para quem mora a mil quilômetros da costa: eles sabem que existe, já ouviram falar, mas não é algo que lhes afete ou preocupe. Quando o professor chinês tem problemas, sua primeira linha de defesa não é o consultório psiquiátrico, mas a sala dos professores e, depois, o diretor de sua escola.
Outra característica importante do sistema de Xangai diz respeito à carreira do professor. No Brasil, todas as discussões sobre plano de carreira são sobre como tornar a carreira mais atraente e como pagar melhor os professores. A discussão costuma ficar entre os sindicatos, que querem salário mais alto e sem distinção de desempenho docente (todo mundo ganha o mesmo), e alguns políticos reformistas, que querem basear os aumentos salariais ou em critérios que a pesquisa mostra serem irrelevantes para o aprendizado dos alunos – como tempo de profissão ou a realização de cursos de pós-graduação – ou naqueles sobre o qual ainda há dissenso na pesquisa, que é difícil de quantificar e medir e para o qual há intensa oposição na categoria, que são as medidas de desempenho do professor, usualmente medidas pelo aprendizado do aluno em testes. Xangai encontrou uma maneira mais engenhosa. Dividiu a carreira em apenas três níveis salariais (baixo, médio e top), conforme o mencionado anteriormente, mas fez com que a migração entre os níveis não fosse automática ou estritamente dependente de resultados. Para passar de um nível para outro, o professor é que tem de se candidatar. E para receber a promoção, ele passa por um processo que visa garantir que não apenas faz por merecer o aumento hoje como se compromete a continuar melhorando no futuro. Da seguinte forma: olhando para o presente, o professor passa por entrevistas, sua atividade em aula é observada e a pesquisa que tenha publicado é levada em conta. (Essa pesquisa é composta basicamente de artigos em que o professor reflete sobre a sua prática e compartilha ensinamentos em revistas para o público de educadores na China.
E olhando para o futuro, a promoção vem com uma contrapartida: a carga horária de treinamento à qual o professor se compromete aumenta bastante. Para um professor passar do nível intermediário ao nível superior, por exemplo, sua carga de treinamentos passará de 240 horas para 540, espalhadas em um período de cinco anos. De forma que uma promoção não é só um reconhecimento pelo trabalho bem feito, mas também uma exigência de que esse trabalho aumente no futuro. E como as promoções são opcionais – o processo precisa começar pelo professor, não pela Secretaria – não há animosidade entre colegas ou negociações coletivas. Se beneficia quem quer. Os níveis de cada professor são públicos para os seus colegas, encorajando uma competição sadia.
Outra competição sadia entre professores é pelos prêmios de qualidade no ensino. Todo os anos a secretaria de Educação de Xangai cria concursos em algumas disciplinas. Para participar, o professor precisa cumprir três requisitos: dar uma aula aberta à comunidade, fazer prova escrita e preparar um plano de aulas. Os vencedores de cada escola são então classificados para concorrer no nível distrital, os vencedores do nível distrital concorrem então no nível de toda a província. Os vencedores da província de Xangai tem seus nomes e feitos amplamente divulgados pela mídia local e se qualificam para concorrer em premiação nacional. Qualquer vitória repercute sobre a bonificação do professor, de maneira proporcional ao tamanho da área da conquista. É uma maneira engenhosa de fazer com que mesmo os melhores professores continuem querendo se aperfeiçoar, motivando-os com dinheiro e reconhecimento público. Em muitas das escolas que visitei, os prêmios das escolas e de seus professores estavam expostos com destaque, logo no saguão da entrada. É uma fonte de orgulho para alunos, pais e professores.
Até agora, falamos das escolas, alunos e professores, tudo aquilo que é visível a olho nu. O extraordinário esforço feito por todos esses atores remete a duas perguntas cujas respostas não são visíveis. Primeira: por que esse sistema foi brotar justo na China, uma ditadura comunista que até pouco tempo atrás só produzia produtos de baixa qualidade feitos em regime de semi-escravidão onde, portanto, não havia incentivo econômico e nem político para o florescimento do melhor sistema educacional do mundo? Segunda: além do talento e determinação de professores e alunos nas escolas, quais são as idéias e intenções dos mandarins que estão por trás desse esforço, e quão relevante é o seu papel? São os assuntos dos dois últimos capítulos.
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