domingo, 29 de agosto de 2010

Poema de Frederico Garcia Lorca

Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de kordiscos e açucenas.

Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

( tradução:  William Agel de Melo )

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Notícia triste sobre baleia encalhada em praia do sul do país: Após segunda tentativa de resgate, morre baleia jubarte encalhada no RS (Lucas Azevedo Especial para o UOL Notícias Em Porto Alegre)

Baleia jubarte encalhada no RS tem 12 metros de comprimento e pesa cerca de 25 toneladas

Apesar de todos os esforços da equipe de especialistas e do auxílio de policiais militares, bombeiros, veranistas e trabalhadores, a baleia jubarte que estava encalhada desde sábado na costa gaúcha não resistiu e morreu no final da tarde desta quinta-feira (26).

O animal morreu por volta das 17h30, logo após uma tentativa frustrada de removê-la de um banco de areia. A equipe de resgate estudava uma outra ação para ser efetuada durante a madrugada, durante a maré alta, e já contava com um segundo rebocador e holofotes. No entanto, logo após o primeiro procedimento de hoje, a jubarte parou de respirar.

“Ela estava em um banco de areia muito raso. Ela fez um esforço muito grande, por isso não resistiu. Imaginávamos que isso poderia acontecer, mas era a chance que tínhamos de tentar o resgate”, avalia o biólogo Paulo Henrique Ott, professor da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs).

O corpo da baleia permanecerá agora dentro d’água até amanhã, quando tratores da Prefeitura de Capão da Canoa retirarão o animal do mar. Serão feitos, então, exames mais detalhados para entender o que levou o animal a ficar preso tão perto da areia e a causa de sua morte.

Os biólogos têm interesse em recuperar o esqueleto do animal para ser utilizado para educação ambiental no Centro de Estudos Costeiros Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), na praia de Imbé (RS). Já a carne e a gordura devem ser descartadas em alguma área destinada pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) do RS.

Apesar da morte da baleia, Ott elogiou a operação. "Todo o público presente na praia agiu com educação, respeitando o espaço que tínhamos para trabalhar. Fizemos o que podíamos e sabemos que não foi em vão”, desabafou.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Postado por Emir Sader: “Getúlio e Lula: o mesmo combate”

Há pouco mais de meio século – em 1954 -, em um dia 24 de agosto, morria Getúlio Vargas, o mais importante personagem da história brasileira no século passado. Ele havia sido antecedido na presidência do país por Washington Luis (como FHC, carioca recrutado pela elite paulista), que se notabilizou pela afirmação de que “A questão social é questão de polícia”, que erigiu como brasão de seu governo, produto da aliança “café com leite”, das elites paulista e mineira (essa que FHC queria reviver).
Getúlio liderou o processo popular mais importante do século passado no Brasil, dando inicio à construção do Estado nacional, rompendo com o Estado das oligarquias regionais primário-exportadoras, e começando a imprimir um caráter popular e nacional ao Estado brasileiro.
Um país que tinha tido escravidão até pouco mais de 4 décadas – o ultimo a terminar com a escravidão nas Américas - , que significava que o trabalho era atividade reservada a “raças inferiores”, passava a ter um presidente que interpelava os brasileiros no seu discurso com “Trabalhadores do Brasil”. Fundou o Ministério do Trabalho, deu inicio à Previdência Social, fazendo com que a questão social passasse de “questão de policiai”, a responsabilidade do Estado.
Começou a aparelhar o Estado para ser instrumento fundamental na indução do crescimento econômico que, junto às políticas de industrialização substitutiva de importações, deu inicio ao mais longo ciclo de expansão da história do Brasil. Promoveu a expansão da classe operária, criou as carreiras públicas no Estado, impulsionou a construção de um projeto nacional, de uma ideologia da soberania nacional, organizou um bloco de forças que levou a cabo o processo de industrialização, de urbanização, de modernização do Brasil.
Getúlio pagou com sua vida a audácia da fundação da Petrobrás, no seu segundo mandato. Foi vítima dos tucanos da época, com o corvo mor Carlos Lacerda como golpista de plantão. Tal como agora, detestavam tudo o que tivesse que ver com o povo, com nação, com Estado. Resistiram à campanha “O petróleo é nosso”, como entreguistas e representantes do império norteamericano aqui. A direita nunca perdoou Getúlio.
Os corvos daquela época – tal como os de hoje – desapareceram na poeira do tempo. Seu continuador, FHC, afirmou que ia “virar a página do getulismo”, porque sabia que o neoliberalismo seria incompatível com o Estado herdado do Getúlio. Fracassou seu governo e o projeto de Estado mínimo dos tucanos.
A figura de Getúlio permanece como referência central do povo brasileiro e se revigora com o governo Lula. Com a consolidação da Petrobrás, com a retomada do papel do Estado indutor do desenvolvimento econômico, da afirmação dos direitos sociais dos trabalhadores e da massa da população.
São Paulo, que promoveu uma tentativa de derrubada do Getúlio em 1932 – movimento caracterizado por Lula como uma tentativa de golpe -, promove Washington Luis e o 9 de Julho (de 1932), com nomes de avenidas, estradas e ruas, mas não tem nenhum espaço público importante com o nome do Getúlio. Não por acaso São Paulo representa hoje o ultimo grande bastião da direita, das forças e do pensamento conservador, no Brasil.
Getúlio foi um divisor de águas na história brasileira, como hoje é Lula. Diga-me o que pensa de Getúlio e de Lula e eu te direi quem você é politicamente. O dia 24 de agosto encontra o Brasil reencontrado com o Estado nacional, democrático e popular, com a soberania na política externa, com o regaste do mundo do trabalho, com mais uma derrota da direita. O fio condutor da história brasileira passa pelos caminhos abertos e trilhados por Getúlio e por Lula.

sábado, 21 de agosto de 2010

Mapa do Brasil – Lindo -

Dilma abre 17 pontos sobre Serra e venceria no 1º turno, aponta Datafolha

TEXTO DE FERNANDO RODRIGUES PUBLICADO NA FOLHA.UOL.COM.BR

Na primeira pesquisa Datafolha depois do início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, a candidata a presidente Dilma Rousseff (PT) dobrou sua vantagem sobre seu principal adversário, José Serra (PSDB), e seria eleita no primeiro turno se a eleição fosse hoje.

Segundo pesquisa Datafolha realizada ontem em todo o país, com 2.727 entrevistas, Dilma tem 47%, contra 30% de Serra. No levantamento anterior, feito entre os dias 9 e 12, a petista estava com 41% contra 33% do tucano.

A diferença de 8 pontos subiu para 17 pontos. Marina Silva (PV) oscilou negativamente um ponto e está com 9%. A margem de erro máxima do levantamento é de dois pontos percentuais.

Os outros candidatos não pontuaram. Os que votam em branco, nulo ou nenhum são 4% e os indecisos, 8%.

Nos votos válidos (em que são distribuídos proporcionalmente os dos indecisos entre os candidatos e desconsiderados brancos e nulos), Dilma vai a 54%. Ou seja, teria acima de 50% e ganharia a disputa em 3 de outubro.

Os que viram o horário eleitoral alguma vez desde que começou, na terça-feira, são 34%. Entre os que assistiram a propaganda, Dilma tem 53% e Serra, 29%.

Nos primeiros programas, Dilma apostou na associação com Lula, que tem 77% de aprovação, segundo o último Datafolha.

A petista cresceu ou oscilou positivamente em todos os segmentos, exceto entre os de maior renda (acima de dez salários mínimos).

Dilma tinha 28% de intenção de voto entre os mais ricos e manteve esse percentual. Mas sua distância para Serra caiu porque o tucano recuou de 44% para 41% nesse grupo, que representa apenas 5% do eleitorado.

MULHERES E SUL

Já entre as mulheres, Dilma lidera pela primeira vez. Na semana anterior, havia empate entre ela e Serra, em 35%. Agora, a petista abriu 12 pontos de frente nesse grupo: 43% contra 31% de Serra.

Marina tinha 11% e está com 10% entre as mulheres. A verde continua estável desde março no Datafolha. Tem mostrado alguma reação só entre os mais ricos, faixa em que tinha 14% há um mês, foi a 17% e agora atingiu 20%.

A liderança de Dilma no eleitorado masculino é maior do que entre o feminino: tem 52% contra 30% de Serra. A candidata do PV tem 8%.

Outro número bom para Dilma é o empate técnico no Sul. Ela chegou a 38% contra 40% de Serra. Há um mês, ele vencia por 45% a 32%.

Serra não lidera de forma isolada em nenhuma região. No Sudeste, perde de 42% a 33%. No Norte/Centro-Oeste, Dilma tem 50%, e ele, 27%.

No Nordeste a petista teve uma alta de 11 pontos e foi a 60% contra 22% do tucano.

Houve também um distanciamento de Dilma na disputa de um eventual segundo turno. Se a eleição fosse hoje, ela teria 53% contra 39% de Serra. Há uma semana, ela tinha 49% e ele, 41%.

Na pesquisa espontânea, em que eleitores declaram voto sem ver lista de candidatos, Dilma foi de 26% para 31%. Serra foi de 16% a 17%.

Aniversário / Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

15/10/1929

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Dom Diego Michelini encarapitado na mesa do meu quarto…

16 de agosto 003

Lembranças do JN – por Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista e professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Vou ler este livro!!!

Lembranças do JN

Contei em artigo publicado na revista Carta Capital e depois reproduzido no livro “A TV sob controle” o que vi e ouvi naquela manhã no Jardim Botânico, no Rio. Mostrei como se decide o que o povo brasileiro vai ver à noite, no intervalo entre duas novelas.

Laurindo Lalo Leal Filho

O destaque dado pela mídia ao Jornal Nacional na última semana, em razão das entrevistas realizadas com os candidatos à presidência da República, trouxe a minha memória o episódio de cinco atrás quando acompanhei com colegas da USP uma reunião de pauta daquele programa.
Contei em artigo publicado na revista Carta Capital e depois reproduzido no livro “A TV sob controle” o que vi e ouvi naquela manhã no Jardim Botânico, no Rio. Mostrei como se decide o que o povo brasileiro vai ver à noite, no intervalo entre duas novelas. Ficou clara, para tanto, a existência de três filtros: o primeiro exercido pelo próprio editor-chefe a partir de suas idiossincrasias e visões de mundo cujos limites se situam entre a Barra da Tijuca e Miami, por via aérea.
O segundo e o terceiro filtros ficam mais acima e são controlados pelos diretores de jornalismo e pelos donos da empresa, nessa ordem. Não que o editor-chefe não tenha incorporado as determinações superiores mas há casos que vão além de sua percepção e necessitam análise político-econômica mais refinada.
As entrevistas com os presidenciáveis passaram, com certeza, pelos três filtros e os resultados o público viu no ar. O candidato do PSOL tendo que refazer uma fala cortada pela emissora e a candidata do PT deixando de ser entrevistada para ser inquirida. Para os outros dois candidatos da oposição a pegada foi mais leve, de acordo com a linha editorial da empresa.
Nada diferente do que vi em 2005 quando uma notícia oferecida pela sucursal de Nova York foi sumariamente descartada pelo editor-chefe do telejornal. Ela dava conta de uma oferta de óleo para calefação feita pelo presidente da Venezuela à população pobre do estado de Massachussets, nos Estados Unidos, a preços 40% mais baixos do que os praticados naquele pais. Uma notícia de impacto social e político sonegada do público brasileiro.
Ou da empolgação do editor-chefe em colocar no ar a notícia de que um juiz em Contagem (MG) estava determinando a soltura de presos por falta de condições carcerárias. Chegou a dizer, na reunião de pauta, que o juiz era um louco e depois abriu o jornal com essa notícia sem tentar ouvir as razões do magistrado e, muito menos, tocar na situação dos presídios no Brasil. O objetivo era disseminar o medo e conquistar preciosos pontos de audiência.
Diante dessas lembranças revirei meu baú com mensagens recebidas na época. Foram dezenas apoiando e cumprimentando pelas revelações feitas no artigo.
Reproduzo trechos de uma delas enviada por jornalista da própria Globo:
“Discordo da revista Carta Capital num ponto: o texto ‘De Bonner para Homer’ não é uma crônica. É uma reportagem, um relato muito preciso do que ocorre diariamente na redação do telejornal de maior audiência do País.
As suas conclusões são, porém, mais esclarecedoras do que uma observação-participante. Que fique claro: trabalho há muito tempo na Globo, não sou, portanto, isento.
Poderia apresentar duas hipóteses relacionadas à economia interna da empresa para a escolha do editor-chefe do JN:
1) a crise provocada pelo endividamento levou a direção da rede a tomar medidas para cortar de despesas. Em vez de dois altos salários - o de apresentador e o de editor-chefe - para profissionais diferentes, entregou a
chefia ao Bonner. Economizou um salário.
2) como é profissionalmente fraco, não tem experiência de campo, nunca se destacou por nenhuma reportagem, o citado apresentador tem o perfil adequado para o papel de boneco de ventríloquo da direção do Jornalismo.
A resposta para a nossa questão deve estar bem próxima dessas duas hipóteses. De todo modo, os efeitos são devastadores: equipe dividida, enfraquecida e só os mais inexperientes conseguem conviver com o chefe tirano e exibicionista.
‘Infelizmente, é um retrato fiel’, exclamou uma repórter experimentada diante do seu texto.
Eu me sinto constrangido e, creia-me, não sou o único por aqui”.

É a esse tipo de organização que os candidatos à presidência da República devem se submeter se quiserem falar com maior número possível de eleitores. Constrangimento imposto pela concentração absurda dos meios de comunicação existente no Brasil, interferindo de forma perversa no jogo democrático.

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).

Artigo retirado do site “amalgama”, escrito por um cara muito inteligente e que conseguiu sintetizar algumas questões sobre esta eleição com as quais eu realmente concordo: Por que votarei em Dilma Roussef – artigo de Celso Barros – o qual é mestre em Sociologia pela Unicamp e doutor em Sociologia por Oxford. Blog: napraticaateoriaeoutra.org

Os três principais candidatos nessa eleição presidencial são muito bons. A terceira colocada deve ser Marina Silva, e Marina Silva seria melhor presidente que 90% dos presidentes do mundo. Levando em conta só os competitivos, nos últimos dezesseis anos só Garotinho (que a The Economist traduzia como “Little Kid”) avacalhou nosso currículo, onde, na minha modesta opinião, devemos ter orgulho de ostentar Lula e FHC.
Mas é preciso escolher, e, no que se segue, argumentarei que a melhor opção para o Brasil no momento é uma ex-guerrilheira nerd.
1.
Um bom governo, na minha opinião, deve (a) ser democrático, (b) não avacalhar a estabilidade econômica, e (c) combater a pobreza e a desigualdade. Por esses critérios, o governo Lula foi indiscutivelmente bom.
O governo Lula, tanto quanto o governo FHC, foi um governo democrático. Quem lê jornal no Brasil não apenas percebe que é permitido falar mal do governo, mas pode mesmo ser desculpado por suspeitar que falar mal do governo é obrigatório por lei. Os partidos de oposição atuam com plena liberdade, os movimentos sociais, idem, e, aliás, eu também. O Olavo de Carvalho se mandou para os Estados Unidos, dizem que com medo de ser perseguido politicamente, mas, se tiver sido por isso, foi só frescura. De qualquer modo, nunca antes nesse país exportamos tantos Olavos de Carvalho.
A economia foi muito bem gerida durante a Era Lula, a despeito do que falam muitos petistas (talvez preocupados com a falta de oposição competente). Companheiros, deixemos de falar besteira: a política econômica foi um sucesso. Mantivemos o bom sistema de metas de inflação implantado por Armínio Fraga no (bom) segundo governo FHC, e acrescentamos a isso: uma preocupação quase obsessiva por acumular reservas internacionais, a excelente ideia de comprar de volta nossa dívida em dólar, e medidas de incentivo fiscal quando foi necessário. A dívida como proporção do PIB caiu consideravelmente, e só voltou a subir quando foi necessário combater a crise. Certamente voltará a cair já agora.
Por essas e outras, fomos os últimos a entrar e os primeiros a sair da maior crise econômica desde 1929. Os tucanos se consideravam uma espécie de Keynes coletivo por terem sobrevivido à crise do México. Com muito menos custo, sobrevivemos à crise dos EUA. E isso se deu porque a economia durante a Era Lula foi muito mais bem administrada do que durante o primeiro governo FHC. No segundo governo FHC, aí sim, a economia foi bem gerida, e Lula fez muito bem em copiar seus métodos de gestão.
E, na área social, o Lula realmente se destaca na história brasileira, e na conjuntura econômica mundial. FHC não merece nada além de parabéns por ter copiado o Bolsa-Escola do governo petista do Distrito Federal (cujo governador havia idealizado o programa ainda na década de 80), e o PT merece críticas por ter atrasado sua adoção insistindo no confuso “Fome Zero” por tempo demais; mas, uma vez re-estabelecida a sanidade, o programa foi implementado com imenso sucesso, e, associado à política de recuperação do salário mínimo, e à boa gestão da economia, geraram resultados que não estavam nas projeções do mais otimista dos petistas em 2002. Para ser honesto, eu sempre votei no Lula, mas nunca achei que fosse dar tão certo.
A pobreza caiu algo como 43%. Vou dizer com palavras, para não dizerem que sou cabeça-de-planilha: a pobreza no Brasil caiu quase pela metade. Rodrigo Maia, escreva essa frase no quadro cem vezes. Mais de 30 milhões de pessoas (meia França, não muito menos que uma Argentina inteira) subiram às classes ABC. Cortamos a pobreza extrema pela metade (mas ainda é, claro, vergonhoso que tenhamos pobreza extrema). A desigualdade de renda caiu consideravelmente: a renda dos 10% mais ricos cresceu à taxa de 3 e poucos % na Era Lula, enquanto a renda dos mais pobres cresceu mais ou menos 10% ao ano, as famosas taxas chinesas. E tem uns manés que acham que os pobres votam no Lula porque são ignorantes ou mais tolerantes com a corrupção. Dê essas taxas à nossa elite e o Leblon inteiro tatua a cara do Zé Dirceu.
Não é à toa que o economista Marcelo Neri, um dos mais respeitados estudiosos da pobreza no Brasil, fala no período de 2003-2010 como “A Pequena Grande Década”. Tanto quanto sei, Neri não é petista.
Por outro lado, há algumas semanas, o sociólogo Demétrio Magnoli escreveu um balanço crítico do governo Lula, que considera um desastre. O artigo praticamente não tem nenhum número. I rest my case.
2.
Seria idiota dizer que isso não é, em nenhum grau, motivo para votar na Dilma. Dilma participou ativamente disso tudo, e, no mínimo, apoiou isso tudo. Marina Silva, é verdade, apoiou quase tudo isso. José Serra não o fez, e muitos de seus simpatizantes continuam convictos de que os últimos oito anos, em que a renda dos brasileiros mais pobres cresceu no ritmo da economia chinesa, foi uma era das trevas da qual a nossa elite bem pensante (hehehe) acordará em breve, chorando de felicidade porque era só um pesadelo.
Mas, até aí, eu considero que a Era FHC também foi boa para o país, por outros motivos, e mesmo assim foi bom que Lula fosse eleito em 2002 (como irrefutavelmente provado acima). Por que não seria esse o caso, agora?
Em primeiro lugar, porque não acho que será bom para o Brasil se o governo Lula tiver sido só um intervalo. Se Serra ganhar a eleição, eis o que se tornará a versão oficial sobre esse período: uns caras com diploma governavam muito bem o Brasil por muitas décadas, aí surgiu um paraíba muito carismático que acabou % ganhando a eleição, mas não fez nada demais, por isso eventualmente a turma do diploma retomou o controle da coisa toda. Coloquei um sinal de porcentagem no meio da frase para que ela tivesse pelo menos um erro que não fosse também papo furado.
É importante compreender que os novos atores que compõem o PT vieram para ficar, pois são sócios-fundadores de nossa democracia, e que, de agora em diante, o Brasil é um país com uma esquerda que sabe ser governo. Isso quer dizer que agora a direita, para vencer eleições, precisa apresentar boas candidaturas (de preferência sem roubar nossos sociólogos, ou economistas heterodoxos) e, o mais crucial de tudo, apresentar propostas para os mais pobres, que acabam de descobrir que podem melhorar imensamente suas vidas com o voto. A direita brasileira ainda não fez esse trabalho: continua pensando como se fosse um direito natural seu governar o país, e esperando que algum movimento legitimista re-estabeleça a ordem nesta budega.
Enquanto a justiça eleitoral não fizer o voto do Reinaldo Azevedo ter peso 50 milhões, a estratégia de fingir que o governo Lula não desmoralizou os anteriores, diminuindo a pobreza sem desestabilizar a economia, não vai ganhar eleição. Enquanto não tiver um projeto para o país (o que, diga-se, o Plano Real foi), a oposição não merece voltar ao governo. Como o PT dos anos 90, por exemplo, não merecia ganhar a presidência, pois seu programa era o que, no jargão sociológico, era conhecido como “nhenhenhém”. O PT venceu quando reconheceu que o papo agora era outro, e era preciso partir das conquistas já alcançadas. Não há sinal que consciência semelhante exista na oposição como bloco político, embora, sem dúvida, o candidato Serra o tenha compreendido.
3.
Mas esse tampouco é o melhor motivo para se votar na Dilma. O melhor motivo para se votar na Dilma é a Dilma.
Dilma tem uma trajetória política muito singular, como, aliás, tinham FHC e Lula. Quem tiver lido seu perfil recente na revista Piauí pode notar que há tantos fatos interessantes na sua vida que o jornalista mal teve espaço para falar dela, como pessoa. Dilma foi guerrilheira, foi torturada, e, durante a democratização, entrou para o PDT. Quando visitou, recentemente, o túmulo de Tancredo, a turma de sempre reclamou que o PT não o havia apoiado no Colégio Eleitoral. Bem, Dilma, como o PDT, apoiou Tancredo. Eventualmente, foi parar no PT, onde cresceu fulminantemente, e foi beneficiada pela decisão da oposição de queimar um por um dos quadros petistas mais famosos, algo pelo que, suspeito, já começam agora a se arrepender. Estariam pior agora se o candidato do Lula fosse, digamos, o Dirceu?
Tem gente que, com temor ou esperança, acha que Dilma mudará o rumo da economia. Eu posso estar errado, mas, baseado no que vi até agora, acho o seguinte: Dilma está singularmente posicionada para fazer com que, sob essa mesma política econômica, e com o mesmo compromisso com a justiça social, o país comece a crescer bem mais rápido do que cresceu nos últimos dezesseis anos.
Eu gosto de dizer o seguinte sobre política econômica: é verdade, o Banco Central desacelera o crescimento quando mantém os juros altos (e segura a inflação). Mas, a essa altura, o crescimento econômico já levou uma surra; antes de chegar no Banco Central, o carro do crescimento já tomou batidas da nossa falta de política de inovação, da baixíssima capacidade de investimento do Estado, da pobreza (que diminuiu, mas, para nossa vergonha, ainda está aí), do nosso abissal nível de qualificação educacional, dos entraves inacreditáveis para se abrir ou fechar um negócio, dos problemas gravíssimos da nossa urbanização. Essa desacelerada que o Banco Central dá é porque, depois de tomar tanta batida, ou nosso carro desacelera ou ele desmonta na pista.
Nossa visão deve ser a seguinte: queremos ter produção tecnológica como a Índia, mas com muito mais preocupação com a justiça social, e queremos ter o crescimento da China, mas com a mais absoluta democracia e com as garantias ambientais necessárias. Se esses limites nos atrasarem um pouco, paciência, somos, em nossos melhores momentos, um país que leva essas coisas a sério. O que não é admissível é que qualquer coisa que não nossos princípios atrase nosso progresso.
Muita gente diz que Lula entregou a candidatura à Dilma de mão-beijada, mas, aproveito para advertir, muita calma nessa hora, meu povo. Lula também lhe entregou uma roubada incrível, que foi também um teste. Quando Dilma foi colocada na direção do PAC, experimentou em primeira mão o quão ineficiente é nosso Estado como indutor do investimento: uma legião de entraves burocráticos, pressões políticas e uma história de más prioridades tornaram nosso Estado incapaz de investir e de oferecer infra-estrutura (tanto física quanto legal quanto humana) para o investimento privado.
A beleza da coisa é que Dilma é uma c.d.f. obcecada por políticas públicas. Quem leu sua entrevista no livro organizado pelo Marco Aurélio Garcia e pelo Emir Sader não pode ter deixado de se divertir com a diferença entre as coisas que os entrevistadores querem perguntar e as coisas que ela quer responder: os caras lá falando do liberalismo, de não sei o que mais, e ela animadona com um jeito de furar poço de petróleo, com um jeito qualquer de administrar hospital. Respeito muito o Marco Aurélio, que foi meu professor, mas a Dilma sai da entrevista muito melhor que ele e o Sader.
Me anima especialmente que, em vários momentos, tenha visto Dilma puxando o assunto das políticas de inovação. O Brasil não vai dar um salto qualitativo em termos de desenvolvimento enquanto não produzir tecnologia. Tecnologia é o tipo de coisa que depende de bons arranjos entre governo e setor privado, e, a crer nos relatos até agora a respeito de sua passagem pelo ministério de Minas e Energia, Dilma tem uma postura pragmática saudável nessas questões.
Lula deu ao capitalismo brasileiro milhões de novos consumidores, e essa descendência política exigirá de Dilma compromisso forte com a inclusão social. Mas agora é hora de dar ao capitalismo brasileiro a competitividade necessária para que ele gere os empregos de que precisam os novos ex-miseráveis, os formandos do ProUni, ou das novas Universidades Federais, inclusive; é hora de montar um Estado que entregue aos cidadãos as cidades necessárias à boa fruição da vida moderna, e montar um sistema de inovação tecnológica que tire da direita o monopólio do discurso moderno.
Por conhecer melhor do que ninguém o tamanho desse déficit, e pelo que se depreende de sua postura até agora diante desses problemas, Dilma Rousseff é a melhor opção para a presidência do Brasil nos próximos oito anos.
Até porque, contará com um recurso que só o PT tem: uma imprensa tão hostil que o sujeito realmente, realmente tem que prestar atenção para não fazer besteira. Superego é uma coisa útil, se não te trava.
4.
Certo, mas deve ter gente pensando, ah, mas ela é só uma tecnocrata, vai ser engolida pelos políticos (o bom é que essa mesma turma dizia que o Lula, por não ser um tecnocrata, ia ser engolido pelos políticos). Deve ter gente, à direita e à esquerda, com esperança de manipular a Dilma. A Dilma, no caso, é aquela menina que, aos vinte e poucos anos, inspirava respeito até nos caras do Doi-Codi, como se depreende dos documentos da época. Se quiser ir tentar manipular essa dona aí, rapaz, boa sorte, vai lá. Depois você conta pra gente como é que foi.

sábado, 14 de agosto de 2010

Comentário meu sobre artigo encontrado no “amalgama”

JURAMENTO JORNALISMO

“Juro / exercer a função de jornalista / assumindo
o compromisso / com a verdade e a informação. / Atuarei dentro dos princípios universais/ de justiça e democracia,/ garantindo principalmente / o direito do cidadão à informação. / Buscarei o aprimoramento / das relações humanas e sociais,/ através da crítica e análise da sociedade,/ visando um futuro/ mais digno e mais justo/ para todos os cidadãos brasileiros./
Assim eu Juro.”

Imagino que todos conheçam as palavras acima. São o juramento que todo formando/jornalista pronuncia no dia de sua colação de grau. Mas aí começa o problema: em nossa sociedade jogamos palavras ao vento, não nos importamos de renegar algo que juramos quando saímos da faculdade. Entregamos nossas consciências (alguns até se devem perguntar: consciência? Que diabo é isso?…) por quaisquer dois cruzeiros, cruzados, centavos ou coisa que o valha.
Fica fácil a sua linha de raciocínio: se trabalho para o patrão “A”, vou falar, editar, contar, publicar o que ele mandar. A verdade? Que diabo me importa a verdade se receber no final do mês meu rico salarinho!…
E então assistimos pessoas como Fátima Bernardes e William Bonner a serviço de uma classe social que não é a deles. Eles não são a aristocracia. Eles são apenas dois “paus mandados” de toda uma classe social que insiste que o Brasil e suas riquezas existem penas para usufruto deles, os ricos, aliás, os muito ricos, que diariamente assistem à miséria grassar no resto da sociedade e continuam trancafiados em seus condomínios de luxo sentados em cima de seus sacos de dinheiro… Quadro deplorável!
E aí vêm os dois paus mandados Bonner e Bernardes e desvirtuam toda a realidade social deste Brasil em um horário em que a maioria da população miserável e sem mais nenhuma chance de se colocar a par do que anda acontecendo em seu país os está assistindo. E o povão assiste boquiaberto aquele casal manipular e interferir em suas vidas fazendo com que a realidade se transforme exatamente no que os poderosos querem que se transforme para poderem continuar massacrando o povo e roubando deste mesmo povo tudo que ele tem direito.
Bem, e aí vem você e argumenta que isto é natural, tipo: cada um defende “seu pirão primeiro”, esperando que nós, os menos esclarecidos concordemos com sua lógica ilógica.
Caro senhor, o saber não é brincadeira: todo aquele que consegue arrebanhar esta soma de informações se torna moralmente responsável por FALAR A VERDADE. Só isso, não é necessário dividir seu patrimônio com os pobres, até porque quando você divide algo material, está dividindo algo que um dia acabará. Sua casa, seu carro, sua lancha, seu Jetsky, tudo isto um dia pode ser arrebatado em algum desastre, natural ou não, mas a informação, a verdade, isto nunca pode ser retirado de um ser humano, e isto sim deve ser dividido, pois assim começa a verdadeira revolução: a revolução no íntimo das pessoas, aquela que possibilita as grandes mudanças, as grandes transformações.
Por isso não concordo com sua tese de que a imprensa deve ser partidária disto ou daquilo. À imprensa cabe um papel crucial, um papel que ela não está cumprindo, o papel de desvendar a verdade e permitir aos seus leitores e/ou telespectadores uma tomada de posição diante da vida, dos problemas da sociedade, das angústias da população.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Dom Diego Michelini

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Minha resposta aos eleitores do Serra que alegam votar neste candidato por defender a “alternância de poder”.

Li seu comentário sobre o porquê de você votar em Serra. Pelo que entendi você alega que votará em Serra por concordar com algo intitulado “alternância de poder”. Pois vou lhe dizer o que realmente li nas entrelinhas de seu comentário: você votará no Serra por querer que ele defenda a sua classe social: a classe média! E vou dizer-lhe mais: você não está errado! É natural que você busque um representante que defenda seus iguais, ou seja, pessoas que no governo Lula foram sacrificadas pela divisão da riqueza que o Lula estabeleceu: os privilegiados no governo Lula, realmente, não fomos nós, não foi a classe média, ouso dizer mesmo que fomos os mais penalizados nesta divisão da riqueza que aconteceu. No governo Lula, a classe média perdeu muito de seus privilégios, pois a classe rica sabe defender seu rico dinheirinho e sobra para nós, via de regra assalariados, pagar através de impostos e outros que tais para que quem não teve nada no governo do FHC venha a ter alguma coisa. É ruim? Talvez! Mas eu penso mais longe: se isso não tivesse acontecido, o futuro poderia estar reservando surpresas difíceis de assistirmos. Sou daqueles que acham que quando você tira toda a esperança de uma determinada parcela da sociedade, você está construindo um quadro muito negro para seu próprio futuro. É mais ou menos a história do “cria corvos e eles comerão teus olhos...” Então, é por isso que vou votar na Dilma. Não é por mim, sou professora aposentada, terminei agora uma segunda faculdade, e estou capacitada a ir buscar o meu sem ajuda do governo. Mas reconheço que algumas pessoas com as quais convivo, em escolas, na padaria, nos mercados da vida, precisam da Dilma e da política que ela promete: a de procurar melhorar a vida destas pessoas, e talvez assim, eu possa trabalhar calmamente e usufruir o que conseguir com a inteligência que possuo, sem medo de ser atingida por uma grave convulsão social neste meu país tão belo e tropical. Mas tem gente que prefere colocar grades em suas casas, eu prefiro a divisão da riqueza nacional...

Dom Diego

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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Acordei apaixonada!!!

I've Got You under My Skin

I've got you under my skin

I have got you deep in the heart of me

So deep in my heart, you're really a part of me

And I've got you under my skin

I have tried so, not to give in

I've said to myself this affair it never would go so well

But why should I try to resist when I know so well

That I've got you under my skin

I would sacrifice anything come what might

For the sake of having you near

In spite of a warning voice, that comes in the night and repeats in my ear

Don't you know you fool you never can win

Use your mentality, wake up to reality

For each time I do, just the thought of you makes me stop before I begin

Because I've got you under my skin

Eu Tenho Você Sob A Minha Pele

Eu tenho você sob a minha pele

Eu tenho você no fundo do meu coração

Tão fundo no meu coração que você é realmente uma parte de mim

Eu tenho você sob a minha pele

Eu tentei tanto não me entregar

Eu digo a mim mesmo que esse caso nunca irá tão bem

Mas porque eu deveria tentar resistir quando querida, eu sei muito bem

Que eu tenho você sob a minha pele

(refrão)

Eu sacrificaria qualquer coisa seja o que for

Para ter você perto de mim,

Apesar da voz de aviso que vem na noite

Que repete e repete no meu ouvido

“Você não sabe que você é um tolo, você nunca poderá ganhar

Use a cabeça, acorde para a realidade”

E cada vez que eu faço, só de pensar em você

Me faz parar antes mesmo de começar

Porque eu te tenho sob a minha pele

(refrão)

E eu gosto de te ter sob a minha pele

Luna, amiga e esposa do Nicky

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Close do Nicky

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Nicky em seu quintal.

Nicky em seu quintal.

Nicky com 15 anos

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Que horror!!! Homenagem ao Jamil, que me disse uma vez algo parecido…

Cartoons - Produto Final de um Professor após 25 anos de Serviço

Triturador auricular…

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Material retirado do site Jornal de Poesia sobre Bruno Tolentino: entrevista concedida à revista Veja, em 1996.

Quero o país de volta

O poeta que passou trinta anos na Europa se diz horrorizado com o baixo nível, acha que o país regrediu e parte para a briga

Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino, menino carioca de família aristocrática, gosta de dizer que é de um tempo em que rico não roubava. O avô foi conselheiro do Império e fundador da Caixa Econômica Federal e seus tios eram intelectuais, como os escritores Lúcia Miguel Pereira e Otávio Tarquinio dos Santos, além dos primos Barbara Heliodora, a crítica teatral, e Antonio Candido, o crítico literário. Ainda era analfabeto em português quando duas preceptoras, mlle. Bouriau e mrs. Morrison, o ensinaram a conversar em francês e inglês dentro de casa. Tolentino saiu do Brasil em 1964 e, no estrangeiro, ocupou-se de árvores genealógicas de origem erudita. Orgulha-se de ter filhos com mulheres descendentes do filósofo Bertrand Russell e do poeta Rainer Maria Rilke. O mais novo, Rafael, de 8 anos, nascido em Oxford, Inglaterra, onde o pai ensinou literatura durante onze anos, é filho da francesa Martine, neta do poeta René Char. Bruno publicou livros de poesia em inglês e francês. Em 1994, lançou no Brasil As Horas de Katharina, e no fim do ano passado mais dois, Os Deuses de Hoje e Os Sapos de Ontem - todos ignorados pela crítica, pelo público e pelos curiosos.

Aos 56 anos, já de volta ao Brasil, Tolentino tem feito força para tornar-se herdeiro do embaixador José Guilherme Merquior, intelectual de boa formação e polemista musculoso. Tem conseguido aparecer. Brigou com os poetas concretos, depois com o que considera máquina de propaganda de Caetano Veloso e sua turma. Em seguida, com os críticos literários e os filósofos, elevando ainda mais o tom numa entrevista publicada por O Globo, duas semanas atrás. Fora do país, Tolentino ensinou em Oxford, Essex e Bristol e trabalhou com o grande poeta inglês W.H. Auden. Conheceu celebridades como Samuel Beckett e Giuseppe Ungaretti. Horrorizado com a possibilidade de ver o filho mais novo crescendo em escolas que ensinam as obras de letristas da MPB ao lado de Machado de Assis, abriu fogo contra o que considera o lado ruim de sua pátria, como explica em sua entrevista a VEJA:

VEJA - Por que tantas brigas ao mesmo tempo?
TOLENTINO - Para ver se o pessoal cai em si e muda de mentalidade. O Brasil é um país vital que está caindo aos pedaços. Não quero sair outra vez da minha terra, mas não posso ficar aqui sem minha família, que está na França. Não posso educar filho em escola daqui.
VEJA - Por que não?
TOLENTINO - Foi minha mulher quem disse não. Educar um filho ao lado de Olavo Bilac, última flor do Lácio inculta e bela, que aconteceu e sobreviveu, ao lado de um violeiro qualquer que ela nem sabe quem é, este Velosô, causou-lhe espanto. A escola que ela procurou para fazer a matrícula tem uma Cartilha Comentada com nomes como Camões, Fernando Pessoa, Drummond, Manuel Bandeira e Caetano. O menino seria levado a acreditar que é tudo a mesma coisa. Ele nasceu em Oxford, viveu na França e poderá morar no Rio de Janeiro. Ele diz que seu cérebro tem três partes. Mas não aceitamos que uma dessas partes seja ocupada pelo show business.
VEJA - Qual o problema?
TOLENTINO - Minha mulher já havia se conformado com os seqüestros e balas perdidas do Rio, mas ficou indignada e espantada pelo fato de se seqüestrar o miolo de uma criança na sala de aula. Se fosse estudar no Liceu Condorcet, em Paris, jamais seria confundido sobre os valores do poeta Paul Valéry e do roqueiro Johnny Hallyday, por exemplo. Uma vez entortado o pepino, não se desentorta mais. Jamais educaria um filho meu numa escola ou universidade brasileira.
VEJA - Não é levar Caetano Veloso a sério demais? Ele não é só um tema de currículo, entre tantos outros?
TOLENTINO - Não. Ele está também virando tese de professores universitários. Tenho aqui um livro, Esse Cara, sobre Caetano, uma espécie de guia para mongolóides, e a mesma editora desse livro me pede para escrever um outro, sob o título Caetano Se Engana. É preciso botar os pingos nos is. Cada macaco no seu galho, e o galho de Caetano é o show biz. Por mais poético que seja, é entretenimento. E entretenimento não é cultura.
VEJA - O que você tem contra a música popular?
TOLENTINO - Se fizerem um show com todas as músicas de Noel Rosa, Tom Jobim ou Ary Barroso, eu vou e assisto dez vezes. Mas saio de lá sem achar que passei a tarde numa biblioteca. Não se trata de cultura e muito menos de alta cultura. Gosto da música popular brasileira e também da de outros países, mas a música popular não se confunde com a erudita. Então, como é que letra de música vai se confundir com poesia?
VEJA - O senhor não está ressentido por ele ter assinado um manifesto contra um artigo seu sobre uma tradução do poeta Augusto de Campos? No fundo, parece que o senhor está querendo aparecer à custa deles.
TOLENTINO - Não tenho ressentimento nem ciúme. Nem tenho nada contra quem assina manifesto. Se você vê um amigo seu brigando na rua, o mínimo que pode fazer é ir lá apartar. Foi o que ele fez no caso do Augusto de Campos. Só que assinou um cheque em branco. A princípio achei que ele tinha entrado de gaiato, e lhe dei o benefício da dúvida, sobre uma questão muito delicada de tradução e de cultura que ele não está capacitado para julgar. Nem ele nem Gal Costa. Que intelectuais são esses? Se os irmãos Campos não sabem inglês, imagine eles.
VEJA - Os poetas e tradutores Augusto e Haroldo de Campos não sabem inglês?
TOLENTINO - Não sabem inglês, nem alemão, nem grego. Por exemplo, traduziram Rainer Maria Rilke e criaram a frase "ele tem um pássaro", que é literal, mas que em alemão quer dizer que alguém tem uma telha a menos, é meio doido. São péssimos poetas e péssimos escritores. Não sabem absolutamente nada do que alardeiam saber.
VEJA - Por que só o senhor, e não outros críticos, diz essas coisas?
TOLENTINO - Na República das Letras ainda estamos à espera das diretas já. A usurpação do poder legal por vinte anos deixou-nos seus legados nas patotas literárias que desde então controlam a entrada em circulação, ou a exclusão pelo silêncio, de livros, autores, obras inteiras. Nas redações dos jornais como nas universidades prevalece a censura, e o único critério para sancionar uma obra parece ser o bom comportamento do neófito, sua genuflexão aos ícones da hora. Nossa crítica suicidou-se matando o diálogo, o debate e a polêmica. Mascarados de universitários, esses anõezinhos conseguem dar a impressão de que a inteligência nacional encolheu, que em Lilliput só se sabe da cintura para baixo. Quem já ouviu falar de Alberto Cunha Melo, que vive escondido no Recife, e é nosso maior poeta desde João Cabral? São dele estas palavras: "Viver, simplesmente viver, meu cão faz isso muito bem". Mas José Miguel Wisnik ora é crítico, ora é letrista e compositor, portanto é catedrático. Os violeiros empoleiraram-se nas cátedras e Fernando Pessoa virou afluente da MPB. Não é à toa que até em Portugal os brasileiros viraram piada. Ouvi uma que provocava gargalhada logo à primeira frase: "Um intelectual brasileiro ia começar a ler Camões quando a banda passou e..." É preciso perguntar dia e noite: por que Chico, Caetano e Benjor no lugar de Bandeira, Adélia Prado e Ferreira Gullar?
VEJA - Por que o senhor acha os críticos brasileiros ruins?
TOLENTINO - O que os críticos disseram sobre meus trinta anos de poesia? Só, desonestamente, que minha poesia é arcaizante e não suficientemente progressista. Que eu, o escritor Diogo Mainardi e - como é mesmo o nome do marido da Fernandinha Torres? - o diretor Gerald Thomas somos figurinhas carimbadas porque somos amigos de gente famosa. Quer dizer, chamam a atenção para a pessoa e não para a obra. E toda pessoa é discutível. Eu sou meio apalhaçado mesmo. A minha biografia é interessante, meio cinematográfica, e assim é como se eu não tivesse escrito nada. Uma espécie de Ibrahim Sued das letras.
VEJA - Mas o que aconteceu com os críticos para que se tornassem tão incapazes, na sua opinião?
TOLENTINO - A crítica brasileira não existe mais. Cometeu um haraquiri muito bem pago. Trocou sua independência por cátedras e verbas. É uma gente venal, vendida, que controla as nomeações para as cátedras, bolsas e verbas. Vão se meter com um maluco como eu? Todos, de Roberto Schwarz a David Arrigucci, foram formados pelo meu primo Antonio Candido, que é um geriatra nato.
VEJA - Caramba... Não sobra nenhum crítico brasileiro?
TOLENTINO - Sobra, evidentemente, Wilson Martins, que não tem lá muito gosto poético, mas enfim...
VEJA - O senhor também não sobra?
TOLENTINO - Em vários sentidos. Não tenho onde escrever. Sou herdeiro, e me considero assim, da combatividade crítica de José Guilherme Merquior. Crescemos e fomos amigos juntos, tínhamos idéias convergentes embora nem sempre coincidentes. Quando ele morreu, em 1991, houve um grande suspiro de alívio entre nossos crititicos e poetômanos. Infelizmente ele era embaixador. Eu não sou embaixador de nada. Essa gente está morta de medo de que eu venha a ter uma tribuna. Não me importa ser celebrado lá fora. Não faço falta lá, há muitos outros como eu. Aqui, com esta independência, cultura, erudição e combatividade, não tem outro que nem eu.
VEJA - Sem embaixada, o senhor vai ser só poeta?
TOLENTINO - Minha obra poética está basicamente terminada. Escrevi poesia por mais de trinta anos e não conheço nenhum outro poeta, além de Manuel Bandeira, que tenha conseguido escrever bem além dessa média. A partir daí, decai. Estou transferindo o meu esforço para o ensaio. Falar, por exemplo, dos males que a ditadura causou ao país me parece cada vez mais um sintoma do que uma causa. É um sintoma do Febeapá, vem no bojo dele. A imbecilidade já crescia. A ditadura simplesmente institucionalizou a falta de respeito pela realidade, pelo próximo, pela legalidade. A verdade foi substituída pela verossimilhança, a literatura, pela imitação da literatura.
VEJA - O senhor poderia dar exemplos disso?
TOLENTINO - Foi Wilson Martins quem levantou essa idéia, ao dizer que as obras de Chico Buarque e Jô Soares eram imitações da literatura. Auden, o Drummond lá dos ingleses, também dizia algo parecido. A gente lia um cara e concluía que ele era muito ruim. Auden discordava, dizendo que ele era muito bom. "Faz a melhor imitação de poesia que já li", dizia. Parecia piada mas não era.
VEJA - O senhor acha que a imitação é ruim?
TOLENTINO - A imitação da literatura se dá quando se fecha no círculo de ferro na modernidade. Ela obriga o leitor a seguir moda, busca efeito imediato, como se tudo começasse por você, naquele momento. A verdadeira literatura está sempre acuando tudo que a precedeu. Quincas Borba, de Machado, contém toda a novelística russa, e também Balzac. Wilson mostrou com muita acuidade e mordacidade que os romances de Chico são uma reedição do nouveau roman, que já morreu. Agora morreu a última representante dele, Marguerite Duras. Conheci toda aquela gente do nouveau roman, Alain Robbe-Grillet, Michel Butor, e saí correndo. Chato existe em todo lugar, não só no Brasil. Mas Wilson foi injusto com a imitação do Jô. É uma coisa que não pretende ser mais do que aquilo mesmo, divertir.
VEJA - Por que o senhor não vai ensinar o que sabe nas universidades?
TOLENTINO - Só entro numa universidade disfarçado de cachorro ou levado por uma escolta de estudantes. Sou um vira-lata muito barulhento. Não vão me convidar para nada porque eu quero acabar com os empregos e mordomias deles. Quero que eles passem por todos os exames de Oxford para ver se sabem mesmo alguma coisa.
VEJA - Então as universidades não servem para nada?
TOLENTINO - A escola pública desapareceu. A fórmula de sobrevivência do país é a trilogia emprego público, de preferência com aposentadoria acumulada, condomínio fechado e plano de saúde. Esse é o apartheid construído por uma elite analfabeta e totalmente irresponsável que entregou nossa cultura. Nem estou falando da nossa classe média, que tem dinheiro para gastar em boates e shows e sair de lá gargarejando cultura.
VEJA - O senhor tem acompanhado a produção intelectual das universidades brasileiras?
TOLENTINO - O departamento de filosofia da Universidade de São Paulo nunca produziu filosofia nenhuma, não por inépcia ou preguiça, mas por um estranho espírito de renúncia parecido ao espírito de porco. Cultivavam a crença de que só poderia nascer uma filosofia no Brasil "ao término de um infindável aprendizado de técnicas intelectuais criteriosamente importadas", como diz um professor de lá. Mais urgente do que filosofar era macaquear os debates dos "grandes centros" produtores de cultura filosófica. O que significava tomar o padrão europeu do dia como norma de aferição do valor e da importância do pensamento local. Imaginando ou fingindo preservar a mente brasileira de uma independência prematura, o que os maîtres à penser da USP fizeram foi apenas incentivar a prática generalizada do aborto filosófico preventivo. Não espanta que, por quatro décadas, o "rigor" (com aspas) uspiano não produziu outro resultado senão o rigor mortis de uma filosofia que poderia ter sido o que não foi.
VEJA - Mas José Arthur Giannotti escreveu um livro de filosofia, Apresentação do Mundo, que foi muito elogiado...
TOLENTINO - É, ele escreveu um besteirol sobre Ludwig Wittgenstein saudado em suplementos de várias páginas como marco do nascimento da filosofia no Brasil. É uma audácia depois de Mário Ferreira dos Santos, Miguel Reale, Vicente Pereira da Silva e Olavo de Carvalho. Nós temos uma filosofia nativa, isso sem falar da filosofia de cunho religioso, teológico, que eu não vou citar porque sou católico e vão dizer que estou puxando a brasa para a sardinha da Virgem Maria. Passei cinco meses garimpando nas páginas daquele livro e não encontrei nada que não fosse uma leitura do que Wittgenstein acha da dificuldade lingüística de compreender a realidade. Isso a gente já sabe, a partir do próprio Wittgenstein. Uma filosofia nacional não tem nada a ver com isso.
VEJA - Tem a ver com o quê?
TOLENTINO - A cultura filosófica brasileira é quase nula. Nossos professores gastaram décadas lendo Marx, em vez de Husserl. Aqui só dá o tripé Kant, Hegel e Marx. E onde está a grande tradição escolástica que vai de Aristóteles a Husserl? Isso não é lido nem discutido aqui. Mas existe uma filosofia brasileira. Reale e Olavo de Carvalho, que não se formaram em lugar algum, não perderam tempo com essa estupidez. Foram estudar e aprender as tantas línguas que falam. Eu, quando tenho dificuldade com latim, grego ou alemão, é para eles que telefono.
VEJA - O senhor não está exagerando, sendo duro demais?
TOLENTINO - Não. Não passei nenhum dia aborrecido aqui. Sempre encontro gente inteligente. Quando cheguei à Europa, não tive nenhum complexo de inferioridade. É verdade que eu conheci em casa o que o Brasil tinha de melhor. Faço parte do patriciado brasileiro. E não via diferença entre Ungaretti e Manuel Bandeira, só de língua. Era a mesma coisa. Não havia um Terceiro Mundo na minha cabeça. Eu, quando pequeno, conheci Graciliano Ramos e Elisabeth Bishop. Só havia gente dessa categoria.
VEJA - Dá a impressão de que só agora se começou a falar e a escrever besteira no país...
TOLENTINO - O besteirol, se havia, estava lá longe, nos cantos. Hoje ele está no centro. Tem razões mercadológicas, de dinheiro. Os artistas devem ganhar muito, muito dinheiro, para ir gastar em Miami. Só não é possível que esses senhores usurpem a posição do intelectual. Eles são um formigueiro com pretensão a Everest.
VEJA - Não é bom para o país ter um intelectual na Presidência da República?
TOLENTINO - Votei no Fernando Henrique Cardoso porque era uma oportunidade única, desde Rui Barbosa, de ter um intelectual no poder. E o que ele fez na sua primeira entrevista coletiva? Citou Machado de Assis ou Euclides da Cunha? Não. Citou o mano Caetano. Uma coisa tão espantosa quanto Rui Barbosa, se tivesse ganho a eleição, citasse Chiquinha Gonzaga. O Brasil que eu conheci, e do qual me recordo vivamente, era um país de grande vivacidade intelectual, mesmo sendo uma província. Não estou sendo duro com o Brasil. Quero saber quem seqüestrou a inteligência brasileira. Quero meu país de volta.

Um caso a se pensar: Por que votar em outro candidato, mesmo sabendo que suas chances são quase nenhumas? Raphael Tsavkko Garcia responde (e muito bem) a esta pergunta em seu blog “amálgama”.

 

-- Plínio Soares de Arruda Sampaio --
Por que votarei em Plínio? Indo direto ao ponto? Por coerência. Minha e do candidato.
Por Plínio contestar a ordem vigente e buscar uma alternativa ao jogo da direita.
O homem e o candidato
São décadas de defesa dos movimentos sociais, das classes trabalhadoras, enfim, do verdadeiro povo brasileiro. Plínio representa anos de luta social, pelos direitos humanos e pela dignidade de todos e todas.
Da história de apoio ao MST, à Liga campesina, passando pela defesa da Constituição Cidadã, até a defesa do aborto, dos direitos humanos e do povo brasileiro, Plínio de Arruda, do alto de seus 80 anos de idade, demonstra a vitalidade de quem sabe ser justa sua luta.
De uma origem rica, filho de produtores de café, Plínio foi pouco a pouco se aproximando das posições de esquerda em seus 60 anos de militância. Das juventudes católicas, passando pelo Partido Democrata Cristão, Plínio foi cada vez mais se aproximando do povo e de seus anseios. O socialismo foi um caminho natural que, até hoje, trilha como poucos.
Diferentemente de outros políticos que respeitam apenas a si próprios e dificilmente se subordinam à  vontade coletiva, passando por cima de seus partidos e de sua base e chegando ao grotesco de fazer comparações absurdas com teor eleitoreiro, ou que procuram mascarar suas posições através de propostas escapistas e sem sentido, Plínio respeita sua base, respeita as bandeiras históricas do movimento social e passa até mesmo por cima de seus próprios preconceitos e visões pré-concebidas, se mostrando não apenas um grande ser humano e político, mas um estadista, alguém que passa por cima até mesmo de suas posições pessoais pelo bem de todo o povo.
Posição de Plínio sobre o Aborto:
“Apóio o movimento em favor da descriminalização do aborto porque, evidentemente, a lei atual demonstrou ser, não apenas ineficaz, mas claramente perniciosa, uma vez que obriga as mulheres a recorrer a pessoas despreparadas e inescrupulosas para interromper uma gravidez indesejada.”
Em entrevista ao R7, ele é ainda mais claro, separando suas opiniões pessoais do que o Brasil efetivamente precisa:
“Em assuntos polêmicos recorrentes nas sabatinas, Plínio se mostrou favorável à união homoafetiva no Brasil, justificando sua posição no direito de vida civil em comum que pessoas do mesmo sexo têm. Sobre o aborto, disse ser uma questão social grave que precisa ser analisada como política pública.”
Plínio quer legalizar o aborto, ao mesmo tempo em que monta uma estrutura de saúde para avaliar e orientar as pessoas, algo que nenhum outro candidato ou partido jamais pensou ou cogitou.
Tão importante quanto é saber, também, que ele é o único candidato a defender uma punição – exemplar – aos torturadores e criminosos, civis e militares, da Ditadura Militar.
A mídia e os “nanicos”
Católico, Plínio consegue, diferentemente de outros, manter para si suas posições e opiniões religiosas. Pensa em governar para todos e não para si e para grupos de interesse. Defende as causas do povo e não as suas próprias e, exatamente por isto, é escondido pela mídia.
Ao tocar em feridas profundas, acaba por desagradar a importantes e influentes setores. E sofre as consequências.
Nas pesquisas, Plínio aparece com menos de 1%. Isto quando aparece. Até o momento boa parte das pesquisas são feitas com apenas o nome dos três primeiros colocados. Os demais são relegados ao ostracismo.
Na maioria das pesquisas os “nanicos” nem aparecem, ou sua votação oscila de forma incongruente. A mídia tem bombardeado o público com a ideia de que só existem 3 candidatos. Como o povo saberá quem são os demais?
Neste cenário, até mesmo o Rui Costa Pimenta pode aparecer como quarta força, basta que a pesquisa seja feita na esquina da sede do PCO!
Pelo peso do PSOL, pela história do Plínio e pela militância, fica claro que, começando a campanha, os números começarão a ter alguma relevância e sua candidatura crescerá. Por enquanto é má fé acreditar que piadas prontas como Eymael ou desconhecidos como Ciro Moura tenham qualquer votação relevante e, especialmente, maior que a do Plínio.
Plínio foi criminosamente excluído do Roda Viva – existe inclusive um abaixo-assinado pela sua participação – e sequer a TV Brasil, pública, se incomodou de convidá-lo para entrevistas. Debates? Fazem de tudo para excluí-lo, enquanto tentam construir um cenário fictício perpetuando a ideia de que existem apenas 3 projetos, o do PT, o do DemoTucanato e o da Criacionista, e nenhuma alternativa viável. Ao menos, nenhuma viável para os que detém o poder.
As posições
Dentre as declarações de Plínio aparecem a defesa dos movimentos das mulheres; da revisão da Lei da Anistia; da reestatização da Vale, que foi entregue a preço de banana por FHC; a paralização do processo de licitação e o abandono da ideia estúpida da construção da usina de Belo Monte, em defesa dos povos indígenas e da biodiversidade local; e a defesa do EcoSocialismo e não de um EcoCapitalismo neodesenvolvimentista tão em moda entre os demais candidatos.
O que Plínio disse sobre a Anistia:
“O ex-deputado federal Plínio de Arruda Sampaio, que permaneceu 12 anos exilado no Chile e nos Estados Unidos durante a ditadura militar (1964-1985), diz acreditar que crimes bárbaros, como sequestros e torturas, não deveriam ser anistiados como decidiu nesta quinta-feira (29) o STF (Supremo Tribunal Federal). – A Lei da Anistia ocorreu em nome da harmonia política da época e os líderes já entregaram o poder, mas não existe anistia para sequestros e torturas. Os bárbaros crimes cometidos não podem ser anistiados.”
A reforma agrária e a proibição de qualquer forma de transgênico são bandeiras das mais relevantes para o candidato do PSOL, que tem um longo histórico de militância nesta área. A defesa do meio ambiente e da biodiversidade não poderiam ser esquecidas pelo candidato socialista, que constantemente critica a criminalização dos movimentos sociais – que, segundo alguns, colocam-se contra o progresso ao tentarem conseguir melhor qualidade de vida para toda a população.
Seguindo os anseios da população e dos movimentos sociais, Plínio defende com unhas e dentes a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e a taxação de grandes fortunas, sendo, por isto, considerado radical. Ao se apresentar como o candidato contra o sistema, é considerado radical, sonhador e, até mesmo, perigoso pelos setores reacionários.
Sua defesa intransigente da soberania do país e do povo brasileiro o fazem ser tachado de radical por aqueles que querem criar uma falsa polarização e por quem tem medo do único candidato com coragem de pôr o dedo nas mais diversas feridas abertas deste país.
Querem excluí-lo dos debates, das entrevistas a programas como o RodaViva e, para isto, usam pesquisas de qualidade suspeita para chamá-lo de “nanico”, de “irrelevante”. A mídia tem medo de sua defesa da democratização dos meios de comunicação, do fim dos monopólios midiáticos, da defesa do software livre e das rádios comunitárias e meios de comunicação alternativos que possam levar informação de qualidade em oposição ao amálgama de mentiras propagado pela mídia de massa.
Felizmente, após o debate na Band, a mídia parece ter acordado, ou melhor, notado que não adianta excluí-lo. Forçosamente convidado – a lei eleitoral exige -, Plínio deu um show, conseguindo apoiadores e admiradores, dando um banho nos demais candidatos. Desde chamar a Marina de “EcoCapitalista” e Serra de “Hipocondríaco”, até apresentar um programa socialista para o país e, com bom humor e ironia, desmontar os demais discursos.
Conclusão
O voto em Plínio não deve ser encarado como um mero voto de protesto contra a falsa polarização da disputa, mas como um voto consciente numa alternativa real e em construção, numa opção política diferente, que resgata aquilo que o PT abandonou em nome da “governabilidade” e resgata os anseios dos movimentos sociais e populares.
Votar em Plínio é defender o antigo PT, o partido de massas, de luta. É casar antigas bandeiras, ainda válidas, com um partido novo, em formação.
Plínio defende o que o PT costumava defender. Porque com ele é irreal e com o PT era a utopia de todo militante?
A tática usada pela direita é atacar suas ideias, tachá-lo de radical. A da esquerda, infelizmente, não é muito diferente. Acusam-no de fazer o jogo da direita. Mas como?
Esse papo de “jogo da direita” é realmente uma mordaça. Alguns tentam criar o medo da vitória do Serra para tentar calar a voz dissidente. Plínio toca em pontos fundamentais, como a reforma agrária, e ninguém pode respondê-lo, porque ninguém a fez ou tem propostas para fazê-la. Então novamente entra o papo de ajudar a direita. Oras, se o PT em oito anos não se interessou em efetivamente fazer uma profunda reforma agrária no país, por que questionar este fato – como faz o MST constantemente – seria jogar com a direita?
A verdade é de direita? Eu acho que não. Então, realmente, eu não entendo.
Plínio mostra que existe uma alternativa. Em uma sociedade conservadora como a nossa, sabemos que não será eleito, mas o crescimento de sua campanha forçaria a inclusão do PSOL na mesa de negociações. Com peso e força, o PSOL poderia pleitear junto ao PT, poderia pressionar e ter peso para isso. Seria uma chance de trazer o PT, ou o governo, para a esquerda.
Plínio significa, enfim, a mudança real, para melhor, do país. À caminho do socialismo.

domingo, 8 de agosto de 2010

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Debate motra Dilma bem, Serra tentando, Marina quase chegando lá e Plínio como o único inovador. Ainda vou de Dilma!

Notas sobre o debate da Band

por André Egg

Na noite de ontem, 4 candidatos a presidente se encontraram diante de um punhado de telespectadores para o debate promovido pela TV Band. De princípio já achei ótimo que o Plínio de Arruda Sampaio foi convidado. Afinal, era um tremendo desrespeito um partido do tamanho do PSOL, com presença relevante no cenário federal e em vários estados, e com ótima votação nas eleições de 2006, ficar completamente omitido pela cobertura da imprensa.

E Plínio teve uma ótima participação, dentro do que se podia esperar dele. Foi o único a destoar da linha política dos outros três: insistiu na necessidade de ruptura com a estrutura do capitalismo para superar as imensas desigualdades no Brasil. Ele foi o elemento de utopia política num debate morno. O único problema é que parece com o PT dos anos 80: críticas pertinentes ao modelo excludente do capitalismo, mas nenhuma ideia viável de como sair disso. As propostas só falaram em “vontade política”. Ora, voluntarismo bobo, que não resolve nada, como já aprendemos. Plínio deve crescer, mas precisa superar as posições incipientes para se tornar um competidor relevante. As únicas propostas concretas que apresentou podem ser plataforma para um candidato a deputado federal: redução de jornada de trabalho e limitação da propriedade rural ao tamanho máximo de 1000 hectares.

Os outros 3 candidatos estiveram o tempo todo posando.
Serra tentou parecer simpático, coisa que me parece impossível. No que pôde, tentou atacar Dilma. O problema dos baixos investimentos públicos é real, e esse foi seu assunto preferido (fora umas pegadinhas idiotas sobre APAE e mutirão de cirurgias no SUS). Seria um bom mote para Serra, se o governo do PSDB tivesse feito melhor, tanto nos anos de FHC presidente (1995-2002) como nos de Serra governador de São Paulo (2007-2010). Acusações de aparelhamento do Estado pelo PT, mencionando os Correios, foram bem respondidas por Dilma: Serra também pratica isso muito em São Paulo, como se sabe.
Dilma esteve pouco à vontade. Passou metade do debate se atrapalhando com o tempo das respostas, mas aos poucos pegou o jeito da coisa. Demonstrou que aprende rápido. Ao contrário do que se fala dela, me pareceu bem na televisão, fala com clareza, tem algum carisma, é bem informada e raciocina rápido. Seu visual está perfeito (cabelo, roupa e maquiagem) – ponto para sua equipe de campanha. Conseguiu transmitir um bom equilíbrio entre sobriedade e simpatia, entre eficiência e feminilidade. Tecnicamente teve sempre boas respostas. Insistiu no sucesso dos programas do governo Lula, fez propostas mais claras apenas para a área da saúde: ampliação do SUS com a construção de poli-clínicas de especialistas e atendimento emergencial 24 horas. A proposta de acabar com a progressão continuada, também já feita por Mercadante para São Paulo, é demagogia pura. Não melhora em nada a educação, mas deve ganhar votos entre o eleitorado conservador.
Aliás, Dilma me pareceu, neste debate, ter clareza de estar se apresentando para um público mais escolarizado e de maior renda, das regiões Sul e Sudeste. É o público que ela precisa conquistar para ganhar no primeiro turno. Entre os pobres, os menos escolarizados e na região que vai de Minas/Rio para o norte, ela já é rainha, e Serra não está dando nenhum passo para melhorar sua posição. Este público deve ser o alvo estudado pela equipe de campanha, porque Dilma não insistiu na sua ligação com Lula, quase não mencionou esse fator. Procurou passar uma visão de boa administradora, defendeu as políticas do atual governo e propôs ampliações. Está cumprindo um script traçado corretamente por seus estrategistas.

Marina tem um ótimo pessoal de campanha para internet, ótima equipe técnica. Boas propostas, e um partido político que pode ser uma importante via de oxigenação na vida política nacional, reinserindo um horizonte utópico, mais século 21, menos marxismo soviético, englobando as demandas de justiça social com liberdades civis e econômicas (de mercado). Mas é uma candidata de presença pessoal frágil. Apresenta-se de coque nos cabelos (humildade? zelo religioso?), não usa brincos, usa um colar indígena, maquiada somente para as luzes da TV. Preocupada em manter uma postura de respeito aos demais candidatos, não conseguiu propor nada além de uma vaga noção de que deve-se superar a polarização PT-PSDB, avaliar corretamente os ganhos dos governos passados e avançar em melhorias que ainda faltam. Única proposta concreta foi o aumento dos recursos aplicados em educação para 7% do PIB – o que não resolve nada sem uma política mais clara de aplicação.
Em geral, avalio que o modelo de organização do debate foi ruim. Perguntas de candidato para candidato dominaram a cena. Perguntas feitas por jornalistas (ou até pelo público, por que não?) fariam um debate mais incisivo, mais vivo. Somente em um dos cinco blocos isso aconteceu, e Joelmir Beting fez praticamente as únicas perguntas incômodas da noite. Perguntou a Dilma como reduzir os juros escorchantes e os impostos sobre consumo e produção, que prejudicam a população mais pobre. Dilma deu resposta tecnicamente correta, sem ousadia política. Redução da dívida pública praticada no governo Lula permite reduzir os juros com segurança e paulatinamente, como vem sendo feito. Em seu comentário ao tema, Serra apenas propôs reduzir os juros (sem dizer como) e instituir a restituição de parte do imposto pago pelo consumidor como se faz em São Paulo (esqueceu de avisar que os impostos federais não permitem a manobra, que só funciona com ICMS).

O apresentador, Boechat, reclamou em seu tuíter que o debate foi morno. E foi mesmo. Por culpa mais do modelo da Band que da intenção dos candidatos. Perguntas temáticas com tempo de resposta iguais para todos os candidatos (sorteada a ordem das respostas) seria um modelo mais dinâmico, permitindo confrontar propostas diferentes para o mesmo problema. Não foi o que se viu. Saiu perdendo o eleitor, pois os candidatos não se deram a conhecer. Muito tempo de conversa para pouco resultado.

Acho que foram muito mais úteis as entrevistas para a rádio CBN, dadas antes da copa do mundo, que comentei em meu blog (Serra, Dilma e Marina). Mas a CBN não convidou Plínio, o que é compreensível, pois é o único candidato que confronta as posições de mercado defendidas vigorosamente pela emissora. No caso da CBN, parece que ela está mais em campanha que os candidatos…

Pesando tudo na balança, a vitória no debate ficou para Dilma. Como indicam as pesquisas (Vox Populi e Datafolha de julho), se os outros candidatos não crescerem muito na reta final ela surfa na popularidade de Lula e ganha no primeiro turno. Para horror das velhinhas ricas de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Nicky

Lá pelos anos de 1995 ou 1996, começou nossa amizade.

Eu me lembro que, dias antes de te comprar por algo em torno de 50 (não sei mais se cruzeiro cruzado ou coisa que o valha) nossa casa foi meio que assaltada. Algum “meliante” pulou o muro da frente e carregou uma rede que deixávamos pendurada na varanda. Pensei então em comprar um cachorro para tomar conta do terreno. Na escola onde eu trabalhava, o Paulo (um professor amigo meu) me disse que sua cadela Flora havia tido filhotes. Combinei de ficar com um. E assim, meu amigo, você veio para nossa casa.

Daquele dia distante até hoje, já se vão mais ou menos uns quinze anos. E nestes quinze anos, sempre contei com seu carinho e seu cuidado. Nossa casa nunca mais foi nem de longe assaltada. E sempre que abri a porta da cozinha, te encontrei a me esperar, me dando sempre provas de carinho e fidelidade.

Você foi o companheiro dedicado de minha Baby também, e com ela, foi papai de doze lindos filhotinhos. Nunca esquecerei tanta alegria.

Depois que Baby morreu, prematuramente, com apenas quatro anos, você casou de novo, com um dragão que nunca te mereceu, a Luna, e com ela está até hoje.

Mas hoje eu percebi a tua idade. Pela primeira vez nos anos de nossa convivência te vi trôpego, e percebi que não vai demorar muito e você vai me deixar para se encontrar com a “Linda Baby”, acredite, nunca me senti tão triste quanto me senti hoje ao te ver tão cansado.

Amanhã, você vai ao Olegário. Eu sei que não devo pedir isto, mas, por favor, esteja bem! Eu não estou preparada para me despedir de você. Não, ainda!!!