Hoje, mais uma vez, eu me lembrei da Hanna!
Hanna foi uma beagle sofrida. Com mais ou menos dois anos começou a ter convulsões. Ainda me lembro da primeira crise: eu estava ao telefone, falando com uma grande amiga do Rio de Janeiro.
Não era uma coisa boa de se ver. Ela ficava toda distendida, dura, com a lingüinha quase azul. Começou então o calvário daquele animal tão alegre e meigo. Ela não podia mais ficar junto com sua irmã e com o Nicky, pois eles batiam nela quando ela tinha suas crises. E era sofrimento triplicado: ela já não podia brincar com seus amiguinhos, ela tinha crises horríveis, vivia dopada (chegou a tomar dois comprimidos de Gardenal 100 por dia) e passou a ser encarada por todos como um peso.
Fiquei com ela por doloridos seis anos. Assisti impotente seu sofrimento e o desgaste que a doença causou naquele organismo. Seu pelo, antes macio e brilhoso, passou a ser sem vida, castigado por tanto remédio, sua alegria acabou, vivia trancada na minha cozinha e área, pois suas crises poderiam acontecer a qualquer momento e então ela poderia ser atacada por seus outrora amiguinhos. E para piorar havia as internações nas clínicas veterinárias, ela chegou a passar semanas internada, com os veterinários tentando minorar seu sofrimento sem nada conseguir.
Com o passar do tempo suas crises epiléticas foram ficando cada vez mais freqüentes e estranhas, ultimamente ela demorava mais de meia hora para sair daquele estado de torpor que a acometia quando tinha convulsões. E para piorar, babava a ponto de molhar as patinhas, ficando em um estado lastimável, pois nas convulsões sempre aconteciam feridas em sua boca o que ocasionava uma secreção malcheirosa e sanguinolenta.
E então eu cansei de vê-la sofrer. Um dia combinei tudo com o veterinário que cuidava dela. Levei-a para um banho gostoso no pet shop que ela quase não freqüentava numa tentativa de evitar qualquer stress que ocasionasse suas convulsões. Mandei que ela fosse bem banhada, pedi bastante perfume, aguardei até que ela estivesse refrescada e pronta, passeei com ela pela rua, coloquei-a no carro e a levei ao seu veterinário.
O procedimento foi rápido, houve certa relutância em subir na mesa de metal, algum susto ao ver a agulha sendo preparada, mas eu fiquei ao lado dela até o fim. Ela morreu quase em meus braços, sob minha supervisão, sem sofrimento, sem convulsão, quase tranqüila, se não fosse seu medo terrível de veterinário.
Trouxe-a, então, envolta em um saco plástico, calmamente no banco de meu carro. Quando cheguei à minha casa, já estava sendo preparado um local onde ela seria enterrada, o que foi feito comigo acompanhando tudo, observando, zelando para que seus últimos momentos enquanto matéria nesta terra fossem plenos de respeito e consideração.
E hoje, ainda, quando entro na minha casa pelo portão da área verde, olho para o local onde ela foi enterrada. Ainda sinto um cansaço muito grande ao recordar nossos últimos momentos. Acho que libertar aquela presença amiga de tanto sofrimento foi o certo, mas me obrigou a assumir um sentimento que dificilmente me deixará pelo resto da minha vida: um constante peso de tão triste decisão...
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