Crítica sobre "Lua Nova" de Thiago Siqueira
Thiago Siqueira
cinemacomrapadura.com.br
Avaliação: 5
Quem leu minha crítica de “Crepúsculo” sabe que eu tive uma lista quilométrica de ressalvas quanto àquele desastre dirigido por Catherine Hardwicke. Por isso, foi já temendo pelo pior que me aventurei em uma sala de cinema para assistir à continuação daquela produção. No entanto, fiquei surpreso ao sair pensando: “podia ser bem pior”. O motivo da evolução dessa segunda adaptação da série de romances escrita por Stephenie Meyer tem nome e sobrenome, Chris Weitz.
Responsável pelo ótimo “Um Grande Garoto”, mas também tendo comandado o medíocre “A Bússola de Ouro” (embora não tenha tido o menor controle criativo naquele filme), Weitz possui um gosto visual mais apurado que Hardwicke, além de ter sido beneficiado por um orçamento bem mais polpudo. Além disso, o diretor ainda sai no lucro por este segundo filme possuir algumas subtramas que realmente são capazes de causar empolgação, embora o seu plot principal seja ainda mais ridículo que o do longa original.
Na história, a humana Bella (Kristen Stewart) e o vampiro Edward Cullen (Robert Pattinson) continuam em seu romance na nublada cidadezinha de Forks. No entanto, no aniversário de 18 anos da garota, ela começa a perceber que, enquanto seu amado permanecerá para sempre jovem, ela envelhecerá e morrerá. Após um incidente na casa do clã do Cullen, Edward e sua família decidem deixar Forks e Bella para trás para sempre, com a jovem desabando em uma crise de depressão profunda.
Fragilizada psicologicamente após ser abandonada, Bella se joga em situações de perigo para ter visões de Edward, mas ela começa a se recuperar graças à companhia do seu amigo Jacob (Taylor Lautner). No entanto, a maligna vampira Victoria (Rachelle Lefevre) volta para se vingar dela. Mas Jacob e seus estranhos companheiros também não são nada normais, assumindo, quando com raiva, a forma de gigantescos lobos.
Jogando mais informações para o público ao mesmo tempo, o roteiro ainda introduz a realeza vampiresca dos Volturi, vampiros europeus aristocratas que se aproximam mais do mito clássico de Bram Stoker. O grande problema de “Lua Nova” é quando o filme se concentra no insuportável casal Bella e Edward. No primeiro filme, a personagem de Kristen Stewart era apresentada como uma garota normal em uma situação extraordinária, com ela sendo um dos poucos pontos fortes daquela película.
Já nesta continuação, Bella é mostrada comum uma garota altamente dependente, pouco inteligente, ingênua e com fortes indícios de desequilíbrio mental. O próprio filme deixa claro que as visões de Edward que a jovem tem não são místicas nem nada do gênero, vindo da própria mente dela. Some-se isso com uma crescente tendência suicida desta e uma atração inexplicável por tipos perigosos e temos uma bomba-relógio humana prestes a explodir, sendo alarmante que o comportamento dela seja admirado por tantas adolescentes ao redor do mundo.
Edward, por sua vez, se mostra bastante coerente com aquilo que fora mostrado na fita anterior, ou seja, uma figura que vaga por aí vomitando clichês românticos para a sua amada. Mal e porcamente vivido por Robert Pattinson, que também é retratado por Weitz como um presente de Deus para as mulheres (vide a chegada do rapaz na escola no começo do filme), Edward é uma figura altamente unidimensional, sendo ótimo para a história que ele apareça tão pouco durante o filme.
A terceira ponta deste triângulo amoroso, Jacob, é uma grata surpresa. Vivido por Taylor Lautner, o jovem lobo protagoniza alguns dos melhores momentos do filme, com sua transformação de um rapaz comum para lobisomem sendo bem mostrada pela fita. Aliás, a alcateia de Jacob é muito mais interessante que o chatíssimo clã dos Cullen, além de ser melhor explorado pelo roteiro que a família de sanguessugas, que, com exceção do pedante Edward e da interessante Alice (Ashley Greene), quase não ganha tempo de tela.
Os lobos, aparentemente, também sofrem da maldição do torso pelado, já que em toda cena em que aparecem em forma humana, surgem sem camisa. Apesar de o roteiro oferecer uma explicação para isso – a alta temperatura dos corpos dos rapazes -, esta não é lá muito convincente e não serve para amenizar o ridículo desse visual.
Devo dizer que o drama de Jacob chegou a me lembrar muito o de Bruce Banner, só faltando a música triste de piano ao fundo. Aliás, durante o breve exílio de Edward no Rio de Janeiro, me pergunto se o barracão na favela adotado pelo vampiro era o mesmo que hospedou o alter-ego do Hulk no último filme do Golias Esmeralda, mas divago…
O clã dos Volturi foi uma adição interessante à mitologia da saga. Aliás, depois deste filme, pode-se realmente dizer que há algo de estranho com Bella, que chamou a atenção do líder aristocrata dos vampiros, Aro, vivido por Michael Sheen. Aliás, para tanta propaganda em cima dos Volturi, pensei que estes apareceriam mais, com Aro, Jane (Dakota Fanning) e os demais membros da “realeza” mal aparecendo em tela. Embora surjam de maneira nada orgânica em cena, eles acabam por colocar alguns pontos interessantes na trama geral da série que, espero, sejam resolvidos nos demais filmes.
É interessante notar a aparição nada chocante dos vilões da fita, Laurent (Edi Gathegi) e Victoria (Rachelle Lefevre). Enquanto o vampiro de dreads teve sua participação quase totalmente mostrada no trailer da produção e sua presença ser mal explicada pela película, com a própria Bella explicando o furo que é ele estar lá depois dos eventos de “Crepúsculo”, Victória não chega a dar uma só palavra no filme todo. Pior para Rachelle Lefevre que será substituída no próximo filme da série, no qual sua personagem terá algo para dizer realmente.
Weitz faz um trabalho razoável no comando do filme. Tremendamente melhor preparado que Catherine Hardwicke, o cineasta lança mão de recursos visuais interessantes e planos bem realizados, embora escorregue de vez em quando, vide a horrorosa cena do desaparecimento de Edward após este terminar com Bella e o plano que mostra Bella vagando pela floresta após isso. Mas só a sequência que traz a perseguição dos lobos a Victoria já é melhor que o primeiro filme inteiro.
A maquiagem dos vampiros continua deixando a desejar, embora se note uma evolução sensível na cinematografia e nos efeitos especiais em relação ao longa anterior, com os efeitos dos lobos e das cenas de luta merecendo palmas discretas. A trilha sonora também merece elogios, se bem que, como Weitz já trabalhou em uma adaptação de um livro de Nick Hornby, era o mínimo que poderia se esperar.
Embora seja um filme melhor que “Crepúsculo”, “Lua Nova” tem um tom machista altamente incômodo, dizendo para as jovens do mundo que elas devem aceitar seus homens do jeito que são, não importando se são violentos ou perigosos. Mesmo com alguns pontos interessantes, a franquia tem de melhorar bastante para ser reconhecida mesmo como uma “saga”.
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