segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
EU / Eu sou a que no mundo anda perdida, / Eu sou a que na vida não tem norte, / Sou a irmã do Sonho, e desta sorte / Sou a crucificada… a dolorida… / Sombra de névoa ténue e esvaecida, / E que o destino amargo, triste e forte, / Impele brutalmente para a morte! / Alma de luto sempre incompreendida!… / Sou aquela que passa e ninguém vê… / Sou a que chamam triste sem o ser… / Sou a que chora sem saber porquê… / Sou talvez a visão que Alguém sonhou, / Alguém que veio ao mundo pra me ver / E que nunca na vida me encontrou! (Florbela Espanca) FANATISMO / Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida / Meus olhos andam cegos de te ver! / Não és sequer razão de meu viver, / Pois que tu és já toda a minha vida! / Não vejo nada assim enlouquecida… / Passo no mundo, meu Amor, a ler / No misterioso livro do teu ser / A mesma história tantas vezes lida! / “Tudo no mundo é frágil, tudo passa…” / Quando me dizem isto, toda a graça / Duma boca divina fala em mim! / E, olhos postos em ti, vivo de rastros: / “Ah! Podem voar mundos, morrer astros, / Que tu és como Deus: princípio e fim!…” (Florbela Espanca)
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