quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Carta escrita pelo Capitão Wentworth para Anne Elliot, em "Persuasão", romance de Jane Austen

"Já não consigo escutar em silêncio. Tenho de lhe falar pelos meios ao meu alcance. Anne, trespassa-me a alma. Sinto-me entre a agonia e a esperança. Não me diga que é demasiado tarde, que sentimentos tão preciosos morreram para sempre. Declaro-me novamente a si com um coração que é ainda mais seu do que quando o despedaçou há oito anos e meio. Não diga que o homem esquece mais depressa que a mulher, que o amor dele morre mais cedo. Eu não amei ninguém se não a si. Posso ter sido injusto, posso ter sido fraco e rancoroso, mas nunca inconstante. Vim a Bath unicamente por sua causa. Os meus pensamentos e planos são todos para si. Não reparou nisso? Não se apercebeu dos meus desejos? Se eu tivesse conseguido ler os seus sentimentos, como creio que deve ter decifrado os meus, não teria esperado estes dez dias. Mal consigo escrever. A todo o momento estou a ouvir uma coisa que me emociona. Anne baixa a voz, mas eu consigo ouvir os tons dessa voz, mesmo quando os outros não conseguem. Criatura demasiado boa, demasiado pura! Faz-nos, de facto, justiça, ao acreditar que os homens são capazes de um verdadeiro afecto e uma verdadeira constância.Creia que esta é fervorosa e firme no F. W. Tenho de ir, inseguro quanto ao meu futuro; mas voltarei, ou seguirei o seu grupo, logo que possível. Uma palavra, um olhar será o suficiente para decidir se irei a casa do seu pai esta noite, ou nunca.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Desculpando-me, informo que estas informações foram copiadas do blog da Raquel Sallaberry, "janeausten.com.br"


Mini-biografia
Jane Austen (1775-1817) foi uma escritora inglesa, autora de seis romances (completos): A Abadia de Northanger, Razão e Sensibilidade, Emma, Mansfield Park, Persuasão e Orgulho e Preconceito, este último, o mais conhecido deles e, ao que tudo indica, um dos preferidos da autora que se referiu a ele em uma carta como “querido filho”.
Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775 em Steventon no condado de Hampshire, Inglaterra. Filha do reverendo George Austen e Cassandra Leigh (nome de solteira). O casal Austen teve oito filhos:
James · 1765-1819
George · 1766-1838
Edward · 1767-1852
Henry · 1771-1850
Cassandra · 1773-1845
Frank · 1774-1865
Jane · 1775-1817
Charles · 1779-1852
Jane e a irmã Cassandra estudaram pouco tempo fora de casa. Em 1783 foram para Oxford aos cuidados da senhora Cawley que poucos meses depois mudou-se para Southampton onde as meninas apanharam uma doença contagiosa e Jane, particularmente, ficou muito doente. Os pais as trouxeram de volta para Steventon e em 1784 novamente enviaram as duas irmãs, que sempre foram inseparáveis, para a Abbey School, perto de Reading. O internato era conduzindo pela senhora Latournelle que não era muito rí­gida em termos de ensino e no final do ano, as meninas voltaram para casa e não mais retornaram para escola alguma, ficando os estudos dali em diante por conta dos pais. Em casa aprenderam desenho, tocar piano, tarefas domésticas, e, sobretudo leram muito. O reverendo Austen tinha uma boa biblioteca, com aproximadamente quinhentos livros, com clássicos como Shakespeare e muitos autores contemporâneos com os quais Jane familiarizou-se. Entre eles: Henry Fielding, Richardson, Sir Walter Scott, o poeta George Crabber, Maria Edgeworth, Cecilia Frances Burney etc.
Os Austens eram, supõem-se pelo relatos e cartas, uma família alegre e unida. Costumavam encenar peças em casa, algumas da pena da jovem Jane, que foram certamente um ensaio para os futuros livros. Esses primeiros textos e fragmentos são chamados de Juvenilia e surgiram entre os anos de 1787 a 1793.
Não há muitos registros sobre a vida dos Austen. Por vários motivos. A vida da familia Austen era como tantas outras das pequenas cidades e vilarejos, pacata. Os transportes, pouco confortáveis e caros, ainda mais para uma famí­lia numerosa, reduziam os passeios para lugares mais afastados e as festas, bailes, jantares e jogos passavam-se na maioria das vezes nas vizinhanças. Há também a maneira reservada como as pessoas se comportavam naquela época, mesmo com os familiares. Mas certamente com todas as limitações, mocas e rapazes divertiam-se e flertavam como fazem os jovens em qualquer época.
Todos os irmãos de Jane, com exceção de George, casaram-se. Cassandra, após a morte do noivo, Tom Fowle, em 1797, permaneceu solteira e Jane, seguramente flertou e teve pretendentes, pelo que se lia em suas cartas, mesmo sendo discretas. Há¡ também um episódio em dezembro de 1802, em que Jane teria aceito a proposta de casamento de Harris Bigg-Wither, amigo da família de longa data, mas mudou de idéia no dia seguinte e recusou o pedido de casamento. Ninguém sabe porque aceitou. Ninguém sabe porque recusou. Talvez soubessemos mais se Cassandra não tivesse queimado grande parte da correspondência entre elas.
Em 1801, o reverendo Austen aposentou-se e mudou-se para Bath com a família, o que não foi do agrado de Jane, pois ela desmaiou ao receber a notícia da mudança. Quando o pai faleceu em 1805, Jane, Cassandra e a senhora Austen passaram a receber ajuda dos irmãos e em 1806 mudaram-se para a casa do irmão Frank em Southampton. Em 1809 mudaram-se para uma casa em Chawton, propriedade do irmão Edward.
Os primeiros sintomas da doença de Jane, dores nas costas, cansaço e fraqueza surgiram em 1815. Eram crises esporádicas que os médicos não sabiam explicar pois na época o mal de Addison* não era conhecido. No final de 1816 a doença agravou-se e, a partir de março de 1817, Jane ficou cada vez mais fraca largando definitivamente o livro que estava escrevendo, Sanditon. Mesmo assim manteve correspondencia, principalmente com os sobrinhos. Novos sintomas apareceram e o médico local não sabia mais o que fazer. Jane foi então aconselhada a consultar outro médico em Winchester, Doutor Lyford, que percebeu que não havia nada a fazer em tal caso e receitou apenas paliativos. Jane faleceu na manhã do dia 18 de julho de 1817, e foi enterrada na catedral de Winchester.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Salman Rushdie - artigo retirado do blog salaecozinha.blogspot.com

The ground beneath her feet
Só há um escritor vivo a quem eu não me importaria de servir de mulher-a-dias esfregar umas escadas ou coser umas meias, e esse é o Salman Rushdie. Sim, é verdade, adoro o Saramago, admiro a técnica do Lobo Antunes (apesar do seu recente deixai vir as mim as criancinhas e os duendes felizes me custar a engolir), apesar de ter um grande fraquinho pelo Zafon... só o Rushdie está num patamar em que eu lhe faria tarefas domésticas de boa vontade. Não é o perfeito, não será tecnicamente o melhor, apesar de isso ser um pouco dependente das opiniões, mas é o único que escreve livros que eu consigo amar como pessoas, de verdade. Por exemplo, amo os livros do Saramago sem conflitos, complicações ou discussões, como uma filha pequena a um pai, mas amo os livros do Rushdie como se amam as pessoas, com mal-entendidosde parte a parte, irritações e ternuras inexplicáveis. E este Chão que ela pisa é, certamente, o meu livro preferido dele, aquele que mais me toca.
Como lidamos nós com a adoração, com o amor ao nosso lado e do qual não fazemos parte? O que fazemos com todos aqueles sentimentos que não têm nome ou dono, que surgem nos nossos peitos como ervas daninhas e sem os quais somos metade, menos de metade?
Levamos anos, décadas a fazer as pazes connosco próprios por aquilo que não conseguimos ser, por aquilo que não conseguimos ter, o amor não se pede, dá-se. E no entanto passaremos sempre pelos momentos onde olhamos para trás com raiva, ou com mágoa, ou com tristeza de todas as coisas que perdemos, de todas as coisas que poderiam ter sido. Não é que o amor seja diferente de homens para mulheres, é que ele é uma coisa de pele e de instinto, é que há nele vencedores e perdedores, aqueles que controlam e os que se deixam ir, seguindo o rasto de pés descalços pelas ruas da cidade, adorando o chão que quem amamos pisa...