sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Debate motra Dilma bem, Serra tentando, Marina quase chegando lá e Plínio como o único inovador. Ainda vou de Dilma!

Notas sobre o debate da Band

por André Egg

Na noite de ontem, 4 candidatos a presidente se encontraram diante de um punhado de telespectadores para o debate promovido pela TV Band. De princípio já achei ótimo que o Plínio de Arruda Sampaio foi convidado. Afinal, era um tremendo desrespeito um partido do tamanho do PSOL, com presença relevante no cenário federal e em vários estados, e com ótima votação nas eleições de 2006, ficar completamente omitido pela cobertura da imprensa.

E Plínio teve uma ótima participação, dentro do que se podia esperar dele. Foi o único a destoar da linha política dos outros três: insistiu na necessidade de ruptura com a estrutura do capitalismo para superar as imensas desigualdades no Brasil. Ele foi o elemento de utopia política num debate morno. O único problema é que parece com o PT dos anos 80: críticas pertinentes ao modelo excludente do capitalismo, mas nenhuma ideia viável de como sair disso. As propostas só falaram em “vontade política”. Ora, voluntarismo bobo, que não resolve nada, como já aprendemos. Plínio deve crescer, mas precisa superar as posições incipientes para se tornar um competidor relevante. As únicas propostas concretas que apresentou podem ser plataforma para um candidato a deputado federal: redução de jornada de trabalho e limitação da propriedade rural ao tamanho máximo de 1000 hectares.

Os outros 3 candidatos estiveram o tempo todo posando.
Serra tentou parecer simpático, coisa que me parece impossível. No que pôde, tentou atacar Dilma. O problema dos baixos investimentos públicos é real, e esse foi seu assunto preferido (fora umas pegadinhas idiotas sobre APAE e mutirão de cirurgias no SUS). Seria um bom mote para Serra, se o governo do PSDB tivesse feito melhor, tanto nos anos de FHC presidente (1995-2002) como nos de Serra governador de São Paulo (2007-2010). Acusações de aparelhamento do Estado pelo PT, mencionando os Correios, foram bem respondidas por Dilma: Serra também pratica isso muito em São Paulo, como se sabe.
Dilma esteve pouco à vontade. Passou metade do debate se atrapalhando com o tempo das respostas, mas aos poucos pegou o jeito da coisa. Demonstrou que aprende rápido. Ao contrário do que se fala dela, me pareceu bem na televisão, fala com clareza, tem algum carisma, é bem informada e raciocina rápido. Seu visual está perfeito (cabelo, roupa e maquiagem) – ponto para sua equipe de campanha. Conseguiu transmitir um bom equilíbrio entre sobriedade e simpatia, entre eficiência e feminilidade. Tecnicamente teve sempre boas respostas. Insistiu no sucesso dos programas do governo Lula, fez propostas mais claras apenas para a área da saúde: ampliação do SUS com a construção de poli-clínicas de especialistas e atendimento emergencial 24 horas. A proposta de acabar com a progressão continuada, também já feita por Mercadante para São Paulo, é demagogia pura. Não melhora em nada a educação, mas deve ganhar votos entre o eleitorado conservador.
Aliás, Dilma me pareceu, neste debate, ter clareza de estar se apresentando para um público mais escolarizado e de maior renda, das regiões Sul e Sudeste. É o público que ela precisa conquistar para ganhar no primeiro turno. Entre os pobres, os menos escolarizados e na região que vai de Minas/Rio para o norte, ela já é rainha, e Serra não está dando nenhum passo para melhorar sua posição. Este público deve ser o alvo estudado pela equipe de campanha, porque Dilma não insistiu na sua ligação com Lula, quase não mencionou esse fator. Procurou passar uma visão de boa administradora, defendeu as políticas do atual governo e propôs ampliações. Está cumprindo um script traçado corretamente por seus estrategistas.

Marina tem um ótimo pessoal de campanha para internet, ótima equipe técnica. Boas propostas, e um partido político que pode ser uma importante via de oxigenação na vida política nacional, reinserindo um horizonte utópico, mais século 21, menos marxismo soviético, englobando as demandas de justiça social com liberdades civis e econômicas (de mercado). Mas é uma candidata de presença pessoal frágil. Apresenta-se de coque nos cabelos (humildade? zelo religioso?), não usa brincos, usa um colar indígena, maquiada somente para as luzes da TV. Preocupada em manter uma postura de respeito aos demais candidatos, não conseguiu propor nada além de uma vaga noção de que deve-se superar a polarização PT-PSDB, avaliar corretamente os ganhos dos governos passados e avançar em melhorias que ainda faltam. Única proposta concreta foi o aumento dos recursos aplicados em educação para 7% do PIB – o que não resolve nada sem uma política mais clara de aplicação.
Em geral, avalio que o modelo de organização do debate foi ruim. Perguntas de candidato para candidato dominaram a cena. Perguntas feitas por jornalistas (ou até pelo público, por que não?) fariam um debate mais incisivo, mais vivo. Somente em um dos cinco blocos isso aconteceu, e Joelmir Beting fez praticamente as únicas perguntas incômodas da noite. Perguntou a Dilma como reduzir os juros escorchantes e os impostos sobre consumo e produção, que prejudicam a população mais pobre. Dilma deu resposta tecnicamente correta, sem ousadia política. Redução da dívida pública praticada no governo Lula permite reduzir os juros com segurança e paulatinamente, como vem sendo feito. Em seu comentário ao tema, Serra apenas propôs reduzir os juros (sem dizer como) e instituir a restituição de parte do imposto pago pelo consumidor como se faz em São Paulo (esqueceu de avisar que os impostos federais não permitem a manobra, que só funciona com ICMS).

O apresentador, Boechat, reclamou em seu tuíter que o debate foi morno. E foi mesmo. Por culpa mais do modelo da Band que da intenção dos candidatos. Perguntas temáticas com tempo de resposta iguais para todos os candidatos (sorteada a ordem das respostas) seria um modelo mais dinâmico, permitindo confrontar propostas diferentes para o mesmo problema. Não foi o que se viu. Saiu perdendo o eleitor, pois os candidatos não se deram a conhecer. Muito tempo de conversa para pouco resultado.

Acho que foram muito mais úteis as entrevistas para a rádio CBN, dadas antes da copa do mundo, que comentei em meu blog (Serra, Dilma e Marina). Mas a CBN não convidou Plínio, o que é compreensível, pois é o único candidato que confronta as posições de mercado defendidas vigorosamente pela emissora. No caso da CBN, parece que ela está mais em campanha que os candidatos…

Pesando tudo na balança, a vitória no debate ficou para Dilma. Como indicam as pesquisas (Vox Populi e Datafolha de julho), se os outros candidatos não crescerem muito na reta final ela surfa na popularidade de Lula e ganha no primeiro turno. Para horror das velhinhas ricas de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.