domingo, 21 de março de 2010

Editado por Anselmo Raposo em 21.3.10 (Retirado do blog dilma13.blogspot.com)

 

Resposta a campanhas de difamação que agridem candidatos à Presidência do Brasil, manipulando a verdade e ocultando partes importantes das lutas destas pessoas, no caso, de Dilma Rousseff.

Pessoal,

Hoje, tenho 58 anos. Como vocês podem verificar através de um simples cálculo matemático, durante a época da ditadura no Brasil eu tinha 17 anos. Eu presenciei o que foram os anos terríveis em que vigorou no Brasil uma repressão cruel, que começou com o golpe de 1964 e atingiu seu ápice com o nefasto AI – 5, promulgado em 13 de dezembro de 1968.

Não havia liberdade, não havia esperança, o Congresso foi fechado, políticos e artistas foram perseguidos, alguns foram presos e outros tiveram que fugir para escapar às masmorras da repressão.

Nesta época, minha mãe era viva e trabalhava no Ministério do Trabalho, no Rio de Janeiro. O Ministério do Trabalho ficava na Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro da cidade, e várias vezes ela chegou em nossa residência, depois de um dia de trabalho, passando mal por ter sido exposta a gás lacrimogênio jogado pela polícia para acabar com manifestações contra a ditadura ocorridas no percurso de sua volta para casa.

Foi uma época muito triste, ninguém tinha segurança de nada, você poderia ser denunciado simplesmente por falar mal da ditadura, todos tinham apenas que abaixar a cabeça e aceitar tudo, e sem reclamar , pois o poder estava todo com os militares.

Mas os jovens não aceitaram este caos, jovens valorosos, corajosos, que em muitos casos pagaram com a vida por denunciar este estado de coisas. Dilma foi umas delas, inegavelmente ela deixou sua família rica e se voltou para a luta por liberdade neste nosso Brasil. E como ela, muitos optaram pela luta armada, e eles foram soberbos, e ao esforço deles devemos agradecer por vivermos hoje em um mundo em que podemos falar, discordar, denunciar, sem que percamos nossas vidas ou sem que nossas famílias paguem o preço por nós.

E hoje presencio uma campanha de difamação contra os que lutaram contra a ditadura neste país, e vejo várias “Dilmas” serem achincalhadas por pessoas que nunca se expuseram a nada, apenas pensando em seus próprios umbigos e em como aumentar suas rendas.

Isto me dói! Eu gostaria de ver vocês presenciando o que eu presenciei, gostaria de ver vocês presenciando jornais serem censurados e proibidos de circular, peças teatrais sendo proibidas de serem encenadas (inclusive os atores e atrizes sofrendo agressões físicas), gostaria de ver a reação de vocês diante da censura a artistas como Chico Buarque de Holanda (que teve que inventar um pseudônimo, “Julinho da Adelaide” para conseguir colocar suas músicas em disco), Caetano Veloso e Gilberto Gil (que tiveram que deixar o país para não acabarem nos cárceres do DOI/CODI), Jards Macalé, Geraldo Vandré, João Goulart,  Fernando Henrique Cardoso, Brizola  e tantos outros a quem a ditadura imputava faltas gravíssimas, mas que apenas lutavam por... liberdade!

Eu gostaria de ver a reação de vocês ao fechamento do Congresso Nacional, meu Deus, existe algo pior que isto, presenciar seus deputados e senadores, (entre eles Mário Covas, o grande Mário Covas, hoje já morto), eleitos legalmente pelo povo, de repente sem poderem mais intervir na vida política do país, como se nosso voto não fosse nada, não valesse nada, não significasse nada?!

Vários jovens não concordaram com tudo isto e o muito mais que aconteceu naquele tempo, e estes jovens optaram por lutar, mas lutar significava se expor, e muitos morreram, ou tiveram suas vidas definidas pela brutalidade daqueles tempos.

Hoje se questiona se a conduta deles foi correta, mas ninguém fala do que o povo estava sofrendo, parece que, para alguns, o Brasil vivia em um clima de “tudo cor de rosa”, hoje se fala mal dos que lutaram, mas esquecem de dizer que, se a atitude deles foi errada, também era errado os fatos que os obrigaram a ir tão longe, e nenhuma voz se levanta para agradecer, e dizer: “Graças às suas atitudes, algumas talvez até erradas, hoje eu posso discordar, me manifestar, gritar, denunciar, sem que eu suma nos porões da ditadura ou termine enterrada em tantos cemitérios clandestinos nos quais tantos jovens brasileiros até hoje repousam sem que suas famílias saibam dos seus destinos!”

Pessoal, eu conclamo a todos que receberem estes slides, que não embarquem em tal campanha difamatória, que, se discordam de algo, procurem provas, não aceitem imagens bonitas mas que talvez tragam sub-repticiamente apenas mentiras de covardes, de mentirosos e mentirosas covardes que assistiram em suas casas confortáveis enquanto o Brasil pegava fogo, sob anos tão pesados que hoje são conhecidos como “anos de chumbo”...