terça-feira, 28 de setembro de 2010

Literatura do futuro? Não, game do futuro. Texto retirado do blog do Sérgio Rodrigues (Todoprosa)

Sinal dos tempos: um post (em inglês, acesso gratuito) que pretende lançar luz sobre o futuro da literatura saiu no blog de games do “Guardian”, sob o título: “Será a ficção interativa o futuro dos livros?” A questão não é nova, embora esteja cada vez mais presente nas conversas de gente letrada – e acredito que ocupe boa parte do tempo em que estarei, ao lado de Adriana Lisboa, conversando com o público do Café Literário da Bienal do Livro do Paraná neste sábado sobre “Literatura digital, e-books e o leitor do futuro: há uma revolução em curso?”.

Para encurtar, eu diria que o post saiu no blog certo. Talvez a ficção interativa seja o futuro dos games; dos livros, duvido muito. Isso não quer dizer que eu fique insensível à excitação do momento presente, em que as novas fronteiras abertas pelos leitores eletrônicos permitem imaginar maneiras até então impensáveis de contar histórias, com a incorporação de recursos de som e imagem e a exploração lúdica do hipertexto em benefício de narrativas que se expandam para o lado que o leitor quiser. Desenvolvimentos interessantes e, provavelmente, inevitáveis. Só que isso não é literatura.

O que é literatura, então? Claro que a pergunta é cascudíssima, mas arrisco uma definição que não me parece inteiramente tola ou restritiva: a arte de pintar quadros na cabeça do leitor (ou do ouvinte) por meio de um comboio de palavras. E a palavra que permite essa mágica, embora esteja oculta do enunciado, é a imaginação – a do autor estimulando a do receptor. Daí se pode concluir que a interatividade sempre esteve presente nesse jogo. Aparece de maneira mais explícita em “O jogo da amarelinha”, mas já existia na “Odisseia”.

Se a palavra-chave dessa discussão não pode, portanto, ser “interatividade”, resta outra, esta a meu ver mais certeira: multimídia. A explosão tecnológica de hoje não só permite como parece de fato exigir que a interatividade seja explorada em novos formatos narrativos. Mas se literatura é basicamente texto (embora nem todo texto seja literatura), no momento em que se enche um “livro” de recursos visuais e sonoros podemos ter grande arte, por que não, mas será necessário cunhar outra palavra para ela. Ou não: “game” talvez sirva.

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