terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Percy Jackson e os olimpianos – O Ladrão de Raios ou revisitando minha infância

Quando eu tinha mais ou menos nove anos, minha mãe se separou de meu pai, e toda a minha vida mudou, como sempre foi e sempre há de ser, mas o engraçado é que pouco me lembro deste período, as lembranças são esparsas, enevoadas, raras, mas me lembro muito bem de algo que se infiltrou na minha vida através da solidão das minhas tardes solitárias na Urca e depois no apartamento da Senador Vergueiro e depois na Marques de Abrantes: a leitura.

Descobri naquele momento a força que as páginas preenchidas de palavras tinham para mim, meu mundo então se transformou, deixou de ser cinza, passou a ser infinito, e muito, mas muito mesmo colorido.

Eu estudava no colégio da Imaculada Conceição, e claro que odiava estudar no colégio da Imaculada Conceição, eu não queria passar aqueles momentos naquelas salas tristes com aqueles professores estranhamente desprovidos de luz e vida, era muito chato, Meu Deus!, mas havia algo que me tentava inexplicavelmente, que me envolvia com uma força e uma alegria que me transportava para longe de todos os problemas que por acaso eu tivesse, e eu os tinha muitos, mas quando eu pegava um livro e sentava em alguma poltrona macia da minha sala ou mesmo deitada na minha cama, eles desapareciam e eu me libertava e viajava através de todas as histórias que porventura tivesse a sorte de alcançar para ler.

E eu lia, como eu lia! E assim eu devorei todos as coleções de livros juvenis que meu pai providenciava para mim, e li adaptações infantis dos mais variados temas, era “Os Três Mosqueteiros”, “Ivanhoé”, “O Conde de Montecristo”, “Vinte Mil Léguas Submarinas”, “Viagem ao redor do Mundo em 80 dias”, e por aí vai, até que cheguei aos livros de minha irmã, que era dois anos mais velha que eu e já lia romances como “... E o Vento Levou”, “A Moreninha”, “Senhora”...

Quando eu devorei tudo que havia lá em casa, passei a ser assídua nas bancas de jornal, e passei a consumir uma espécie de publicação que dificilmente hoje se encontra: as fotonovelas... Passei a ser “habitué” e mesmo expert em adquirir fotonovelas, e as lia usadas ou novas, e as trocava com quem se interessasse .

Mas também li muito “Tesouro da Juventude” que eram uns livros encadernados de azul, repletos dos mais variados temas e assuntos, li a coleção inteira também...

Não posso deixar de comentar minha coleção do Monteiro Lobato, li todos os volumes, mas com especial atenção e gosto para “Os doze trabalhos de Hércules”, como eu adorava imaginar-me viajando com a tropinha do sítio do pica-pau amarelo, encontrando tantos personagens da Grécia antiga que ressuscitaram de seus sonos imortais pela pena de tão maravilhoso escritor.

E o tempo passou, meu gosto nada apurado me levava por sendas indescritíveis em matéria de literatura, eu não lia ordenadamente, eu lia tudo, do bom ao ruim passando pelo ótimo e descambando também pelo detestável, mas lia, e adorava ler, li toda a coleção da “Angélica, a Marquesa dos Anjos”, imagina...

Melhorei um pouco minhas leituras quando entrei para a faculdade, depois de aposentada de um trabalho de dez anos como agente administrativo e de mais de vinte anos como professora de Educação Artística e outros empregos que tais (secretária, e coisa e tal...), aí eu resgatei e estou resgatando até hoje boas leituras, num trabalho de formiguinha, sem saber às vezes como uma mente tão poluída por leituras tão disparatadas vai reagir a um refinamento a que não estou acostumada...

Mas tenho minhas recaídas, recentemente foi um caso sério com a série do Harry Potter, depois com a saga Crepúsculo e agora com o Percy Jackson e os Olimpianos...

2 comentários:

Passionária disse...

Não se sinta culpada, a leitura nunca é disparatada. Eu não tenho preconceitos: tanto leio aquilo que os intelectuais chamam de alta literatura, como a literatura pop. Todos têm o seu lugar. Neste momento, na calha para ler, temos o Children's book, da A.S.Byatt, magnífica, As intermit~encias da morte, do Saramago, Os filhos da meia noite, do Rushdie (para o clube de leitura, é uma releitura)e o Fantasy in death, da J.D.Robb, na qual sou viciada. Experimente.

Angela disse...

Cara Passionária,
Agradeço sua visita. Tenho planos de ler alguma coisa de Salman Rushdie, influenciada por seu texto de 07 de dezembro, vou tentar comprar "O chão que ela pisa" logo que acabar de ler "O cavaleiro Inexistente" do Ítalo Calvino. Confesso que já tentei ler mais obras do Saramago, inclusive tenho dois livros dele na minha lista de próximas leitura, mas seu estilo me incomoda um pouco... gosto dos parágrafos concretos, que conduzem minha respiração e imaginação... Ângela