domingo, 17 de outubro de 2010

Apelo…

Pessoal,
Tenho estado muito preocupada com o rumo que o candidato José Serra e seus defensores vêm imprimindo à campanha à presidência da República. Assisti ao primeiro debate em que ele e Dilma se encontraram pela primeira vez no segundo turno, e não gostei dos posicionamentos que este candidato apresentou e também não gostei do rumo que as discussões tomaram.
Ficou uma coisa você-é-a-favor-do-aborto-você-é-a-favor-do-aborto-você-é-a-favor-do-aborto-você-é-a-favor-do-aborto-e-blá-blá-blá que me lembrou muito a atitude de certo segmento da sociedade que se concentra em um ponto negativo que porventura exista como forma de impedir que a discussão de temas mais pertinentes e interessantes se aprofundem, então é só você-é-a-favor-do-aborto-você-é-a-favor-do-aborto-você-é-a-favor-do-aborto-você-é-a-favor-do-aborto-e-blá-blá-blá e nada da conversa ou debate ou discussão ou seja lá o que aquilo pretenda ser evoluir para esclarecimentos mais pertinentes e interessantes.
Outro ponto que me tem desgostado muito é a pressão que fazem contra a candidata Dilma pela sua participação contra a ditadura! De repente parece que tudo que o Brasil sofreu, o golpe militar, o Congresso cassado, deputados eleitos pelo voto popular impedidos de representar seus eleitores, estudantes que desapareceram, a tortura que muitos sofreram, a morte de tantos brasileiros, de repente me parece que tudo isto não existiu, e que a Dilma foi simplesmente uma porra-louca que resolveu lutar contra quimeras e moinhos de vento! Gente! Acorda! A ditadura foi terrível, não se esqueçam de Chico Buarque e Caetano Veloso partindo para o exílio, do filho da Zuzu Angel assassinado, dos estudantes apanhando nas passeatas, das bombas de gás lacrimogêneo, das reuniões de mais de três estudantes serem consideradas subversivas, dos anos que passamos sem poder escolher nossos governantes, da escolha arbitrária dos governadores e dos presidentes do nosso país por mais de 20 anos, do sumiço de tantos brasileiros nos porões da ditadura, do Wladimir Herzog, e de tantos outros que sofreram na pele as arbitrariedades que aconteceram neste país. E respeitem quem lutou contra tudo isto, respeitem quem foi preso, quem apanhou, quem com seu ânimo e sofrimento conseguiu reverter esta situação, quem participou de tantas passeatas, e quem conseguiu fazer com que, em 2010, estejamos podendo escolher democraticamente nossos governantes e nosso destino!
Também não gosto da insinuação sub-reptícia de que uma mulher não pode ser a governante de um país. Afinal, a quem tantos homens devem agradecer a vida de sucesso e prestígio que tem agora? Se não fôssemos nós, com nossa força, nosso discernimento, nossa coragem, com nosso coração delicado e que ao mesmo tempo é uma fortaleza onde em tantos momentos nossos filhos se abrigam das tempestades do mundo, vocês acham que seriam hoje pessoas? Vocês nem existiriam, pois sem nós o bem mais básico não lhes teria sido dado, que é o bem da vida, vocês dependeram de nós no momento mais frágil de suas existências, e nós os guiamos e os orientamos e os alimentamos e cuidamos de vocês! E agora tem gente que duvida de nossa capacidade?! Ora, faça-me o favor!!!
Por tudo isto, escrevo agora este meu desabafo. Não quero que todos concordem comigo, não quero que todos votem na Dilma, como eu o farei no dia 31 de outubro. O que eu quero, aliás, o que eu exijo, é que o nível desta campanha se eleve. Que parem de me mandar emails acusando Dilma de homossexual, terrorista, assassina de criancinhas, ou o que mais quiserem inventar por ai! Por favor, discutam comigo O PROGRAMA DE GOVERNO DA DILMA E DO JOSÉ SERRA. TENTEM AGIR COMO ADULTOS E OBSERVEM AS PROPOSTAS DOS CANDIDATOS!!! Parem de tanta baixaria! E não se esqueçam, como diz o ditado popular: QUEM TEM TELHADO DE VIDRO, NÃO JOGA PEDRA...
Ângela
Em tempo: Segue abaixo texto retirado do blog do Josias na folha.com (
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/)
Serra e sua mulher devem à ‘platéia’ uma explicação
Deve-se considerar a opção religiosa e a intimidade de alguém no momento da escolha de um chefe de Estado? Pensando melhor, adie-se a pergunta.
Comece-se de outro modo: o debate beato que tomou conta da cena eleitoral injetou em 2010 um quê de inquisição.
Serra viu na dubiedade de Dilma uma avenida de oportunidades. Chamou-a de “duas caras”.
Ontem incrédula, hoje cristã. Antes pró-descriminalização do aborto, agora contra.
Súbito, Monica Serra, a mulher do candidato tucano, mirou abaixo da linha da cintura.
Há um mês, num evento de campanha realizado na Baixada Fluminense, Monica disse que Dilma é a favor de “matar criancinhas”.
Veiculada pela ‘Agência Estado’, a frase de Monica não foi desmentida. Dilma esfregou a declaração na face de Serra.
Deu-se no debate de domingo passado. Serra poderia ter ecoado a mulher. Poderia também tê-la desdito. Preferiu o silêncio.
Mal comparando, o lero-lero da morte de “criancinhas” evocou 1989, o ano em que Collor trouxe para o centro da arena eleitoral Lurian.
Logo se descobriria que Collor escondia, ele próprio, um segredo. Patrocinou a acusação de que Lula propusera o aborto a uma antiga namorada...
...E recusava-se a reconhecer filho gerado fora do casamento. Collor negava-lhe o sobrenome da família.
Pois bem. Surge agora a informação de que a psicóloga Monica Serra também teria ceifado a vida de uma “criancinha”.
Em notícia levada às págins da Folha, a repórter Mônica Bergamo conta o seguinte:
1. A mulher de Serra ministrava, em 1992, um curso de dança na Unicamp. Ex-alunas de Mônica dizem ter ouvido dela a revelação de que fez um aborto.
2. Quando? Na época em que vivia com Serra no Chile. No dia seguinte ao debate de Dilma com Serra, uma das ex-alunas de Mônica foi ao Facebook.
3. Chama-se Sheila Canevacci Ribeiro. É bailarina. Tem 37 anos. Ficou abespinhada com o silêncio de Serra. Levou sua “indignação” ao sítio de relacionamento.
4. Escreveu que Serra, por “escorregadio”, desrespeitou "tantas mulheres, começando pela sua própria mulher. Sim, Monica Serra já fez um aborto".
5. Prosseguiu: "Com todo respeito que devo a essa minha professora, gostaria de revelar publicamente que muitas de nossas aulas foram regadas a discussões sobre o seu aborto traumático".
6. Perguntou: "Devemos prender Monica Serra caso seu marido fosse [sic] eleito presidente?" A mensagem correu a web. A repórter da Folha foi ouvir Sheila. E ela confirmou “cem por cento” o teor de seu texto.
7. No primeiro turno, Sheila votou em Plínio de Arruda Sampaio. No segundo, votaria em Dilma. Mas estará no Líbano, onde fará uma performance.
8. Sheila é filha da socióloga Majô Ribeiro, ex-aluna de mestrado, na USP, de Eva Blay, suplente de Fernando Henrique Cardoso no Senado em 1993.
9. Militante feminista, Majô foi pesquisadora do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero da USP, fundado por Ruth Cardoso (1930-2008).
10. Ouvida, Majô se disse "preocupada" com a revelação da filha. Mas disse tê-la criado para "ser uma mulher livre". Acha que Sheila "agiu como cidadã".
11. A reportagem traz também declarações de uma colega de classe de Sheila nas aulas de dança da ex-professora Monica Serra.
12. Sob o compromisso do anonimato, a colega contou: Nas aulas da mulher de Serra, as alunas costumavam sentar-se em círculos.
13. Sob atmosfera de intimidade, Monica explicava como os traumas da vida alteram os movimentos do corpo e se refletem na vida cotidiana.

14. Era nesses momentos, segundo ela, que profressora e alunas compartilhavam suas experiências de vida. Nessas aulas, Monica teria falado sobre o aborto.
15. Segundo a ex-aluna, Monica disse que fez o aborto por causa da ditadura. Por quê? O futuro dela e do marido Serra era muito incerto. Grávida, sentiu-se em situação vulnerável.

16. Ouça-se agora mais um pouco de Sheila: "Ela não confessou. Ela contou. Não sou uma pessoa denunciando coisas. Mas [ela é] uma pessoa pública, que fala em público que é contra o aborto, é errado. Ela tem uma responsabilidade ética".
Retorne-se à pergunta inicial: Deve o eleitor considerar a opção religiosa e as vicissitudes íntimas de alguém no momento da escolha de um presidente da República?
Em condições normais, a resposta seria um sonoro “não”. Busca-se um presidente, não um santo. Porém...
Porém, ao servirem-se do discurso carola para desqualificar Dilma, Serra e Monica tornaram-se devedores de uma boa e consistente explicação.
Procurada por dois dias, a mulher de Serra não respondeu à reportagem. A assessoria de Monica alegou que ela viajara para o Chile e estaria ilocalizável. “Não há como responder”, informou-se, por e-mail. Pena.

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