segunda-feira, 31 de maio de 2010

Este é o fragmento 157 do Livro do Desassossego. Consta um pedaço dele na minha monografia. Ainda não terminei meu texto que o comenta. Mas o tempo voa e a pressa ruge em meus ouvidos palavras desconexas de admoestação para que eu termine logo esta parte! Mas as palavras me fogem, afinal não sou nenhuma Fernando Pessoa. Escritora em crise!

Criar dentro de mim um estado com uma política, com partidos e revoluções, e ser eu isso tudo, ser eu Deus no panteísmo real desse povo-eu, essência e ação dos seus corpos, das suas almas, da terra que pisam e dos atos que fazem. Ser tudo, ser eles e não eles. Ai de mim! este ainda é um dos sonhos que não logro realizar. Se o realizasse morreria talvez, não sei porquê, mas não se deve poder viver depois disso, tamanho o sacrilégio cometido contra Deus, tamanha usurpação do poder divino de ser tudo.

O prazer que me daria criar um jesuitismo das sensações!

Há metáforas que são mais reais do que a gente que anda na rua. Há imagens nos recantos de livros que vivem mais nitidamente que muito homem e muita mulher. Há frases literárias que têm uma individualidade absolutamente humana. Passos de parágrafos meus há que me arrefecem de pavor, tão nitidamente gente eu os sinto, tão recortados de encontro aos muros do meu quarto, na noite, na sombra. Tenho escrito frases cujo som, lidas alto ou baixo – é impossível ocultar-lhes o som – é absolutamente o de uma coisa que ganhou exterioridade absoluta e alma inteiramente.

Por que exponho eu de vez em quando processos contraditórios e inconciliáveis de sonhar e de aprender a sonhar? Porque, provavelmente, tanto me habituei a sentir o falso como o verdadeiro, o sonhado tão nitidamente como o visto, que perdi a distinção humana, falsa, creio, entre a verdade e a mentira.

Basta que eu veja nitidamente, com os olhos ou com os ouvidos, ou com outro sentido qualquer, para que eu sinta que aquilo é real. Pode ser mesmo que eu sinta duas coisas inconjugáveis ao mesmo tempo. Não importa.

Há criaturas que são capazes de sofrer longas horas por não lhes ser possível ser uma figura dum quadro ou dum naipe de baralho de cartas. Há almas sobre quem pesa como uma maldição o não lhes ser possível ser hoje gente da idade média. Aconteceu[-me] deste sofrimento em tempo.

Hoje já me não acontece. Requintei para além disso. Mas dói-me, por exemplo, não me poder sonhar dois reis em reinos diversos, pertencentes, por exemplo, a universos com diversas espécies de espaços e de tempos.

Não conseguir isso magoa-me verdadeiramente. Sabe-me a passar fome.

Poder sonhar o inconcebível visibilizando-o é um dos grandes triunfos que não eu, que sou tão grande, senão raras vezes atinjo. Sim, sonhar que sou por exemplo, simultaneamente, separadamente, inconfusamente, o homem e a mulher dum passeio que um homem e uma mulher dão à beira-rio.

Ver-me, ao mesmo tempo, com igual nitidez, do mesmo modo, sem mistura, sendo as duas coisas com igual integração nelas, um navio consciente num mar do sul e uma página impressa dum livro antigo. Que absurdo que isto parece! Mas tudo é absurdo, e o sonho ainda é o que o é menos.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Clink78 78 King's Cross Rd, London, England WC1X 9QG

Continuando a pesquisa sobre albergues, encontrei este em Londres:

Situado em um antigo tribunal, Clink oferece comodidades como beliches de alta tecnologia com luzes de leitura e armários personalizados, área de internet com WiFi, área de TV com telão de 60 polegadas, cozinha self-service, um bar e acesso por cartões em todos os quartos. Julgue por você mesmo!

Clink combina 200 anos de história com um interior absolutamente moderno, numa localização central a 10 minutos caminhando da estação de metrô King's Cross/St. Pancras. Clink é o único albergue no mundo instalado em um antigo tribunal. É ultramoderno e tem uma fantástica gama de facilidades em um ambiente incrível. Clink é divertido, limpo e seguro.
Nós oferecemos:
Café-da-manhã continental GRATUITO
Roupa de cama GRATUITA

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Escalada de sanções é atalho para ação militar contra Irã – por Breno Altman, na Carta Maior de 25 de maio de 2010 – Concordo inteiramente com a análise deste senhor, e – Deus nos Livre – acho que será apenas questão de tempo para nova guerra naquelas paragens ser deflagrada, resumindo, cada vez mais os verdadeiros terroristas do nosso tempo mostram sua cara: os Estados Unidos da América!!! Pobre e enganado mundo que ainda acredita em papai noel e coelhinho da páscoa… (Em tempo: o Sr. Breno Altman é diretor do site Opera Mundi – www.operamundi.com.br)

A reação dos Estados Unidos e seus aliados contra o acordo Brasil-Irã-Turquia não é surpresa. Tampouco o enfileiramento quase unânime da mídia ocidental à crítica contra o presidente Lula por sua política de negociação. O que está em jogo, afinal, é uma questão relevante para a geopolítica mundial.
O arcabouço que se estabeleceu após o colapso da União Soviética tem como espinha dorsal a verticalização da ordem internacional sob o comando da superpotência vitoriosa na Guerra Fria. Quase vinte anos depois, porém, a crise econômica e moral norte-americana está colocando em xeque essa liderança, também pressionada por crescentes contradições regionais. Mas seria tolice acreditar que a Casa Branca aceitaria a decadência de braços cruzados. Ou que esse processo fosse linear e indolor.
Nem mesmo as demais potências capitalistas parecem apostar, com seriedade, em um sistema multilateral. Atuam para ampliar espaços autônomos que facilitem seus propósitos econômicos e culturais, é certo, mas não manifestam qualquer aspiração em cancelar o mandato de xerife que é exercido pelos Estados Unidos. Temem que mudanças bruscas venham a gerar situações de perigo para seus próprios interesses imperialistas.
A Rússia e a China, por sua vez, continuam circunscritas a ambições regionais. A primeira em caráter defensivo, para preservar influência na zona ex-soviética. A segunda, por considerar que ainda não é forte o suficiente para se contrapor aos norte-americanos em escala planetária. Ambos os países, membros do clube da bomba e detentores do direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, trocam beneplácitos às ações de Washington por salvaguardas a seus objetivos locais.
A questão iraniana deve ser analisada nesse contexto. Há confluência entre os governos ocidentais, além de relativa conivência russo-chinesa, com a estratégia norte-americana. O pretexto nuclear é um faz-de-conta, pois o que os Estados Unidos dão efetivos sinais de perseguir é carta branca para desestabilizar o governo Ahmadinejad.
A supressão da república islâmica, neutralizando o principal adversário militar à coligação israelense-americana no Oriente Médio, permitiria completar o controle sobre as reservas petrolíferas do Golfo Pérsico. Também asseguraria o fluxo marítimo no estreito de Ormuz, por onde transita importante fatia das exportações árabes de óleo para o Ocidente.
A intervenção de Brasil e Turquia, no entanto, impôs obstáculo à rota de confrontação. O inesperado compromisso em Teerã acabou por desmascarar a pretensa impossibilidade de uma saída diplomática. Não passava de propaganda para justificar a asfixia progressiva do Irã.
O gesto liderado pelo presidente Lula, de toda maneira, foi além de seus resultados práticos. Trata-se da primeira vez, desde o colapso soviético, que países não alinhados jogam cartada relevante no cenário internacional. Essa atitude, contraposta à verticalização imperial, mostra-se inaceitável para os Estados Unidos e seus sócios. O acordo Brasil-Irã, para os governos desses países, é exemplo a ser banido das práticas diplomáticas.
O comportamento das potências capitalistas também revela que o foco de sua política não está na eventual insegurança com o desenvolvimento do programa nuclear iraniano. Se assim fosse, a porta aberta pelo pacto criticado deveria servir de passagem para a busca de uma solução definitiva. Afinal, se o Irã veio para a mesa de negociação, o mínimo a se esperar era que esse gesto tivesse reciprocidade.
Não era com o que havia se comprometido o presidente Barak Obama logo no início de seu governo? Não foi nessa direção sua carta sigilosa ao presidente Lula, entregue às vésperas do acordo tripartite, como recentemente revelou a agência Reuters? Mas o peso do complexo bélico-industrial e do sionismo no sistema político norte-americano, além de sua influência nos meios de comunicação, sobrepõe-se ao próprio chefe de Estado.
O fato é que os círculos centrais de poder desejam eliminar a alternativa da negociação porque atrapalha a política da submissão. O problema não é a suposta bomba iraniana, mas a própria existência de um regime que confronta a hegemonia dos Estados Unidos. A expansão das grandes corporações e o acesso seguro às fontes de energia dependem, em ampla medida, da manutenção do unilateralismo.
Essa é a lógica da escalada de sanções, cujo desenlace previsível será uma ação militar contra o Irã. O roteiro se parece com o que antecedeu a invasão do Iraque. Naquela ocasião o motivo apresentado para punições era a existência de armas para destruição em massa – aliás, jamais encontradas. Não demorou muito para que o embargo econômico, autorizado pelo Conselho de Segurança, fosse assumido, pelos Estados Unidos, como autorização tácita a uma guerra ilegal de ocupação.
Antes, como agora, o objetivo inconfesso era estabelecer uma administração fantoche e cordial. As sanções são, nessa estratégia, apenas uma etapa de acumulação, através da qual o inimigo é enfraquecido e provocado. Ninguém em sã consciência pode, afinal, imaginar que uma civilização como a iraniana irá capitular sem oferecer a mais tenaz resistência. A atitude soberana da nação encurralada acabará sendo o derradeiro argumento para a agressão militar.
O acordo proposto por Brasil e Turquia ao Irã permite outro desfecho à crise. Mas não há razões para otimismo. Basta ver a incapacidade do presidente Obama em honrar sua palavra. Os Estados Unidos estão reincidindo no atalho que os levará a advogar por seus interesses na ponta dos mísseis. A dúvida parada no ar é se existem forças dispostas e capazes de impedir o dedo que aperta o gatilho.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Começo a pensar nas minhas viagens! O mundo me aguarda…

Quando eu comecei a faculdade de Letras, minha mãe ainda estava viva e meu filho morava comigo. Quanto ao meu filho, nenhum problema, mas a situação de minha mãe não era boa, passamos três anos muito sofridos aqui em Sobradinho, mas eu confesso que eu não percebi que teria que lidar com a morte em um futuro tão próximo. Em 2008, no dia 30 de abril, ela faleceu, apesar do sofrimento, respirei aliviada, ela passou dois anos paralisada em cima de uma cama, ora no hospital, ora em casa, e ligada a tubos de toda a espécie, não foi um período fácil, ainda mais que, como sempre acontece, eu tive que enfrentar sozinha toda a dor e todo o drama de sua decadência e morte, pois toda a família sumiu...

Mas a faculdade me ajudou muito, ir às aulas me dimensionava para a vida, tenho uma dívida de gratidão muito grande com todos os professores, que mesmo sem o saberem, foram decisivos para que eu agüentasse a situação de minha casa, talvez por isso até hoje me sinta tão ligada afetivamente a alguns deles.

E hoje, prestes a terminar a faculdade de Letras, começo a sonhar com mais um objetivo meu de meia idade: as minhas viagens pelo mundo.

Meus filhos, bem ou mal, estão encaminhados, e tenho a sorte de ter um ex-marido que é simplesmente o melhor pai do mundo. Às vezes eu tenho vontade de dizer para o Jamil pai minha opinião sobre ele, gostaria de agradecer-lhe por ser tão maravilhoso enquanto pai de Tâmara e Jamil Filho, eu acho que nem eles dois tem a dimensão da sorte que têm de serem filhos daquele homem, e sempre me espanta o poder de superação do Jamil Pai, afinal, ele não teve o carinho de um pai, ele não teve o apoio que agora demonstra tão pródigamente aos filhos, eu o respeito muito por isso. Espero sinceramente algum dia poder dizer isto a ele, e afirmar que, apesar de todas as suas ações neste nosso relacionamento, algumas com as quais até hoje não concordo, o que supera tudo é meu sincero agradecimento por Deus o ter colocado em minha vida, como pai dos meus filhos.

E então, o mundo me espera! Começo agora mais um planejamento para a realização de talvez o meu mais caro desejo: a minha viagem à Europa.

Tenho tudo pensado em minha cabeça: agora que estou terminando minha faculdade, vou me dedicar a passar no concurso para professor temporário da Secretaria de Educação. Quando eu conseguir um contrato, começo a juntar “Money” para minhas viagens.

Vou começar a pesquisar os hotéis econômicos e albergues nos quais pretendo ficar. Começo por Portugal, pois meu primeiro destino será Lisboa, e já tenho endereço certo: a Biblioteca Nacional onde poderei conhecer alguns dos manuscritos de Fernando Pessoa. FANTÁSTICO!!! Depois de Lisboa, uma ida à Espanha faz parte de meu roteiro, mas antes está Paris, onde passarei várias tardes no museu do Louvre! Caramba, que chique!!! A Inglaterra também é outro meu destino certo, pois pretendo fazer um percurso à “Jane Austen”, como não poderia deixar de ser... Outro lugar obrigatório é a Grécia, e confesso que espero que até lá ela já tenha se recuperado das convulsões que a acometem neste nosso misericordioso ano. A Itália também me apaixona, imagino-me andando pelas ruas de Roma, talvez comendo uma massa em uma cantina verdadeiramente italiana... Na Itália, acho que algo que me chama muito a atenção é a Via Apia, com seu calçamento que começou a ser feito antes dos anos cristãos. Quero caminhar neste lugar onde começaram os passos de toda a civilização ocidental, ela me encanta. A Alemanha também está nos meus planos, assim como vários outros países encantadores que tenho certeza, conhecerei em minhas viagens.

Vou abusar dos albergues, apesar do Professor Sálvio os ter descrito como incrivelmente incômodos, pela necessidade de convivência com todo tipo de pessoas, mas como realmente não vou viajar procurando o conforto dos hotéis (até porque sou de opinião que o lugar mais confortável do mundo é... a MINHA CASA!), acho que eles serão boas opções para o tour que pretendo efetuar.

Mas começo a divagar, e não é este o objetivo deste texto, quero apenas começar, com ele, minhas pesquisas sobre albergues e hotéis econômicos que serão o destino primeiro de minhas viagens. E começo por Lisboa:

Gostei deste albergue!

Lisbon Poets Hostel (Rua Nova da Trindade, nr.2 - 5th Floor, Chiado, 1200-302, Lisbon)

Descrição Da Propriedade


Lisbon Poets Hostel é um hostel muito bem situado, no coração de Lisboa, precisamente por cima do café mais conhecido de Lisboa, 'A Brasileira'. Traz um livro contigo e partilha connosco.
Temos disponíveis quartos de 2, de 4 e de 6 pessoas, com cacifos gratuitos dentro dos quartos. Temos também Internet Wi-fi gratuita, pequeno almoço incluído, e também uma cozinha de serviço, uma sala enorme para relaxar, e água quente a toda a hora.
A recepção está aberta 24 horas por dia, temos acesso electrónico aos quartos e ao hostel.
Para tua comodidade, temos ainda serviço de lavandaria.
O check-in é depois das 14 horas.
Pode reservar directamente no nosso website.
Oferecemos 10% de desconto se reservar connosco um mínimo de 5 noites nos nossos dois Hostels, em Lisboa e no Porto!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Considerações lúcidas do senhor Emir Sader sobre “perigos e perigosos”, ou “como raciocinar sem a influência manipuladora da Rede Globo e jornais de direita” ou “vamos analisar apenas os fatos”!!!

Quem representa perigo para a paz mundial?

Lula tinha afirmado que um país que possui armas nucleares não tem condições morais para exigir que outros não tenham. Da mesma forma que afirmou que a mediação dos EUA no conflito entre Israel e Palestina não tinha promovido a paz, porque os EUA possuem interesses diretamente vinculados a Israel, não possuindo credenciais para mediar o conflito com um mínimo de objetividade.
O acordo logrado com o Irã confirma esse critério. O Brasil e a Turquia, membros atuais do Conselho de Segurança, aderentes ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, países do Sul do mundo, puderam obter com o Irã o acordo que a Agência da ONU pede. No entanto, os EUA - tomados de surpresa, porque não acreditavam (e torciam para) que o acordo pudesse ser obtido, agora apelam para o argumento de que “Não acreditamos na palavra dele”, quando o que buscava era exatamente uma palavra e um esquema de apoio. Obtidos, inviabilizariam as sanções que os EUA querem impor.
A atitude dos EUA é a mesma que tiveram no ataque ao Iraque. Queriam provas de armamento de destruição em massa, não obtiveram, alegaram que sim, havia, com isso passaram por cima do Conselho de Segurança da ONU, junto com a Grã Bretanha atacaram e destruíram a mais antiga civilização da história (foram destruídos os lugares históricos e sagrados, mas protegidas as torres de petróleo – o objetivo real da ocupação).
Quem representa perigo para a paz mundial? O Irã, que talvez pudesse vir a construir armamento nuclear, mas que não ocupa nenhum outro país? Ou os EUA, único país na história que usou a bomba atômica – contra Hiroshima e Nagasaki -, possui um arsenal de todo tipo de armamento que representa a metade de todo o armamento existente no mundo? Que atualmente ocupam o Iraque e o Afeganistão, que tem uma história de invasões, ocupações, desembarques militares, amplamente conhecida?
Que desrespeitou o Conselho de Segurança da ONU e atacou o Iraque, apoiado em acusações que não se confirmaram? Que possui bases militares em mais de 10 países em todo o mundo? Ou Israel, que possui armamento nuclear, ameaça constantemente atacar o Irã e ocupa os territórios que devem, segundo a ONU, ser destinados ao Estado Palestino?

Postado por Emir Sader às 11:54

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Cuidado!!! Não compre gato por lebre”!!! Rede Globo continua com sua política de manipulação e distorção da verdade!!!

Pessoal,

A rede globo tem adotado uma postura tendenciosa ao comentar os últimos acontecimentos em torno do acordo conseguido pelo Brasil com o Irã.

É preocupante, pois sabemos que somos invadidos pelas notícias da "Plin-Plin" a todo o momento, seja em nossas residências, seja na rua, seja em lojas, seja em bares que tenham uma televisão, seja em consultórios médicos, enfim, uma verdadeira praga.

O pior de tudo é que o povão, aquele que “gruda” no “Faustão” aos domingos e se acha muito bem informado por acompanhar as manchetes do “Fantástico” são os mais suscetíveis de serem manipulados por esta emissora que só tem prejudicado o povo brasileiro, veiculando programas de péssimo nível (BBBs e outros que tais) e deformando notícias, ato este que só demonstram um interesse: desacreditar os esforços de pessoas de bem que lutam para tornar o Brasil um país dos... brasileiros!!! Pecado sem perdão, pois deveríamos ser e continuar sendo por toda a eternidade a cozinha dos Estados Unidos e de outras grandes potências!

Resolvi então remeter algumas considerações sobre o que realmente vem acontecendo com a crise do Irã, e para isso remeto um artigo muito bom do Luis Nassif, espero que ajude a esclarecer alguns tópicos sobre esta situação, com base em verdades, e não manipulações.

Ângela

Luis Nassif
Introdutor do jornalismo de serviços e do jornalismo eletrônico no país. Vencedor do Prêmio de Melhor Jornalista de Economia da Imprensa Escrita do site Comunique-se em 2003, 2005 e 2008, em eleição direta da categoria. Prêmio iBest de Melhor Blog de Política, em eleição popular e da Academia iBest.

A polêmica em torno do acordo do Irã
Coluna Econômica – 19/05/2010
Quem acompanha a crise do Irã apenas pelas manchetes, vai se embaralhar. China, França, a própria ONU elogia; mas em seguida vêm a informação de que os Estados Unidos insisitirão nas sanções contra o Irã. Afinal, sucesso ou fracasso?
A ofensiva do Itamaraty, no episódio do Irã, é um divisor de água na ordem mundial do pós-guerra.
O Conselho de Segurança foi um dos órgãos criados no nascimento da ONU (Organização das Nações Unidas), em 1945. Os organismos iniciais da ONU foram a Assembléia Geral, o Conselho Econômico e Social (ECOSOC), o Conselho de Tutela (que existiu apenas enquanto houvesse colônias ou países tutelados) o Tribunal Internacional de Justiça e o Secretariado.
***
O Conselho de Segurança nasceu com o objetivo de garantir a paz e com poderes quase ilimitados. Poderia impor sanções aos países, criar forças de paz, autorizar invasões, estabelecer embargos econômicos.
Originalmente, foi constituído pelos países vencedores da Segunda Guerra. Na sua composição há cinco membros permanentes – Estados Unidos, Inglaterra, França, Rússia e China (que foi aceita depois) – e dez rotativos, com mandatos de dois anos e sem direito a reeleição.
***
O Conselho começou a perder a legitimidade a partir de dois eventos históricos. O primeiro, o fim da ex-URSS e a profunda crise que se abateu sobre a Rússia, acabando com o polarização bilateral nas discussões internacionais. O segundo, a ofensiva do governo Bush contra o multilateralismo, que chegou ao auge na invasão do Iraque, quando os EUA e a Inglaterra atropelaram a própria decisão do Conselho e decidiram invadir o país.
***
De lá para cá, o fracasso da invasão do Iraque e o fim do governo Bush, levaram os EUA a tentar reconstituir o espírito original do Conselho de Segurança, mas com algumas mudanças. A principal delas seria fazer do Brasil um candidato ao Conselho, substituindo a Rússia, especialmente após a enorme projeção adquirida pelo país ao longo da última década.
***
A estratégia do Itamaraty, no entanto, foi outra. Confirmando a tendência de liderar grupos de nações emergentes – já manifestada na rodada de Doha -, o Brasil decidiu reforçar a chamada diplomacia “soft”, da negociação.
Em outubro, o Conselho de Segurança fizera uma série de imposições ao Irã, para aprovar seu programa de enriquecimento de urânio. Foram desconsideradas. Quando se preparava para anunciar as sanções, o Itamaraty avançou nas negociações e, junto com a Turquia, conseguiu um acordo com o Irã.
O acordo recebeu palavras de apoio da França, China, da Agência Internacional de Energia Atômica e do próprio Secretário-Geral da ONU. Os EUA iniciaram a contra-ofensiva reiterando o anúncio das sanções.
São essas disputas que explicam críticas e elogios ao acordo.
Provavelmente prevalecerá a velha ordem, que ainda detém o poder na ONU. Mas o passo dado mostra que no jogo de poder internacional já entraram novos atores – como Brasil, Índia e Turquia – e uma nova possibilidade de fazer política, pela persuasão
.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

“Viva o Brasil! Viva nossa política externa soberana e independente!” – matéria publicada no site Carta Maior de 17 de maio de 2010, de autoria do jornalista Emir Sader

17/05/2010

Viva o Brasil! Viva nossa política externa soberana e independente!

Corvos, urubus, tucanos, todos torcendo contra uma negociação pacífica do conflito em torno do Irã, porque é Lula quem conduziu essas negociações, o que fortaleceria ainda mais sua imagem. Enquanto que um eventual fracasso, mesmo que levasse a um novo conflito bélico de proporções, contanto que pudesse ser explorado internamente em termos eleitorais, favoreceria a oposição, nos seus mesquinhos e desesperados cálculos eleitorais.
Não importa o destino do Oriente Médio, do mundo, contanto que Serra possa ter alguma esperança de se eleger. Eleger um candidato que disse que o Mercosul é uma “farsa”, que o Brasil fez “uma trapalhada” em Honduras, que o ingresso da Venezuela no Mercosul era “uma insensatez”, que “não convidaria o primeiro ministro do Irã para vir ao Brasil, nem iria ao Irã”.
Dane-se a paz no mundo, contanto que a candidata de Lula não siga sua curva ascendente, que a faz superar a seu candidato na pesquisa do Vox Populi. Dane-se a paz no Oriente Médio, contanto que se possa consignar alguma “gafe” de Lula na viagem ao Irã. Dane-se o mundo, contanto que os interesses da direita brasileira sejam preservados.
Essa visão estreita, provinciana, se choca abertamente com a importância do acordo conseguido e com suas repercussões internacionais. Ainda mais porque contradiz o ceticismo do governo norteamericano – Hillary mencionou o tamanho da montanha que Lula teria que escalar para conseguir o acordo e dos porta-vozes da militarização dos conflitos em escala mundial. Onde outros fracassaram ou apostaram que nem valia a pena buscar negociações, o Brasil triunfou.
O Brasil soube buscar aliados – Rússia, China, Turquia, França – para abrir um espaço de negociação política, que se revelou possível e correto. A posição brasileira de que os EUA – e outras potências – possuindo imensos arsenais nucleares, não tinham moral para buscar acordos que limitem a disseminação de armamento nuclear, abre caminho para outras iniciativas de paz.
Em Israel e na Palestina, Lula deixou claro que os EUA não são o bom negociador para a paz na região, tanto porque são parte integrante do conflito, ao definir a Israel como seu aliado estratégico, como porque fracassou ao longo do tempo, sem que se tenha obtido a concretização do acordo da ONU de garantir a existência de um Estado palestino nas mesmas condições do Estado israelense.
Faltava que a candidatura de Lula fosse lançada ao Prêmio Nobel da Paz, para que uma imensa grita se estendesse por aqui, para que esse merecido reconhecimento internacional não projetasse de vez o Brasil como um novo sujeito em negociações de paz, projetando-nos como país que contribui efetivamente para sairmos de um mundo unipolar, sob hegemonia imperial de uma única super potência e para a criação de um mundo multipolar.
Devemos sentir-nos orgulhosos da diplomacia brasileira e da política internacional do Brasil, da atuação de Lula e de Celso Amorim. Devemos lutar ainda mais para consolidar essas diretrizes da política exterior brasileira e contribuir para que ela não apenas prossiga, mas se estenda e ajude ainda mais a construir um mundo em que os conflitos não sejam mais objeto de intervenções militares, mas de negociações políticas, pacíficas, que respeitem o direito de todos, especialmente dos que, até aqui, foram oprimidos pelas potências que concentram os maiores arsenais do mundo e pretendem perpetuar seu domínio sobre uma ordem mundial injusta.

Postado por Emir Sader às 04:03

quinta-feira, 6 de maio de 2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Partes do LIVRO DO DESASSOSSEGO que utilizarei no meu TCC

Fernando Pessoa e a Religião

Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido — sem saber por quê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, aquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade. Considerei que Deus, sendo improvável, poderia ser; podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera idéia biológica, e não significando mais que a espécie humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal. Este culto da Humanidade, com seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais.

Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comumente se chama a Decadência. A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia.

Fernando Pessoa e o mistério da vida

Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cômodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.

Fernando Pessoa e a solidão de todos os homens do mundo

Escrevo, triste, no quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se, a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha no destino quotidiano ao sonho inútil, à esperança sem vestígios.

Fernando Pessoa e a Literatura

A literatura, que é a arte casada com o pensamento, e a realização sem a mácula da realidade, parece-me ser o fim para que deveria tender todo o esforço humano, se fosse verdadeiramente humano, e não uma superfluidade do animal. Creio que dizer uma coisa é conservar-lhe a virtude e tirar-lhe o terror. Os campos são mais verdes no dizer-se do que no seu verdor. As flores, se forem descritas com frases que as definam no ar da imaginação, terão cores de uma permanência que a vida celular não permite.

Mover-se é viver, dizer-se é sobreviver. Não há nada de real na vida que o não seja porque se descreveu bem. Os críticos da casa pequena soem apontar que tal poema, longamente ritmado, não quer, afinal, dizer senão que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo, passa. Temos pois que conservar o dia bom em uma memória florida e prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou os céus da exterioridade vazia e passageira.

Fernando Pessoa e a tragédia materna e paterna

Não me lembro da minha mãe. Ela morreu tinha eu um ano. Tudo o que há de disperso e duro na minha sensibilidade, vem da ausência desse calor e da saudade inútil dos beijos de que me não lembro. Sou postiço. Acordei sempre contra seios outros, acalentado por desvio.

Ah, é a saudade do outro que eu poderia ter sido que me dispersa e sobressalta! Quem outro seria eu se me tivessem dado carinho do que vem desde o ventre até aos beijos na cara pequena?

Sou todas essas coisas, embora o não queira, no fundo confuso da minha sensibilidade fatal.

Talvez que a saudade de não ser filho tenha grande parte na minha indiferença sentimental. Quem, em criança, me apertou contra a cara não me podia apertar contra o coração. Essa estava longe, num jazigo — essa que me pertenceria, se o Destino houvesse querido que me pertencesse.

Disseram-me, mais tarde, que minha mãe era bonita, e dizem que, quando mo disseram, eu não disse nada. Era já apto de corpo e alma, desentendido de emoções, e o falar ainda não era uma notícia de outras páginas difíceis de imaginar.

Meu pai, que vivia longe, matou-se quando eu tinha três anos e nunca o conheci. Não sei ainda porque é que vivia longe. Nunca me importei de o saber. Lembro-me da notícia da sua morte como de uma grande seriedade às primeiras refeições depois de se saber. Olhavam, lembro-me, de vez em quando para mim. E eu olhava de troco, entendendo estupidamente. Depois comia com mais regra, pois talvez, sem eu ver, continuassem a olhar-me.

Fernando Pessoa e as multidões

Remoinhos, redemoinhos, na futilidade fluida da vida! Na grande praça ao centro da cidade, a água sobriamente multicolor da gente passa, desvia-se, faz poças, abre-se em riachos, junta-se em ribeiros. Os meus olhos vêem-se desatentamente, e construo em mim essa imagem áquea [sic] que, melhor que qualquer outra, e porque pensei que viria chuva, se ajusta a este incerto movimentos.

Ao escrever esta última frase, que para mim exatamente diz o que define, pensei que seria útil pôr no fim do meu livro, quando o publicar, abaixo das "Errata" umas "Não- Errata", e dizer: a frase "a este incerto movimentos", na página tal, é assim mesmo, com as vozes adjetivas no singular e o substantivo no plural. Mas que tem isto com aquilo em que estava pensando? Nada, e por isso me deixo pensá-lo.

À roda dos meios da praça, como caixas de fósforos móveis, grandes e amarelas, em que uma criança espetasse um fósforo queimado inclinado, para fazer de mau mastro, os carros elétricos rosnam e tinem; arrancados, assobiam a ferro alto. À roda da estátua central as pombas são migalhas pretas que se mexem, como se lhes desse um vento espalhador. Dão passinhos, gordas sobre pés pequenos.

E são sombras, sombras...

Vista de perto, toda a gente é monotonamente diversa. Dizia Vieira que Frei Luiz de Sousa escrevia “o comum com singularidade". Esta gente é singular com comunidade, às avessas do estilo da Vida do Arcebispo. Tudo isto me faz pena, sendo-me todavia indiferente. Vim parar aqui sem razão, como tudo na vida.

Fernando Pessoa e a vida em sonho

Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se-me quando, abrindo a janela para dentro de mim pude esquecer-me na visão do seu movimento.

Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me falou de viver nunca prestei atenção. Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser. Tudo o que não é meu, por baixo que seja, teve sempre poesia para mim. Nunca amei senão coisa nenhuma. Nunca desejei senão o que nem podia imaginar. À vida nunca pedi senão que passasse por mim sem que eu a sentisse. Do amor apenas exigi que nunca deixasse de ser um sonho longínquo. Nas minhas próprias paisagens interiores, irreais todas elas, foi sempre o longínquo que me atraiu, e os aquedutos que se esfumam — quase na distância das minhas paisagens sonhadas, tinham uma doçura de sonho em relação às outras partes da paisagem — uma doçura que fazia com que eu as pudesse amar.

A minha mania de criar um mundo falso acompanha-me ainda, e só na minha morte me abandonará. Não alinho hoje nas minhas gavetas carros de linha e peões de xadrez — com um bispo ou um cavalo acaso sobressaindo — mas tenho pena de o não fazer... e alinho na minha imaginação, confortavelmente, como quem no inverno se aquece a uma lareira, figuras que habitam, e são constantes e vivas, na minha vida interior. Tenho um mundo de amigos dentro de mim, com vidas próprias, reais, definidas e imperfeitas.

Fernando Pessoa e o tempo

Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades. Conhecendo o que tem sido a minha vida até hoje – tantas vezes e em tanto o contrário do que eu a desejara – que posso presumir da minha vida de amanhã senão que será o que não presumo, o que não quero, o que me acontece de fora, até através da minha vontade? Nem tenho nada no meu passado que relembre com o desejo inútil de o repetir. Nunca fui senão um vestígio e um simulacro de mim. O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de páginas e a história continua, mas não o texto.

Fernando Pessoa e os problemas

Todos os problemas são insolúveis. A essência de haver um problema é não haver uma solução. Procurar um fato significa não haver um fato. Pensar é não saber existir.

Fernando Pessoa e o ato de escrever

Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e o representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida — umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.

Não é esse o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de idéias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.

Fernando Pessoa e o espetáculo do mundo

Quanto mais contemplo o espetáculo do mundo, e o fluxo e refluxo da mutação das coisas, mais profundamente me compenetro da ficção ingênita de tudo, do prestígio falso da pompa de todas as realidades. E nesta contemplação, que a todos, que refletem, uma ou outra vez terá sucedido, a marcha multicolor dos costumes e das modas, o caminho complexo dos progressos e das civilizações, a confusão grandiosa dos impérios e das culturas — tudo isso me aparece como um mito e uma ficção, sonhado entre sombras e esquecimentos. Mas não sei se a definição suprema de todos esses propósitos mortos, até quando conseguidos, deva estar na abdicação extática do Buda, que, ao compreender a vacuidade das coisas, se ergueu do seu êxtase dizendo ' 'Já sei tudo'', ou na indiferença demasiado experiente do imperador Severo: "omnia fui, nihil expedit — fui tudo, nada vale a pena”.

Fernando Pessoa e a sua busca ou a sua mania de perfeição

Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação da vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha covardia.

Fernando Pessoa e as metáforas

Há metáforas que são mais reais do que a gente que anda na rua. Há imagens nos recantos de livros que vivem mais nitidamente que muito homem e muita mulher. Há

frases literárias que têm uma individualidade absolutamente humana. Passos de parágrafos meus há que me arrefecem de pavor, tão nitidamente gente eu os sinto, tão recortados de encontro aos muros do meu quarto, na noite, na sombra, (...) Tenho escrito frases cujo som, lidas alto ou baixo — é impossível ocultar-lhes o som — é absolutamente o de uma coisa que ganhou exterioridade absoluta e alma inteiramente.

Fernando Pessoa e a monotonia da vida

Estou num dia em que me pesa, como uma entrada no cárcere, a monotonia de tudo. A monotonia de tudo não é, porém, senão a monotonia de mim. Cada rosto, ainda que seja o de quem vimos ontem, é outro hoje, pois que hoje não é ontem. Cada dia é o dia que é, nunca houve outro igual no mundo. Só em nossa alma está a identidade — a identidade sentida, embora falsa, consigo mesma — pela qual tudo se assemelha e se simplifica. O mundo é coisas destacadas e arestas diferentes; mas, se somos míopes, é uma névoa insuficiente e contínua.

O meu desejo é fugir. Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao que amo. Desejo partir — não para as índias impossíveis, ou para as grandes ilhas ao Sul de tudo, mas para o lugar qualquer — aldeia ou ermo — que tenha em si o não ser este lugar. Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias. Quero repousar, alheio, do meu fingimento orgânico. Quero sentir o sono chegar como vida, e não como repouso. Uma cabana à beira-mar, uma caverna, até, no socalco rugoso de uma serra, me pode dar isto. Infelizmente, só a minha vontade mo não pode dar.

Fernando Pessoa e os sonhos

O sonho é a pior das cocaínas, porque é a mais natural de todas. Assim, se insinua nos hábitos com a facilidade que uma das outras mnão tem, se prova sem se querer, como um veneno dado. Não dói, não descora, não abate – mas a alma que dele usa fica incurável, porque não há maneira de se separar do seu veneno, que é ela mesma.

Como um espetáculo na bruma (quadrado do organizador)

Aprendi nos sonhos a coroar de imagens as frontes (quadrado do organizador) do quotidiano, a dizer o comum com estranheza, o simples com derivação, a dourar, com um sol de artifício, os recantos e os móveis mortos e [a] dar música, como para me embalar, quando as escrevo, às frases fluidas da minha fixação.

Fernando Pessoa se compara a objetos modernos

Sou uma placa fotográfica prolixamente impressionável. Todos os detalhes se me gravam desproporcionadamente [a] haver um todo. Só me ocupa de mim. O mundo exterior é me sempre evidentemente sensação. Nunca me esqueço de que sinto.

Fernando Pessoa e o tédio

O tédio... Sofrer sem sofrimento, querer sem vontade, pensar sem raciocínio... É como a possessão por um demônio negativo, um embruxamento por coisa nenhuma. Dizem que os bruxos, ou os pequenos magos, conseguem, fazendo de nós imagens, e a elas inflingindo maus tratos, que esses maus tratos, por uma transferência astral, se reflitam em nós. O tédio surge-me, na sensação transposta desta imagem, como o reflexo maligno de bruxedos de um demônio das fadas, exercidas, não sobre uma imagem minha, senão sobre a sua sombra. É na sombra íntima de mim, no exterior do interior da minha alma, que se colam papéis ou se espetam alfinetes. Sou como o homem que vendeu a sombra, ou, antes, como a sombra do homem que a vendeu.

O tédio... Trabalho bastante. Cumpro o que os moralistas da ação chamariam o meu dever social. Cumpro esse dever, ou essa sorte, sem grande esforço nem notável desinteligência. Mas, umas vezes em pleno trabalho, outras vezes, no pleno descanso que, segundo os mesmos moralistas, mereço e me deve ser grato, transborda-se-me a alma de um fel de inércia, e estou cansado, não da obra ou do repouso, mas de mim.

Fernando Pessoa e o fracasso

Tenho assistido, incógnito, ao desfalecimento gradual da minha vida, ao soçobro lento de tudo quanto quis ser. Posso dizer, com aquela verdade que não precisa de flores para se saber que está morta, que não há coisa que eu tenha querido, ou em que tenha posto, um momento que fosse, o sonho só desse momento, que se me não tenha desfeito debaixo das janelas como pó parecendo pedra caído de um vaso de andar alto. Parece, até, que o Destino tem sempre procurado, primeiro, fazer-me amar ou querer aquilo que ele mesmo tinha disposto para que no dia seguinte eu visse que não tinha ou teria.

Espectador irônico de mim mesmo, nunca, porém, desanimei de assistir à vida. E, desde que sei, hoje, por antecipação de cada vaga esperança que ela há-de ser desiludida, sofro o gozo especial de gozar já a desilusão com a esperança, como um amargo com doce que torna o doce doce contra o amargo. Sou um estratégico sombrio, que, tendo perdido todas as batalhas, traça já, no papel dos seus planos, gozando-lhe o esquema, os pormenores da sua retirada fatal, na véspera de cada sua nova batalha.

Fernando Pessoa e as mudanças em sua personalidade

Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espetáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu.

Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desreconheço-me neles. Houve quem os escrevesse, e fui eu. Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse agora despertado como de um sono alheio.

Fernando Pessoa e as palavras

Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie — nem sequer mental ou de sonho —, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintática, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.

Fernando Pessoa e a arte

A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos. Enquanto sentimos os males e as injúrias de Hamlet, príncipe da Dinamarca, não sentimos os nossos — vis porque são nossos e vis porque são vis.

O amor, o sono, as drogas e intoxicantes, são formas elementares da arte, ou, antes, de produzir o mesmo efeito que ela. Mas amor, sono, e drogas têm cada um a sua desilusão. O amor farta ou desilude. Do sono desperta-se, e, quando se dormiu, não se viveu. As drogas pagam-se com a ruína de aquele mesmo físico que serviram de estimular. Mas na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o princípio. Da arte não há despertar, porque nela não dormimos, embora sonhássemos. Na arte não há tributo ou multa que paguemos por ter gozado dela.

O prazer que ela nos oferece, como em certo modo não é nosso, não temos nós que pagá-lo ou que arrepender-nos dele.

Por arte entende-se tudo que nos delicia sem que seja nosso — o rasto da passagem, o sorriso dado a outrem, o poente, o poema, o universo objetivo. Possuir é perder. Sentir sem possuir.

Fernando Pessoa e o absurdo

Tudo é absurdo. Este empenha a vida em ganhar dinheiro que guarda, e nem tem filhos a quem o deixe nem esperança que um céu lhe reserve uma transcendência desse dinheiro. Aquele empenha o esforço em ganhar fama, para depois de morto, e não crê naquela sobrevivência que lhe dê o conhecimento da fama. Esse outro gasta-se na procura de coisas de que realmente não gosta. Mais adiante, há um que (...)

Fernando Pessoa e a criação de várias personalidades

Criei em mim várias personalidades. Crio personalidades constantemente. Cada sonho meu é imediatamente, logo ao aparecer sonhado, encarnado numa outra pessoa, que passa a sonhá-lo, e eu não.

Para criar, destrui-me; tanto me exteriorizei dentro de mim, que dentro de mim não existo senão exteriormente. Sou a cena viva onde passam vários atores representando várias peças.

Fernando Pessoa e o pensamento sensível

O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à ação, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a ação — a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a ação é, por sua natureza, a projeção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projeção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alheio, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir.

Para agir é, pois, preciso que nos não figuremos com facilidade as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. Ouem simpatiza pára. O homem de ação considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte — ou inerte em si mesma, como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima.

Considerações sobre a realidade atual por Fernando Pessoa

Pertenço a uma geração que herdou a descrença na fé cristã e que criou em si uma descrença em todas as outras fés. Os nossos pais tinham ainda o impulso credor, que transferiam do cristianismo para outras formas de ilusão. Uns eram entusiastas da igualdade social, outros eram enamorados só da beleza, outros tinham a fé na ciência e nos seus proveitos, e havia outros que, mais cristãos ainda, iam buscar a Orientes e Ocidentes outras formas religiosas, com que entretivessem a consciência, sem elas oca, de meramente viver.

Tudo isso nós perdemos, de todas essas consolações nascemos órfãos. Cada civilização segue a linha íntima de uma religião que a representa: passar para outras regiões é perder essa, e por fim perdê-las a todas.

Nós perdemos essa, e às outras também.

Ficamos, pois, cada um entregue a si-próprio, na desolação de se sentir viver. Um barco parece ser um objeto cujo fim é navegar; mas o seu fim não é navegar, senão chegar a

um porto. Nós encontramo-nos navegando, sem a idéia do porto a que nos deveríamos acolher. Reproduzimos assim, na espécie dolorosa, a fórmula aventureira dos argonautas: navegar é preciso, viver não é preciso.

Sem ilusões, vivemos apenas do sonho, que é a ilusão de quem não pode ter ilusões. Vivendo de nós próprios, diminuímo- nos, porque o homem completo é o homem que se ignora. Sem fé, não temos esperança, e sem esperança não temos propriamente vida. Não tendo uma idéia do futuro, também não temos uma idéia de hoje, porque o hoje, para o homem de ação, não é senão um prólogo do futuro. A energia para lutar nasceu morta conosco, porque nós nascemos sem o entusiasmo da luta.

Fernando Pessoa e a ação

— Absolutamente... O que tem de antipático nas gramáticas (já reparou na deliciosa impossibilidade [?] de estarmos falando neste assunto?) — o que há de mais antipático nas gramáticas é o verbo, os verbos... São as palavras que dão sentido às frases... Uma frase honesta deve sempre poder ter vários sentidos... Os verbos!... Um amigo meu que se suicidou — cada vez que tenho uma conversa um pouco longa suicido um amigo — tinha tencionado dedicar toda a sua vida a destruir os verbos...

Fernando Pessoa e a Apoteose do absurdo

APOTEOSE DO ABSURDO

Absurdemos a vida, de leste a oeste.

Fernando Pessoa e novas considerações sobre o tédio

O tédio é, sim, o aborrecimento do mundo, o mal-estar de estar vivendo, o cansaço de se ter vivido; o tédio é, deveras, a sensação carnal da vacuidade prolixa das coisas. Mas

o tédio é, mais do que isto, o aborrecimento de outros mundos, quer existam quer não; o mal-estar de ter que viver, ainda que outro, ainda que de outro modo, ainda que noutro mundo; o cansaço, não só de ontem e de hoje, mas de amanhã também, (e) da eternidade, se a houver, (e) do nada, se é ele que é a eternidade. Nem é só a vacuidade das coisas e dos seres que dói na alma quando ela está em tédio: é também a vacuidade de outra coisa qualquer, que não as coisas e os seres, a vacuidade da própria alma que sente o vácuo, que se sente vácuo, e que nele de si se enoja e se repudia.

O tédio é a sensação física do caos, e de que o caos é tudo. O aborrecido, o mal-estante, o cansado sentem-se presos numa cela estreita. O desgostoso da estreiteza da vida sente-se algemado numa cela grande. Mas o que tem tédio sente-se preso em liberdade frusta numa cela infinita. Sobre o que se aborrece, ou tem mal-estar, ou fadiga, podem desabar os muros da cela, e soterrá-lo. Ao que se desgosta da pequenez do mundo, podem cair as algemas, e ele fugir; ou doer de as não poder tirar, e ele, com sentir a dor, reviver-se sem desgosto. Mas os muros da cela infinita não nos podem soterrar, porque não existem; nem nos podem sequer fazer viver pela dor as algemas que ninguém nos pôs.

Fernando Pessoa e seu sentimento de inadequação social

Em todos os lugares da vida, em todas as situações e convivências, eu fui sempre, para todos, um intruso. Pelo menos, fui sempre um estranho. No meio de parentes, como no de conhecidos, fui sempre sentido como alguém de fora. Não digo que o fui, uma só vez sequer, de caso pensado. Mas fui-o sempre por uma atitude espontânea da média dos temperamentos alheios.

Fui sempre, em toda a parte e por todos, tratado com simpatia. A pouquíssimos, creio, terá tão pouca gente erguido a voz, ou franzido a testa, ou falado alto ou de terça. Mas a simpatia com que sempre me trataram, foi sempre isenta de afeição. Para os mais naturalmente íntimos fui sempre um hóspede, que, por hóspede é bem tratado, mas sempre com a atenção devida ao estranho e a falta de afeição merecida pelo intruso.

Não duvido que tudo isto, da atitude dos outros, derive principalmente de qualquer obscura causa intrínseca ao meu próprio temperamento. Sou porventura de uma frieza comunicativa, que involuntariamente obrigo os outros a refletirem o meu modo de pouco sentir.

Fernando Pessoa e as notícias dos jornais

A leitura dos jornais, sempre penosa do ponto de ver estético, é-o freqüentemente também do moral, ainda para quem tenha poucas preocupações morais.

As guerras e as revoluções — há sempre uma ou outra em curso — chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar não horror mas tédio. Não é a crueldade de todos aqueles mortos e feridos, o sacrifício de todos os que morrem batendo-se, ou são mortos sem que se batam, que pesa duramente na alma; é a estupidez que sacrifica vidas e haveres a qualquer coisa inevitavelmente inútil. Todos os idéias e todas as ambições são um desvario de comadres homens. Não há império que valha que por ele se parta uma boneca de criança. Não há ideal que mereça o sacrifício de um comboio de lata. Que império é útil ou que ideal profícuo?, Tudo é humanidade, e a humanidade é sempre a mesma — variável mas inaperfeiçoável, oscilante mas improgressiva. Perante o curso inimplorável das coisas, a vida que tivemos sem saber como e perderemos sem saber quando, o jogo de dez mil xadrezes que é a vida em comum e luta, o tédio de contemplar sem utilidade o que se não realiza nunca (...) — que pode fazer o sábio senão pedir o repouso, o não ter que pensar em viver, pois basta ter que viver, um pouco de lugar ao sol e ao ar e ao menos o sonho de que há paz do lado de lá dos montes.

Fernando Pessoa e seu resumo do que é moderno

As cousas modernas são

(1) A evolução dos espelhos;

(2) Os guarda-fatos.

Passamos a ser criaturas vestidas, de corpo e alma.

E, como a alma corresponde sempre ao corpo, um traje espiritual estabeleceu-se. Passamos a ter a alma essencialmente vestida, assim como passamos — homens, corpos — à categoria de animais vestidos.

Não é só o fato de que o nosso traje se torna uma parte de nós. É também a complicação desse traje e a sua curiosa qualidade de não ter quase nenhuma relação com os elementos da elegância natural do corpo nem com as dos seus movimentos.

Se me pedissem que explicasse o que é este meu estado de alma, através de uma razão sensível, eu responderia mudamente apontando para um espelho, para um cabide e para uma caneta com tinta.

Fernando Pessoa e sua descrença na arte de escrever

O próprio escrever perdeu a doçura para mim. Banalizou-se tanto, não só o acto de dar expressão a emoções como o de requintar frases, que escrevo como quem come ou bebe, com mais ou menos atenção, mas meio alheado e desinteressado, meio atento, e sem entusiasmo ou fulgor.