quinta-feira, 10 de março de 2011

Matéria de Josie Glausiusz, publicada na revista “National Geographic Brasil” de março de 2011–IMPRESSIONANTE!!!

No futuro, quando precisar de um novo órgão, uma pessoa poderá obter outro, cultivado no laboratório das próprias células.

Milhões de pessoas estão na fila por transplante de órgãos no mundo; todos os dias, centenas morrem nessa espera. Não só há escassez de órgãos saudáveis mas também é preciso haver grande compatibilidade entre doador e paciente para que o sistema imune deste último não rejeite o órgão transplantado. Agora, um novo tipo de solução está sendo aperfeiçoado nos laboratórios médicos: órgãos bioartificiais, cultivados nas células dos próprios pacientes. Trinta pessoas já receberam bexiga produzida com essa técnica, e logo será possível usar outros órgãos desse tipo.

A técnica de produção da bexiga foi desenvolvida por Anthony Atala, do Instituto Wake Forest de Medicina Regenerativa. Os cientistas retiram células saudáveis da bexiga enferma do paciente, fazem com que se multipliquem em placas de cultura e depois as transferem para uma matriz com formato de bola e feita em parte de colágeno, a proteína encontrada na cartilagem. As células musculares ficam na porção externa e, na interna, estão as uroteliais (que recobrem o trato urinário). “É como assar um bolo de camadas” diz Atala. “Você coloca as partes uma após outra, esparrama as células.” A bexiga incipiente é incubada à temperatura do corpo até que se células formem um tecido operacional.

Os órgãos sólidos e dotados de muitos vasos sanguíneos, como o rim e o fígado, são mais difíceis de ser cultivados que órgãos ocos, como a bexiga. Mas a equipe de Atala recentemente conseguiu produzir uma parte operacional de fígado humano. Um dos equipamentos usados assemelha-se a uma impressora a jato de tinta e “imprime”, camada por camada, tanto os diferentes tipos de célula, como a matriz do órgão.

Outros laboratórios estão empenhados em produzir órgãos bioartificias. Um maxilar foi criado na Universidade Colúmbia, e, um pulmão, na Universidade Yale. Na Universidade de Michigan, H. Davis Humes criou um rim artificial de células introduzidas em uma matriz sintética. Do tamanho de um telefone celular, o rim já passou por testes em ovelhas – embora ainda não possa ser implantado, ele funciona como uma máquina externa de diálise, com a vantagem de que faz mais do que apenas filtrar as toxinas do sangue, gera também hormônios e cumpre outras funções renais.

Produzir uma cópia de um órgão do paciente nem sempre é possível – por exemplo, nos casos em que o original está danificado demais por causa de câncer. Para esses pacientes, uma solução poderia ser um banco de células–tronco. A equipe de Atala comprovou que elas podem ser coletadas sem prejudicar os embriões humanos (e, portanto, sem controvérsias políticas). Os pesquisadores conseguiram fazer com que tais células se tornassem especializadas em coração, fígado e outros órgãos. Um banco que reunisse 100 mil amostras de célula-tronco, de acordo com Atala, conteria diversidade genética suficiente para se produzir órgãos compatíveis com a maioria dos pacientes. Quando necessário, os cirurgiões encomendariam órgãos já cultivados, em vez de esperar por cadáveres que talvez não sejam compatíveis.