terça-feira, 15 de julho de 2014

MANIFESTO CONTRA A VIOLÊNCIA QUE ATINGE OS PROFESSORES “CONTRATO TEMPORÁRIO”…

Caro Samuel,

Acabo de ver, no Face, o anúncio de um concurso de redação patrocinado pelo SINPRO/DF em que o tema é “violência nas escolas” ou algo parecido...

Este fato me levou a refletir sobre acontecimentos que presenciei em minha vivência recente como professora em escolas públicas do Distrito Federal.

Presenciei muitas situações de violência nestes meus quatro anos recentes de atividades pedagógicas: situações em que alunos sofreram violência, em que professores sofreram violência, em que auxiliares sofreram violência e também situações em que mobiliário e instalações sofreram violência, enfim, vi com tristeza que não somos, nenhum de nós, inocentes da culpa do que de violento acontece na área da educação.

Mas desta vez abrangerei em minhas reflexões o universo dos professores contratos temporários, pois como parcela significativa (em média 6.550 profissionais são aprovados em concurso público) do universo escolar, estes elementos atualmente sofrem com o excesso de violência que hoje em dia nossa sociedade executa com tanta insensibilidade, que nem se dá conta da dor e sofrimento que está infligindo a pessoas inocentes e órfãs da ajuda de sindicatos, associações ou entidades de classe.

Imagine você que, paralelo à alegria proporcionada por recentes contratações de professores e professoras pelo governo, existem também numerosos PROFISSIONAIS COMPETENTES, HONESTOS E ESFORÇADOS, que de uma para outra se viram sem seus empregos sem que nada os preparasse para o fato. Muito pelo contrário a estes profissionais foi assegurado que estariam empregados até (conforme consta, ou constava até ontem, no banco de dados da própria SEDF) o dia 22 de dezembro de 2014.

Estará você dizendo agora: - Ah! Ela foi devolvida, o que é mais do que certo, pois CONTRATO TEMPORÁRIO é TEMPORÁRIO!

Entretanto, não estou aqui discutindo (nem reclamando contra) a questão de direito ou não de devolução de professores temporários, pretendo apenas analisar a forma como este fato ocorre inúmeras vezes e novamente ocorreu em vista das contratações atuais.

Fomos devolvidos, caro Samuel, e infelizmente NOVAMENTE de forma VIOLENTA, AGRESSIVA, sem NENHUM RESPEITO ou CONSIDERAÇÃO!

Dirão os responsáveis pelo fato: mas é nosso direito o fazer, a bem do serviço público! Inclusive jocosamente afirmando conforme ouvi, na escola onde trabalhei de fevereiro até o dia de hoje ao inquirir se receberia por esta segunda-feira, que “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço...” o que levaria a SEDF a não me pagar por minha atuação nesta segunda feira, e sim à professora efetiva que ocuparia a minha vaga...

E eu pergunto: foi VIOLENTO este tratamento dado aos temporários que tão bem (tive 70 pontos em minha avaliação de desempenho) desenvolveram suas atividades junto aos estudantes da rede pública do Distrito Federal?

Custava protelar a posse dos novos efetivos para o dia 15 DE JULHO DE 2014, para que nos fosse dado, a nós, PROFESSORES CONTRATO TEMPORÁRIO, reassumir por um dia nossos cargos interrompidos pelo recesso de meio de ano e festividades da Copa das Copas, para que pudéssemos nos despedir de nossos colegas professores, para que pudéssemos nos despedir de nossos colegas auxiliares que tanto nos ajudaram no decorrer destes meses, para que pudéssemos nos despedir de nossos alunos, com os quais passamos quase dois bimestres completos e com os quais construímos laços de amizade e carinho?

Que mundo é este, caro Samuel, que reclama, exorta e clama contra a VIOLÊNCIA, mas que perpetua esta mesma VIOLÊNCIA através de suas próprias ações?!

Em minha escola, sequer fui convidada pela direção para estar presente à festa de reencontro que foi programada para o intervalo das atividades deste primeiro dia letivo! Doeu? Doeu, e muito!

Minhas colegas (queridas e sensíveis professoras), eu acho, perceberam que atrás da máscara de alegria que eu procurei usar, havia um ser humano ferido pela insensibilidade do sistema, que naquela hora precisava de carinho, carecia de afeto, e souberam naquele momento demonstrar sua consideração para comigo, o que me ajudou a sair da escola com meu sorriso no rosto...

E então vejo o SINPRO – DF pretendendo medidas para atenuar/discutir a violência nas escolas.

Não seria o caso de começar uma luta pelo direito de NÃO SER violento em situações como as que milhares de professores vivenciaram hoje?

Entenda, caro professor/companheiro, que para que o mundo não seja tão violento, e conseqüentemente os nossos alunos em nossas escolas também não o sejam, uma boa primeira atitude seria revisar as nossas - do SINPRO/DF também, próprias ações e atitudes...