sábado, 17 de novembro de 2012

FANATISMO (Florbela Espanca)

 

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida


Meus olhos andam cegos de te ver!


Não és sequer razão de meu viver,


Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida…


Passo no mundo, meu Amor, a ler


No misterioso livro do teu ser


A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”


Quando me dizem isto, toda a graça

Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:


“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,


Que tu és como Deus: princípio e fim!…”