domingo, 2 de janeiro de 2011

Carta ao Lula!

Em 1977, eu o vi pela primeira vez: eu trabalhava no Ministério do Trabalho e você estava diante de nosso prédio na Esplanada dos Ministérios. Naquele dia, muitos funcionários aproximaram-se das janelas daquele edifício, curiosos, querendo examinar um certo dirigente sindical que enfrentava corajosamente o governo autoritário de Ernesto Geisel...

Daquele momento em diante, um sopro de esperança bafejou os sonhos de incontáveis brasileiros. E este sopro de esperança vinha de São Paulo, trazido pelas notícias de um grupo de brasileiros que corajosamente iniciavam uma luta por seus direitos, sem se deixar amedrontar pelas ameaças que partiam de prisões e calabouços que abrigavam os verdadeiros terroristas brasileiros: os carrascos que torturavam e matavam em nome de um regime autoritário.

A virada aconteceu devagarzinho. Foram precisos muitos acontecimentos: você conseguiu, junto com seus outros companheiros sindicalistas, resgatar a essência do sindicalismo brasileiro; eu precisei trabalhar mais alguns anos no Ministério do Trabalho, fazer faculdade e passar em um concurso para professora; você foi eleito várias vezes para presidente do Sindicato dos Metalúrgicos; eu me sindicalizei junto ao Sinpro – DF, meio escondida então do meu ainda marido e resto da família usando como desculpa a necessidade de um pretenso empréstimo; você se candidatou à Presidência da República. Lembra, era 1989! E eu comecei minha torcida por sua vitória.

Foram anos difíceis, você perdeu em 1989 para o Collor, um candidato que foi apadrinhado pelos grandes empresários e pela mídia (leia-se Rede Globo) do qual tomei conhecimento um dia, quando levava minha mãe para fazer compras no Carrefour através do entusiasmo desenfreado de um bando enorme de cabos eleitorais todos moças de classe média que nos empanturravam de tiras coloridas verde – amarelas; em 1994, você se candidatou novamente para a Presidência da República desta vez contra o FHC, nova derrota; e em 1998, novamente derrotada ao te ver perder novamente para FHC, quase aposentei permanentemente meu sonho de te ver Presidente do Brasil...

Mas em 2002, você novamente se dispôs a concorrer, e eu novamente preparei meu coração para votar em você, confesso que nem pensava mais em sua vitória, era apenas um ato reflexo, eu havia adquirido o hábito de sonhar com uma possível renovação...

E foi aí que tudo aconteceu: fomos vitoriosos, você em sua luta por um Brasil menos dos grandes empresários e mais do povo e eu com meu votinho de teimosia...

Você ficou oito anos no poder, Lula! E neste tempo todo, você renovou o Brasil! Você deu voz a uma multidão que não sabia poder falar. Você começou uma mudança que abalaria velhas estruturas. Aquele nordestino de Caetés (onde “diabos” fica isto?!...) revolucionou a maneira do Brasil se ver! Ficamos inteligentes, mais conscientes, mais ligados em nossos destinos. Ficamos mais sabidos, menos medrosos, e também, através da sua administração, mais ricos... (ou menos pobres...) E elegemos, fato surreal, uma mulher para a Presidência da República...

E hoje, Lula, eu dei adeus ao meu presidente do Brasil de coração! Foi difícil, deu vontade de chorar, deu uma porção de sentimentos sem muito sentido, tudo fugindo à minha compreensão: ao mesmo tempo em que eu estava feliz de ver a Dilma assumir o governo, uma parte de minha cabeça (e coração) ficou com você. Foi legal assisti-la ouvindo o Hino Brasileiro! Foi legal vê-la assinar tanta papelada com tantos ministros novos e alguns nossos velhos conhecidos! Mas não foi bom ver você sair de cena, deixar aquele palco no qual nos acostumamos a vê-lo lutando pelo povo brasileiro, não foi legal perceber que agora não teríamos mais o “sapo barbudo” (Meu Deus! Quem cunhou tal apelido?!) dando entrevista e conversando, enquanto seus cabelos embranqueciam, e nosso país melhorava, a olhos vistos...

E é por isso que estou escrevendo tanta bobagem séria, com um leve sentimento nostálgico avançando pela madrugada fria de uma Brasília chuvosa que parece chorar de saudade do seu filho nordestino que retornou para São Paulo... Não se esqueça de Brasília, Lula, não se esqueça que há muito tempo atrás, mais ou menos em 1977, você avançou por esta esplanada e entrou no coração de toda uma nação sofrida, e plantou um raio de esperança no meio do Planalto Central do País...

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