terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Atenção: fiquem ligados no "FSM 2009"

clip_image001

clip_image002

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

Abertas as inscrições para o FSM 2009

Fórum Social Mundial 2009 será realizado de 27 de janeiro a 1° de fevereiro, em Belém, no Pará. Inscrições para atividades e organizações já podem ser feitas pela internet. Em uma segunda etapa, serão abertas as inscrições individuais, para atividades culturais e imprensa. Marcha de abertura será no dia 27 de janeiro.

Redação - Carta Maior

Já estão abertas as inscrições para atividades e organizações que desejem participar do Fórum Social Mundial 2009, que será realizado de 27 de janeiro a 1° de fevereiro, em Belém, no Pará. As inscrições podem ser feitas pelo site do FSM 2009. Numa segunda etapa, serão abertas as inscrições individuais, para atividades culturais e imprensa. Apenas organizações poderão inscrever atividades que farão parte da programação do Fórum.
Todas as atividades inscritas serão autogestionadas, ou seja, as organizações proponentes devem se encarregar de definir o formato das mesmas, nomes de palestrantes e outras questões. A organização do FSM garantirá o local para a realização da atividade e também se responsabiliza pela divulgação da mesma no site do fórum.
O território onde serão realizadas as atividades do Fórum é composto pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), uma área verde margeada pelo rio Guamá e pela floresta.
Marcha de abertura no dia 27
Alguns pontos da programação já estão definidos. A marcha de abertura ocorrerá na tarde do dia 27 de janeiro. O dia 28 será o Dia da Pan-Amazônia: 500 anos de resistência, conquistas e perspectivas afro-indígena e popular. Essa data será dedicada a levar ao mundo as vozes da Amazônia, por meio de diversas atividades, como testemunhos, conferências, celebrações e mostras culturais. De 29 a 31 de janeiro serão realizadas as demais atividades auto-gestionadas. Por fim, no dia 1° de fevereiro, ocorrerá o encerramento do FSM 2009, com ações descentralizadas e auto-gestionadas, onde devem ser apresentados os acordos, declarações e alianças construídos no decorrer do evento.
Acampamento da Juventude
Como nas edições anteriores do FSM, o Acampamento Intercontinental da Juventude alojará milhares de participantes do evento, funcionando como um espaço com vida própria, com programações culturais e políticas. O Acampamento estará localizado dentro do território do Fórum, na Universidade Federal Rural da Amazônia.
O FSM 2009 inaugurará uma nova modalidade de participação para organizações que não poderão estar presentes em Belém, mas pretendem participar do processo de debates. O Conselho Internacional do FSM aprovou um convite para a participação nas atividades de Belém Expandida. Qualquer organização ou movimento poderá inscrever e realizar uma atividade na sua própria cidade ou país, podendo estabelecer conexões com outras atividades do Fórum.
Para implementar a idéia da Belém Expandida, um território virtual está sendo construído para abrigar iniciativas descentralizadas e conexões com o território amazônico, promovendo a troca de experiências, a construção de convergências e o fortalecimento das alianças. Os momentos de interconexão entre as atividades poderão ser feitos através da internet (em chats de texto, áudio ou videoconferências), ou utilizando outras formas de comunicação (transmissões de rádio, cartas e outros).
De outubro de 2008 a janeiro de 2009, as organizações que inscreverem atividades nesta modalidade serão estimuladas a buscar parceiros para as suas conexões, bem como serão convidadas a compartilhar o espaço de visibilidade e uso comum para as interconexões no território físico do Fórum Social Mundial, em Belém.
Fórum Social das Américas
Iniciou nesta terça-feira (7), na Universidade San Carlos de Guatemala, o III Fórum Social das Américas. Até o dia 12 de outubro, oitocentas organizações e um público esperado de 6 mil pessoas participarão de 356 atividades autogestionadas, entre as quais se encontram 105 seminários, 53 painéis, 28 mesas de diálogo, 91 oficinas, 6 conferências, 26 exposições, 4 celebrações, 50 atividades culturais, grupos temáticos e 15 atividades diversas.
A “Defesa das condições de vida frente ao capitalismo depredador” foi a temática com mais atividades inscritas, mas os participantes do III FSA também estarão mobilizados para discussões a respeito de outros eixos, como a resistência dos povos frente ao neoliberalismo e à dominação imperial, os desafios do pós-neoliberalismo, a diversidade e a igualdade, a comunicação, a cultura, os povos orginários, afrodescendentes e a juventude. O programa geral do Fórum pode ser visto no site do evento.

Sempre é um prazer ler Leonardo Boff, acho que exemplo de humanidade é isto, palmas, muitas palmas...

(Retirado de www.cartamaior.com.br))

Tendência suicida

“Os principais comentaristas econômicos comentam a crise que irrompeu no centro do sistema e apontam o desmoronamento de suas teses mestras, mas continuam com a crença ilusória de que o mesmo modelo que nos trouxe a desgraça, ainda pode nos tirar dela. Ainda utilizam a interpretação clássica dos ciclos do capitalismo depois da abundância, sem perceber a mudança substancial do estado da Terra ocorrida nos últimos tempos”.

Leonardo Boff

Leio os principais comentaristas econômicos dos grandes jornais do Rio e de São Paulo. Aprendo muito com eles, porque venho de outra área do saber. Mas, na minha opinião, eles continuam aplicando a cartilha neoliberal, o que os impede de ter um pensamento mais crítico. Ainda utilizam a interpretação clássica dos ciclos do capitalismo depois da abundância, sem perceber a mudança substancial do estado da Terra ocorrida nos últimos tempos. Por isso, noto neles uma certa cegueira em um nível profundo de seu paradigma. Comentam a crise que irrompeu no centro do sistema e apontam o desmoronamento de suas teses mestras, mas continuam com a crença ilusória de que o mesmo modelo que nos trouxe a desgraça, ainda pode nos tirar dela.
Esta visão míope impede que levem em consideração os limites da Terra, os quais impõem limites ao projeto do capital. Esses limites foram ultrapassados em 30%. A Terra dá claros sinais de que não agüenta mais. Ou seja, a sustentabilidade entrou em um processo de crise planetária. Cresce cada vez mais a convicção de que não basta com fazer acertos. Estamos obrigados a mudar de rumo se queremos evitar o pior, que seria ir em direção a um colapso sistêmico certo.
O sistema em crise, digamos seu nome, é, quanto ao seu modo de produção, o capitalismo. E sua expressão política é o neoliberalismo, que responde fundamentalmente às seguintes questões: como ganhar mais com o mínimo de investimento, no menor tempo possível e aumentando ainda mais seu poder? O sistema dá como óbvia a submissão total da natureza e a desconsideração das necessidades das gerações futuras.
Esse pretendido desenvolvimento tem se mostrado insustentável, porque em todos os lugares em que se instalou criou desigualdades sociais graves, devastou a natureza e consumiu seus recursos muito acima do nível de reposição. Na verdade, trata-se de um crescimento apenas material, que se mede em termos de benefícios econômicos, não de um desenvolvimento integral.
O grave disto é que a lógica deste sistema se opõe diretamente à lógica da vida. A primeira é linear, regida pela competição, tende à uniformização tecnológica, ao monocultivo e à acumulação privada. A outra, a da vida, é complexa, incentiva a diversidade, as interdependências, as complementaridades e reforça a cooperação na procura pelo bem de todos. Este modelo também produz, mas para servir à vida e não para servir exclusivamente ao lucro, e tem como objetivo o equilíbrio com a natureza, a harmonia com a comunidade da vida e a inclusão de todos os seres humanos. Opta por viver melhor com menos.
Paul Krugman, editorialista do New York Times, denunciou valentemente (Jornal do Brasil, 20/12/08) que não há diferença básica entre os procedimentos de B. Madoff, que fraudou 50 bilhões de dólares a muitas pessoas e instituições, e os especuladores de Wall Street, que enganaram milhares de investidores e pulverizaram, também, grandes fortunas. Ele conclui: “o que estamos vendo agora são as conseqüências de um mundo que enlouqueceu”. Esta loucura é conjuntural ou sistêmica? Penso que é sistêmica, porque pertence à própria dinâmica do capitalismo: para acumular, mantém grande parte da humanidade em situação de escravidão “pro tempore” e põe em perigo a base que o sustenta: a natureza com seus recursos e serviços.
Cabe a pergunta: será que não existe aí uma pulsão suicida, inerente ao capitalismo como projeto civilizatório, uma pulsão que tenta explorar de maneira ilimitada um planeta que sabemos que é limitado? É como se toda a humanidade sentisse que é empurrada para dentro de uma corrente violentíssima, e não conseguisse mais sair dela. Não há dúvida de que o destino seria a morte. Será que é a marca inscrita em nosso atual DNA civilizatório, rascunhado há mais de dois milhões de anos, quando surgiu o homo habilis, aquela espécie de humanos que, pela primeira vez, começou a usar instrumentos em seu afã por dominar a natureza, que potencializou-se com a revolução agrária no neolítico e culminou no atual estágio de ânsia de dominação completa da natureza e da vida? Se continuarmos nesse caminho, onde iremos chegar?
Como somos seres inteligentes e com um imenso arsenal de meios de saber e de fazer, não é impossível que consigamos reorientar nosso curso civilizatório, dando maior centralidade à vida que ao lucro, ao bem comum em vez de ao benefício individual. Então, poderíamos salvar-nos in extremis e ainda teríamos pela frente um futuro que almejar.