sexta-feira, 30 de abril de 2010

As duas primeiras partes do meu trabalho sobre Fernando Pessoa. Estou sentindo tanta falta de conversar com a professora Fabrícia!!!

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Instituto Superior Professor Paulo Martins

Ângela Maria Campos Michelini

Livro do Desassossego de Bernardo Soares – uma visão literária sobre a vida moderna.

Sobradinho, DF

2010

Introdução

O objetivo deste texto é analisar a obra “O Livro do Desassossego” procurando encontrar em suas páginas referências que evidenciem a influência dos problemas da época em que ele foi escrito nas diversas idéias registradas pelo autor. Sendo um texto elaborado entre os anos de 1914 a 1935, enfim, um texto com características essencialmente modernas, procurar-se-á encontrar ligação entre o estilo fragmentado, a incorporação do cotidiano, as inovações técnicas, as enumerações caóticas, as descrições de uma vida angustiada, dilacerada, depressiva e desassossegada e os acontecimentos que convulsionavam a realidade dos europeus naquele período de tempo.

Para se alcançar uma boa compreensão deste texto são necessários alguns dados sobre o contexto histórico e literário em que o mesmo foi desenvolvido, razão pela qual se fará um breve retrospecto da situação política, social e literária em que os autores modernistas se situavam.

O modernismo começou no início de século XX. Havia, naquele momento, um sentimento de insatisfação nos jovens artistas com a arte como ela se apresentava. Os velhos modelos dos movimentos artísticos anteriores, tais como o Romantismo, o Realismo e o Parnasianismo já apresentavam sinais de falta de caminhos para a construção de algo novo e os artistas se ressentiam da dificuldade de criar nos parâmetros da arte tradicional. Em contrapartida, o mundo vivia um momento de contínua transformação. Em todas as áreas do conhecimento humano, as novidades ocupavam o lugar do tradicionalismo: na política, velhas monarquias caiam e davam lugar a regimes modernos, na indústria, o artesanato cedia espaço às grandes fábricas, na medicina, o prático e o farmacêutico transformava-se no médico, na sociedade uma nova classe social, a burguesia, ocupava o espaço da aristocracia decadente, a filosofia renovava-se com as idéias de Nietzsche, Marx, Goethe, Kant e Schopenhauer, surgia a psicologia com os estudos de Freud, a vida do ser humano passava por transformações radicais fomentadas por uma nova ordem social que se estabelecia na esteira do progresso.

Neste contexto o mundo presencia o aparecimento, na Europa, de vários movimentos que antecedem e originam o Modernismo, principalmente na Literatura, são as Vanguardas Européias: o Cubismo de Picasso e Miró, o Futurismo de Marinetti, o Dadaísmo de Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp e o Surrealismo de André Breton. A maior característica destas vanguardas foi seu caráter agressivo, experimental, demolidor e inovador. O principal objetivo destes movimentos artísticos era o combate ao racionalismo e ao objetivismo das teorias científicas do Realismo, do Naturalismo e do Parnasianismo. As vanguardas pregavam o irracionalismo e objetivavam uma análise mais subjetiva do ser humano, em que o que importava ser analisado era o íntimo das criaturas.

Várias serão as características do Modernismo, este movimento poderoso e que atingiu diversos segmentos da arte do século XX: em primeiro lugar é interessante destacar a atitude de irreverência dos artistas deste período com os padrões estabelecidos; quanto à arte poética, assiste-se a implantação do verso livre, sem rima e sem estrofes pré-estabelecidas; percebe-se um movimento pleno de reação contra o que passou, contra o clássico nas artes, contra a arte sem movimento; assiste-se a implantação de uma linguagem mais hermética, em que muito mais se diz pela sugestão do que pela clareza absoluta; evidencia-se a troca da comunicação das idéias através da forma elaborada pela forma direta, pela linguagem do dia-a-dia; em todas as construções literárias deste período percebem-se várias inovações técnicas na forma de escrever; encontra-se cada vez mais o cotidiano como enfoque de vários artistas e literatos; a linearidade do tempo dá lugar a uma enumeração caótica; nos textos literários encontra-se cada vez mais o uso da descrição do fluxo da consciência.

O Modernismo afirma-se não apenas como um produto de uma evolução estética, mas também como um novo estado de espírito da humanidade. Evidencia-se o fato de que o Modernismo transcende apenas uma influência nos processos criativos, ele se apresenta como a resposta da sociedade através de seus artistas às grandes mudanças ocorridas na vida de todos os seres humanos. O antigo foi inexoravelmente posto de lado, vive-se a modernidade, respira-se o novo e como resultado de tantas mudanças surge forte e complexa esta nova realidade artística.

O primeiro grupo modernista em atividade em Portugal foi composto por Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros e Santa-Rita Pintor, jovens que apesar de portugueses, foram influenciados pela cultura européia: o escritor Fernando Pessoa havia vivido um pouco de sua infância e toda a sua juventude na África do Sul, sob influência da cultura inglesa, Mário de Sá Carneiro passara os anos de 1913 a 1916 em Paris, Almada Negreiros e Santa-Rita Pintor traziam de Paris as novidades que aconteciam na Literatura e no Futurismo de Marinetti. À união destes jovens e à soma destas influências fizeram aparecer em Portugal uma arte cosmopolita, que exalava as mudanças que ocorriam por todo mundo civilizado.

No ano de 1915, outro grupo de jovens, entre os quais estavam novamente Fernando Pessoa, Augusto de Santa-Rita Pintor, Almada Negreiros e Mário de Sá Carneiro, além de Raul Leal, Luís de Montalvor, Rui Coelho, Tomás de Almeida, Guisado, Armando Cortes-Rodrigues e Ronald de Carvalho fundam uma revista que servirá “de porta-voz e concretização de seus ideais estéticos, em consonância com o que vai no resto da Europa” (MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa” 33ª Ed. São Paulo. Ed. Cultrix p.239), o semanário Orpheu, no qual os Literatos “põem-se a criar uma poesia alucinada, chocante, irritante, irreverente, com o fito de provocar o burguês, símbolo acabado da estagnação em que se encontra a cultura portuguesa.” (MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa” 33ª Ed. São Paulo. Ed. Cultrix p.239).

Estas foram algumas das influências marcantes ocorridas na vida do poeta e escritor Fernando Pessoa, que deflagra um processo peculiar na sua produção e na sua arte, o que leva o crítico Massaud Moisés a afirmar:

“Fernando Pessoa é dos casos mais complexos e estranhos, senão único dentro da Literatura Portuguesa, tão fortemente perturbador que só o futuro virá a compreendê-lo e julgá-lo como merece. Por ora, mal decorridos cinqüenta anos de sua morte, é ainda muito cedo para aquilatar-lhe a importância, o significado da obra que escreveu e a influência exercida enquanto viveu e depois de morto. Tudo, portanto, que se disser hoje como análise e julgamento de sua poesia, não passam duma tentativa provisória no sentido de compreender uma insólita personalidade literária e uma obra de carregada e densa problemática.” (MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa 33. Ed. São Paulo. Ed. Cultrix. P. 241)

Ao se estudar o fenômeno Fernando Pessoa, a primeira peculiaridade do poeta que a todos chama a atenção é a diversidade. A obra pessoana é uma obra diversa, e por qualquer sentido em que se encaminhe este estudo, o resultado sempre despertará em seus estudiosos a admiração pela forma como o autor percorreu os meandros da poesia e mesmo os meandros da prosa, que inegavelmente poderá ser acertadamente definida como prosa-poética. Não há apenas uma verdade em Fernando Pessoa. Se em um primeiro momento há uma tese defendida, logo após o autor propõe nova idéia que se apresenta como complemento da idéia anterior e em um determinado momento transforma-se em uma antítese do que foi dito anteriormente. Fenômeno, aliás, que não deve surpreender e que também não desvaloriza ambas as afirmações. Aos leitores pessoanos, é necessária a compreensão de que o poeta era o fruto de uma era também peculiar de Portugal e do mundo, e que, mesmo tendo assimilado todo o passado lírico de seu povo, também captou a forma inquietante como a humanidade enfrentava as mudanças ocorridas nos primeiros anos do século XX. Através de sua sensibilidade, captou de forma dramática a certeza de que aqueles anos seriam marcados por uma profunda e dolorosa crise, tanto de valores como cultural para o povo europeu. Aos que almejam a compreensão do universo pessoano, é necessário a observação do contexto português e da realidade mundial, pois sua obra se constrói além dos limites poéticos, e deságua em cores brilhantes que pintam um painel da realidade da Europa no período pré e pós Primeira Guerra Mundial.

Mas para atingir esta diversidade, para poder assimilar tal complexidade humana, para apreender tantas vivências de certa maneira tão contraditórias, Fernando Pessoa precisa ser todos: todos que existiram, todos que existem e todos que existirão. Era necessária a compreensão da humanidade, uma compreensão que apenas pode ser conseguida ao se incorporar tantas personalidades, tantos “eus”, tantos destinos, tantos desejos, tantas lutas, tantos resultados, e Fernando Pessoa consente em tal divisão, como afirma pela voz de Álvaro de Campos: “Multipliquei-me, para me sentir, / Para me sentir, precisei sentir tudo, / Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me”.

E nascem Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, três poetas completos, diversos nas formas de escrever, diversos nas peculiaridades, diversos nas identidades, mas habitando nosso poeta, que também ele ousa desfiar suas idéias em poesia. Deste desdobramento surge um preço, e Pessoa paga-o: o preço da desintegração, da despersonalização, do fim de sua unidade.

Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos são personagens livres, autônomos em relação a Fernando Pessoa, o primeiro, médico de profissão, monárquico, de educação clássica e latinista, adepto do Sensacionismo, estoicista e epicurista, poeta horaciano e helenista; o segundo, mestre dos heterônimos, nasceu em Lisboa, mas viveu grande parte de sua vida numa quinta do Ribatejo, sua educação não passou do curso primário, antimetafísico, poeta das sensações, da natureza, de atitude antimistica e pagã; e o terceiro, engenheiro naval de profissão, ligado aos movimentos modernistas como o Futurismo e o Sensacionismo, é o poeta que escreve as sensações da energia e do movimento bem como as sensações de sentir tudo de todas as maneiras.

Diante desta novidade na poesia européia, novamente Fernando Pessoa avança no tempo e apresenta aos seus leitores a modernidade, nada mais é algo definido, realizado, decidido, tudo está em mutação. O tempo avança não mais de forma linear, mas em grandes saltos, recuos, negações, o poeta se doa e se nega ao mesmo tempo em que absorve as emoções. Há uma viagem a ser feita e se a impossibilidade se apresenta para alguns, sempre outros ocuparão os espaços vagos na medida em que nada deve ficar sem ser dito, sentido, experimentado, definido e progressivamente colocado em versos que resumem toda a dolorosa experiência de um povo que entende que “Navegar é preciso, viver não é preciso...” e que Pessoa transforma em “Viver não é necessário; o que é necessário é criar.”.

Ao heterônimo Alberto Caeiro a poesia se apresenta “em verso prosaicamente livre contra o transcendentalismo saudosista, evidenciando que “o único sentido oculto das coisas / É elas não terem sentido oculto nenhum”. (SARAIVA, António José. História da Literatura Portuguesa 17ª Ed. Porto. Bloco Gráfico Ltda. 2005. p. 997) .

Ao heterônimo Ricardo Reis a poesia se apresenta “em estilo que, pelas formas estróficas e loci communes clássicos pode parecer neo-arcádico (embora apresentando por vezes densidade poética revivificadora de modelos horacianos). (SARAIVA, António José. História da Literatura Portuguesa 17ª Ed. Porto. Bloco Gráfico Ltda. 2005. p. 998). E o poeta escreve: “Assim façamos nossa vida um dia, / Inscientes, Lídia, voluntariamente / Que há noites antes e após / O pouco que duramos.” (PESSOA, Fernando, Odes de Ricardo Reis, 5ª Ed. São Paulo, Cia. Brasileira de Impressão e Propaganda, 1974. p. 259)

Ao heterônimo Álvaro de Campos a poesia se apresenta “em odes em verso livre entusiástico, à maneira de Walt Whitman, a sabedoria futurista da sem razão, da energia humana, da vida jogada por aposta; ou então o anseio, mais whitmaniano ou sensacionista, de “sentir tudo de todas as maneiras”. (SARAIVA, António José. História da Literatura Portuguesa 17ª Ed. Porto. Bloco Gráfico Ltda. 2005. p. 998). O que fica evidente no poema “Na Véspera”: “Na véspera de não partir nunca / Ao menos não há que arrumar as malas / Nem fazer planos de papel”. (PESSOA, Fernando, Odes de Ricardo Reis, 5ª Ed. São Paulo, Cia. Brasileira de Impressão e Propaganda, 1974. p. 393)

Outros heterônimos e semi-heterônimos devem ainda aparecer quando da divulgação total de seus trabalhos, que ora aguardam a análise de estudiosos, guardados na Biblioteca Nacional de Lisboa, por ora este texto se deterá nestas duas novas criações: Vicente Guedes e Bernardo Soares, os responsáveis pela escrita do “Livro do Desassossego”.

Quanto a Vicente Guedes, até hoje pouco se sabe além de sua participação na escrita de vários textos em prosa que compõe a mais nova charada pessoana: O Livro do Desassossego. É dele o fragmento “Na floresta do Alheamento”, este publicado no volume IV da revista A Águia, de 1913 e “Marcha fúnebre para o rei Luís Segundo da Baviera”. Consta também seu nome como autor de mais alguns fragmentos, porém, na opinião do poeta, escritor e crítico literário Jorge de Sena, a fase do “Livro do Desassossego” pertencente a Guedes é uma fase “muito simbolista e esteticista”, concebida anteriormente à “descoberta da heteronímia profunda de que a grandeza de Pessoa se faria” (antes, pois, de 1914), marcadas por fragmentos que, à exceção de “Na floresta do Alheamento” e “Marcha fúnebre para o rei Luís Segundo da Baviera” são apenas trechos inacabados ou nem sequer saídos de um embrionário começo, escritos de 1912 a 1914, com recorrências até 1917. (SENA, 1982. p. 236).

Mas inegavelmente, Vicente Guedes deve ser estudado como um dos autores do Livro do Desassossego, até pela atenção que Fernando Pessoa dedicou à sua atuação como autor, no “Prefácio” elaborado para a primeira edição do “Livro do Desassossego” de autoria de Fernando Pessoa:

“criou definitivamente a aristocracia interior: aquela atitude de alma que mais se parece com a própria atitude de corpo de um aristocrata completo (LD, v. 1, p. 19). Isolou-se do mundo num apartamento de 4º andar da Baixa lisboeta, morada que mobiliou com requinte decadente – “cuidara especialmente das cadeiras – de braços, fundas, moles -, dos reposteiros e dos tapetes (LD, v. 1, p. 17-8) -, requinte adequado “para manter a dignidade do tédio” segundo dizia (LD, v. 1, p. 18).

Já sobre Bernardo Soares, o autor que dá prosseguimento à construção deste livro póstumo, Fernando Pessoa foi mais específico e o descreveu de maneira detalhada, como um conhecido com o qual teve contato nos restaurantes de Lisboa. Bernardo Soares era um guarda-livros e abordou Fernando Pessoa quando este jantava, conversaram e assim se estabeleceu uma camaradagem entre os dois:

“Era um homem que aparentava trinta anos, magro, mais alto que baixo, curvado exageradamente quando sentado, mas menos quando de pé, vestido com um certo desleixo não inteiramente desleixado. Na face pálida e sem interesse de feições um ar de sofrimento não acrescentava interesse, e era difícil definir que espécie de sofrimento esse ar indicava – parecia indicar vários, privações, angústias, e aquele sofrimento que nasce da indiferença que provém de ter sofrido muito.” (LD, p. 39)

Fernando Pessoa continua uma promessa, mesmo após 75 anos de seu falecimento. Sua presença entre nós se faz também através de seu legado, pois deixou-nos vários escritos inéditos, os quais estão sob a responsabilidade do governo português na Biblioteca Nacional de Lisboa. Vários estudiosos pessoanos dedicam-se ainda agora à análise deste material, buscando encontrar a melhor maneira de apresentar à humanidade as novas palavras do gênio português. E entre eles está o Livro do Desassossego, obra póstuma encontrada entre seus papéis, anos depois de sua morte, e que foi trazida ao conhecimento do grande público através da organização de vários interessados em difundir a maestria do famoso escritor e poeta português.

A história do Livro do Desassossego

Quando Fernando Pessoa faleceu, em 1935, o mundo o conhecia apenas através de poucas publicações, conforme enumera Massaud Moisés, em seu livro “A Literatura Portuguesa”:

“Em vida, além de Mensagem (1934), Fernando Pessoa apenas publicou versos ingleses (Antinous, 1918; 35 Sonnets, 1918; Inscriptions, 1920), reunidos nos English Poems, I, II e III (1921) e alguma prosa: Aviso por causa da Moral (1923) e Interregno-Defesa e Justificação da Ditadura Militar em Portugal (1928). A maior parte de sua produção estampou-se em jornais e revistas ou manteve-se inédita”. (MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa 33. Ed. São Paulo. Ed. Cultrix. P. 247)

Ao ser examinado o espólio do escritor, todos se depararam com vasto material, entre o qual estavam dois envelopes pardos subscritos como “Livro do Desassossego”. Inicia-se aí uma nova empreitada para dar a conhecer ao mundo a continuação do trabalho de Fernando Pessoa. Sobre este material se debruçam uma infinidade de estudiosos que lutam para organizar o mais próximo possível de um ideal de perfeição os textos legados por um dos maiores gênios da literatura. O primeiro a se ocupar com os famosos manuscritos com a finalidade de publicá-los foi o poeta, escritor e crítico literário Jorge de Sena que escreveu um texto considerado como leitura obrigatória para os que se interessam pelo escritor português. Entre os outros que se ocuparam deste tema, os pioneiros do estudo do Livro do Desassossego, encontram-se João Gaspar Simões, Luís de Montalvor, Georg Rudof Lind, Jacinto do Prado Coelho, Teresa Rita Lopes, Maria Aliete Galhoz, Tereza Sobral Cunha, Ivo Castro, Cleonice Berardinelli, José Clécio Basílio Quesado, Luciana Stegagno Picchi, Antonio Quadros, Leyla Perrone-Moisés e Richard Zenith.

Ao se pesquisar o resultado das incursões destes estudiosos pelo material encontrado no espólio de Fernando Pessoa encontra-se vários resultados, melhor dizendo vários “Livros do Desassossego, o que leva à constatação do quão pertinente foi o título escolhido pelo autor, pois mesmo depois de tantos estudos por pessoas de tão comprovada competência técnica e literária, fica clara a perplexidade de seus estudiosos sobre a forma como Pessoa elaborou seus escritos de forma a o tornar algo tão moderno que encarna a própria idéia de algo que se transforma constantemente a ponto de interagir intimamente com a própria idéia de liquidez de nossa era.

Chama a atenção, também, a forma final encontrada por vários destes estudiosos para a publicação da obra de Fernando Pessoa/Vicente Guedes/Bernardo Soares, para alguns, o material encontrado deveria ser organizado observando-se as datas dos textos, para outros a forma ideal seria justamente a inobservância destas datas, já para outros a melhor forma de apresentação seria através de “manchas temáticas” e mesmo outros propõem que se faça uma avaliação dos textos encontrados e apenas os considerados terminados e datados devam constar do resultado final. Independentemente desta discussão, percebe-se o quanto o texto de Fernando Pessoa/Vicente Guedes/Bernardo Soares consegue lançar seus estudiosos em um estado constante de perplexidade e dúvidas, enfim, em um estado de desassossego...

E ao se comparar algumas das edições existentes do Livro do Desassossego em língua portuguesa, percebe-se que ao lado da beleza com que o autor brindou seus leitores postumamente, também legou a quem se interessar por seu trabalho a chance de usufruir de um texto quase mágico, que se reinventa a cada leitura, que possibilita a seus leitores a liberdade total no ato de lê-los, uma obra no dizer de Leyla Perrone-Moisés “sempre em movimento e mutação, que sua forma verdadeira e definitiva será sempre uma nostalgia, um anseio de unidade e coerência como aquele que o indivíduo Pessoa alentava, sabendo-o irrealizável”.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Minha amiga Olga enviou esta história em seu email. Achei tão legal que resolvi colocar no meu blog. Obrigada, Olga!!!

FILOSOFIA ORIENTAL
Há um ditado chinês que diz:
"Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, e ao se encontrarem eles trocam os pães, cada homem vai embora com um... porém, se dois homens  vêm andando por uma estrada cada um carregando uma idéia, e ao se encontrarem eles trocam as idéias, cada homem vai embora com duas...".
Sempre que possível troque idéias. Elas esclarecem, acrescentam, ajudam, evoluem...  ainda que você não precise, elas servirão para o outro.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Prêmio “Corvo do Ano” – Participem!!! (É só dar uma passadinha no site da Carta Maior e votar…) Grande, Emir Sader!!! Grande, Maringoni!!!

19/04/2010

O Corvo do Ano 2010

Queremos apresentar-lhes, para consideração, a imagem que terá o Prêmio “O Corvo do Ano” 2010, uma contribuição do Gilberto Maringoni. Uma vez apresentados todos os candidatos e as justificativas, seguiremos seus desempenhos ao longo da campanha eleitoral e submeteremos, no fim do ano, à votação direta a renhida decisão. Agora opinem sobre se a imagem proposta corresponde aos candidatos apresentados.

sábado, 17 de abril de 2010

“Por que a Folha mente (mente, mente, mente, desesperadamente)” (Texto do Emir Sader, datado de 16/04/10). Em matéria de política, não leio a Folha, não leio o Correio Brasiliense, não leio o Estado de São Paulo, não leio a Época, não leio a Veja, e por aí vai, prefiro acompanhar os fatos e tentar descobrir a verdade oculta por detrás de tantos interesses, às vezes é difícil, então apelo para a “Carta Maior”, confesso que tenho gostado das posições deste jornalista, Emir Sader. Acresce que vivi o “reinado” de Fernando Henrique Cardoso, lembro das dificuldades que o povo enfrentava naquela época. Lembro muito bem de algumas declarações desastradas do nosso (sic) sociólogo, lembro ainda mais de como a máquina do estado foi penalizada e como se tornou inoperante, lembro da dificuldade que nossa juventude encontrava para arrumar emprego, lembro da febre de privatizações, lembro como os aposentados eram culpados de todas as desgraças na previdência deste país, bem, lembro de tanta coisa, que acabo concordando com o caro senhor Emir...

As elites de um país, por definição, consideram que representam os interesses gerais do mesmo. A imprensa, com muito mais razão, porque está selecionando o que considera essencial para fazer passar aos leitores, porque opina diariamente em editoriais – e em matérias editorializadas, que não separam informação de opinião, cada vez mais constantes – sobre temas do país e do mundo.
A FSP, como exemplo típico da elite paulistana, é um jornal que passou a MENTIR abertamente, em particular desde o começo do governo Lula. Tendo se casado com o governo FHC – expressão mais acabada da elite paulistana -, a empresa viveu mal o seu fracasso e a vitória de Lula. Jogou-se inteiramente na operação “mensalão”, desatada por uma entrevista de uma jornalista tucana do jornal, que eles consideravam a causa mortis do governo Lula, da mesma forma que Carlos Lacerda,na Tribuna da Imprensa, se considerava o responsável pela queda do Getúlio.
Só que a história se repetiria como farsa. Conta-se que, numa reunião do comitê de redação da empresa, Otavio Frias Filho – herdeiro da empresa dirigida pelo pai -, assim que Lula ganhou de novo em 2006, dava voltas, histérico, em torno da mesa, gritando “Onde é que nós erramos, onde é que nós erramos”, quando o candidato apoiado pela empresa, Alckmin, foi derrotado.
O jornal entrou, ao longo da década atual, numa profunda crise de identidade, forjada na década anterior, quando FHC apareceu como o representante mor da direita brasileira, foi se isolando e terminou penosamente como o político mais rejeitado do país, substituído pelo sucesso de Lula. Um presidente nordestino, proveniente dos imigrantes, discriminados em São Paulo, apesar de construir grande parte da riqueza do estado de que se apropria a burguesia. Derrotou àquele que, junto com FHC, é o político mais ligado à empresa – Serra -, que sempre que está sem mandato reassume sua coluna no jornal, fala regularmente com a direção da empresa, aponta jornalistas para cargos de direção – como a bem cheirosa jornalista brasiliense, entre outros – e exige que mandem embora outros, que ele considera que não atuam com todo o empenho a seu favor.
O desespero se apoderou da direção do jornal quando constatou não apenas que Lula sobrevivia à crise manipulada pelo jornal, como saía mais forte e se consolidava como o mais importante estadista brasileiro das últimas décadas, relegando a FHC a um lugar de mandatário fracassado. O jornal perdeu o rumo e passou a atuar de forma cada vez mais partidária, perdendo credibilidade e tiragem ano a ano, até chegar à assunção, por parte de uma executiva da empresa, de que são um partido, confissão que não requer comprovações posteriores. Os empregados do jornal, incluídos todos os jornalistas, ficam assim catalogados como militantes de um partido (tucano, óbvio) político, perdendo a eventual inocência que podiam ainda ter. Cada edição do jornal, cada coluna, cada notícia, cada pesquisa cada editorial, ganharam um sentido novo: orientação política para a (debilitada, conforme confissão da executiva) oposição.
Assim, o jornal menos ainda poderia dizer a verdade. Já nunca confessou a verdade sobre a conclamação aberta à ditadura e o apoio ao golpe militar em 1964 – o regime mais antidemocrático que o país já teve -, do que nunca fez uma autocrítica. Menos ainda da empresa ter emprestado seus carros para operações dos órgãos repressivos do regime de terror que a ditadura tinha imposto, para atuar contra opositores. Foi assim acumulando um passado nebuloso, a que acrescentou um presente vergonhoso.
Episódios como o da “ditabranda”, da ficha falsa da Dilma, da acusação de que o governo teria “matado” (sic) os passageiros do avião da TAM, o vergonhoso artigo de mais um ex-esquerdista que o jornal se utiliza contra a esquerda, com baixezas típicas de um renegado, contra o Lula, a manipulação de pesquisas, o silêncio sobre pesquisas que contrariam as suas (os leitores não conhecem até hoje, a pesquisa da Vox Populi, que contraria a da FSP que, como disse um colunista da própria empresa, era o oxigênio que o candidato do jornal precisava, caso contrário o lançamento da sua candidatura seria “um funeral” (sic). Tudo mostra o rabo preso do jornal com as elites decadentes do país, com o epicentro em São Paulo, que lutam desesperadamente para tentar reaver a apropriação do governo e do Estado brasileiros.
Esse desespero e as mentiras do jornal são tanto maiores, quanto mais se aprofunda a diminuição de tiragem e a crise econômica do jornal, que precisa de um presidente que tenha laços carnais com a empresa e teria dificuldades para obter apoios de um governo cuja candidata é a atacada frontalmente todos os dias pelo jornal.
Por isso a FOLHA MENTE, MENTE, MENTE, DESESPERADAMENTE. Mentirá no fim de semana com nova pesquisa, em que tratará de rebater, com cifras manipuladas – por exemplo, como sempre faz, dando um peso desproporcional a São Paulo em relação aos outros estados -, a irresistível ascensão de Dilma, que tratará de esconder até onde possa e demonstrar que o pífio lançamento de Serra o teria catapultado às alturas. Ou bastaria manter a seu candidato na frente, para fortalecer as posições do partido que dirigem.
Mas quem acredita na isenção de uma pesquisa da Databranda, depois de tudo o que jornal fez, faz e fará, disse, diz e dirá, como partido assumido de oposição? Ninguem mais crê na empresa da família Frias, só mesmo os jornalistas-militantes que vivem dos seus salários e os membros da oposição, com a água pelo pescoço, tentando passar a idéia de que ainda poderiam ganhar a eleição.
Alertemos a todos, sobre essa próxima e as próximas mentiras da Folha, partido da oposição, partido das elites paulistas, partido da reação conservadora que quer voltar ao poder no Brasil, para mantê-lo como um país injusto, desigual, que exclui à maioria da sua população e foi governado para um terço e não para os 190 milhoes de habitante.
Por isso a FOLHA MENTE, MENTE, MENTE, DESESPERADAMENTE.

Orgulho e Preconceito (1995) Razão e Sensibilidade (2008) Emma (2009) – Notícia publicada no “janeaustenclub.blogspot.com”

Já se encontra em pré-venda na Livraria Cultura, por R$155,20, o box com as versões de Orgulho e Preconceito, de 1995, Razão e Sensibilidade, de 2008 e Emma, de 2009.

Descanso!!! (Retirado do blog “queromoraremumalivraria”)

domingo, 11 de abril de 2010

BASQUIAT

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Texto do Emir Sader sobre a candidatura de Serra

10/04/2010
Serra é o candidato da direita
Fracassado Collor – em cujo governo os tucanos se preparavam para entrar -, FHC assumiu a heranca do projeto neoliberal no Brasil. Norteou-se por seus mentores, Mitterrand e Felipe Gonzalez, e achou que se daria bem sendo seu continuador no Brasil, que era a a via que lhe restava para realizar seu sonho de ser presidente.

Assumiu com todo o ímpeto, achando que ia se consagrar. A ponto de ter proferido um conjunto de besteiras, como, entre outras, a de que ”A globalização é o novo Renascimento da humanidade”. E lá foi ser “droit” na vida.
(droit = direita - esclarecimento meu)

Vestiu a carapuça que Roberto Marinho procurava. Se atribui a ele, Roberto Marinho, a frase, diante da queda tão chorada do Collor: “Foi o último presidente de direita que conseguimos eleger”. Se supunha que tinham de buscar em outras hostes o continuador de Collor. E acharam FHC.

Que teve a audácia de chamar o PFL, partido nascido da ditadura, com ACM, Marco Maciel, Jorge Bornhausen, como seus dirigentes pára - representativos, que tentavam se reciclar para a democracia, buscando apagar seu passado. Tucanos e pefelistas foram a base de sustentação firme do governo, que agregou o PMDB (governista, como sempre) e outros partidos menores.

Esse foi o eixo partidário do projeto neoliberal de FHC. Que pretendia ser para o Collor o que o Toni Blair foi para a Thatcher: deixar que Collor fizesse o trabalho mais sujo do neoliberalismo – privatizações, abertura da economia, enfraquecimento substancial do Estado, precarização das relações de trabalho -, para que ele aparecesse como a “terceira via”. Como Collor fracassou, FHC teve que vestir o tailler da Thatcher e implementar a ortodoxia neoliberal.

Serra nunca se deu bem com FHC – como, aliás, com ninguém, com seu gênio de turrão, de mal humorado, que nunca sorri, que atropela a tudo e a todos que vê como obstáculos. Serra sempre disputou com FHC dentro dos tucanos, era seu rival. Perdeu e teve que aceitar o Ministério do Planejamento do governo, sem poder algum, mas tendo que referendar o Plano Real. Depois foi para a Saúde, para tentar preparar sua candidatura à presidência. Tentou manter distância do governo de FHC, sabendo que quem se identificasse com o governo, perderia. Não conseguiu e foi derrotado fragorosamente no segundo turno.

Em 2006, temeu por uma nova e definitiva derrota, além do que, pessoa com péssimas relações com todo mundo, perdeu para Alckmin o foro interno dos tucanos e teve que se contentar com esperar. Volta agora como o candidato do bloco que passou a ocupar o espaço da direita no campo político brasileiro.

A oposição aceita Serra não de bom grado, em primeiro lugar porque ele tem relações ruins com todos. Em segundo, porque ele não quer assumir o figurino – vestido com desenvoltura por FHC, por Sergio Guerra, por todo o DEM – de bater duro no governo Lula, de assumir claramente o papel de oposição ao governo. Porque Serra sabe que o sucesso do governo Lula demonstra que esse é um caminho seguro de derrota.

É um casamento de conveniência, mas não havia outro lugar se Serra ainda tem alguma esperança de ser presidente. Às vezes, pela fisionomia e pelas palavras dá a impressão que ele sai candidato com resignação, consciente que é sua ultima oportunidade, mas que sabe que vai para o matadouro, para a derrota inevitável.

O campo político não é definido pela vontade das pessoas. Ele tem uma objetividade, resultado dos enfrentamentos e das construções de força e de aliança de cada bloco. A bipolaridade não é um desejo, é uma realidade. São dois grandes blocos que se enfrentam, com programas, forças sociais, quadros, objetivos e estratégias contrapostas.

Dilma representa o aprofundamento do projeto de 8 anos do governo Lula, ocupa o espaço da esquerda no campo político. Serra representa as mesmas forças que protagonizaram os 8 anos do governo FHC, que implementou o neoliberalismo no Brasil, governo de que o próprio Serra foi ministro todo o tempo. São dois projetos, dois países distintos, dois futuros diferenciados, para que o povo brasileiro os compare e decida.

Postado por Emir Sader às 05:48

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Fernando Pessoa e o moderno

Sou uma placa fotográfica prolixamente impressionável. Todos os detalhes se me gravam desproporcionadamente [a] haver um todo. Só me ocupa de mim. O mundo exterior é me sempre evidentemente sensação. Nunca me esqueço de que sinto.