terça-feira, 1 de março de 2011

Poesia de Gregório de Matos Guerra

Não vi em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura.

Ontem a vi por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma Mulher, que em Anjo se mentia,
De um Sol, que se trajava em criatura.

Me matem (disse então vendo abrasar-me)
Se esta a cousa não é, que encarecer-me.
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me.

Olhos meus (disse então por defender-me)
Se a beleza hei de ver para matar-me,
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.

Fragmento do Sermão da Sexagésima / Padre Antônio Vieira

II

Semen est verbum Dei.

O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestas seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhem cento por um: Et fructum fecit centuplum.

Este grande frutificar da palavra de Deus é o em que reparo hoje; e é uma dúvida ou admiração que me traz suspenso e confuso, depois que subo ao púlpito. Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus? Diz Cristo que a palavra de Deus frutifica cento por um, e já eu me contentara com que frutificasse um por cento. Se com cada cem sermões se convertera e emendara um homem, já o Mundo fora santo. Este argumento de fé, fundado na autoridade de Cristo, se aperta ainda mais na experiência, comparando os tempos passados com os presentes.

Lede as histórias eclesiásticas, e achá-las-eis todas cheias de admiráveis efeitos da pregação da palavra de Deus. Tantos pecadores convertidos, tanta mudança de vida, tanta reformação de costumes; os grandes desprezando as riquezas e vaidades do Mundo; os reis renunciando os cetros e as coroas; as mocidades e as gentilezas metendo-se pelos desertos e pelas covas; e hoje? -- Nada disto. Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje.

Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, porque não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir.

Questionário sobre o texto “BARROCO”

 

1) Em que período de tempo aconteceu o barroco?

2) Por que as obras de arte barrocas brasileiras são parecidas com as obras de arte Européias?

3) Os artistas barrocos brasileiros foram fortemente influenciados pela arte barroca de dois países Europeus. Quais são estes países?

4) Enumere três características da arte barroca.

5) No Brasil, o início do barroco foi marcado pela publicação de um poema épico. Qual é o nome deste poema, quem o escreveu e em que ano ele foi publicado?

6) O que significa a palavra “barroco”?

7) Cite três autores barrocos brasileiros.

8) Disserte sobre Gregório de Matos.

9) Disserte sobre Padre Antônio Vieira.

Língua Portuguesa – Literatura / Barroco

O termo barroco denomina  as manifestações artísticas ocorridas do final do século XVI ao final do século XVIII. Encontramos manifestações artísticas barroca na literatura, na música, na pintura, na escultura e na arquitetura daquela época.

As obras de arte barrocas brasileiras são muito parecidas com as obras de arte barrocas Européias. Os artistas brasileiros que produziram suas obras de arte neste período foram fortemente influenciados pelo que acontecia no Velho Continente.

Aqui no Brasil, Gregório de Matos, Botelho de Oliveira e Frei Itaparica produziram várias obras de arte com características parecidas com as obras de arte que eram produzidas pelos artistas Europeus, principalmente espanhóis e portugueses.

As principais características das obras de arte barroca são o jogo de idéias, o rebuscamento e a assimetria ou falta de proporção.

O barroco aconteceu em uma época de grande turbulência político-econômica. Nesta época também havia uma grande turbulência na vida religiosa Européia, que se refletia em várias de suas colônias.

O marco inicial do barroco brasileiro é o poema épico “Prosopopéia”, de Bento Teixeira, o qual foi publicado em 1601, e que exalta Jorge Albuquerque Coelho, terceiro donatário da capitania de Pernambuco.

A origem da palavra “barroco” é controvertida. Para alguns estudiosos, ela designaria um tipo de pérola de forma irregular, para outros estudiosos, ela designaria um terreno desigual, assimétrico.

Principais representantes do Barroco Brasileiro

Os autores mais representativos do barroco no Brasil são Gregório de Matos, Bento Teixeira, Padre Antônio Vieira e Frei Manuel de Santa Maria Itaparica.

Gregório de Matos nasceu em Salvador, em 1636, estudou em Coimbra, onde trabalhou até 1681, e então retornou ao Brasil quando tinha 47 anos. Ao chegar ao Brasil desentendeu-se com o arcebispo João da Madre de Deus, o que ocasionou para o poeta vários problemas, chegando a ser acusado de herege ao tribunal da Santa Inquisição. Por suas poesias, em que denunciava os costumes do povo baiano de todas as classes sociais, recebeu o apelido de “boca do inferno” ou “boca de brasa”.

Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa, em 1608, e ainda criança, veio para o Brasil. Em 1614 iniciou seus estudos no Colégio dos Jesuítas de Salvador. Em 1623 ingressou na Companhia de Jesus. Em 1634 ordenou-se sacerdote, destacando-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas, combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. O Padre Antônio Vieira escreveu 700 sermões, sendo os mais conhecidos o sermão da Sexagésima e o Sermão do Bom Ladrão.

Meus Oito Anos

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !

Como são belos os dias
Do despontar da existência !
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !

Oh ! dias de minha infância !
Oh ! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !

Casimiro de Abreu