segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O auto da barca do inferno - Gil Vicente

Gil Vicente, nascido próximo ao ano de 1470, é considerado o pai do teatro português. Sua obra, fundamentada no legado da cultura medieval, usa o medidor popular em jogos de moralidade e farsa. Além disso, Gil é dono do espírito renascentista da prática da crítica e da denúncia às irregularidades institucionais e aos vícios sociais. Sua genialidade é comparada a grandes mestres da literatura ocidental, como Camões e Shakespeare.

No Auto da Barca do Inferno, é clara a intenção de Gil Vicente em expor de forma satírica e despojada os grandes vícios humanos. A forma encontrada para isso reside nos personagens, ou melhor, nas almas que se apresentam no porto em busca do transporte para o outro lado, dentro da visão católica e platônica de céu e inferno.

O Auto da Barca do Inferno é um auto de moralidade, e começa com a presença no palco de duas embarcações, uma guiada por um Anjo e outra guiada pelo Diabo.

Os personagens desfilam pelo palco em episódios paralelos, nos quais cada um deles analisa seus atos em vida e reconhecem e aceitam seu destino, seja ele o céu ou o inferno.

Os passageiros que se apresentam para a jornada final são um Fidalgo, um Onzeneiro, Joane, o Parvo, um Sapateiro, um Frade com sua bela Florença, uma Alcoviteira, um Judeu, um Corregedor, um Procurador, um Enforcado e Quatro Cavaleiros.

O encontro de cada personagem se dá primeiramente com o Diabo, mas todos, quando são informados do destino daquela embarcação procuram uma solução para não ter que enfrentar tal destino.

Vão então ao encontro do Anjo, que os confrontam com seus atos em vida e, na maioria das vezes, os mandam de volta ao Diabo, com exceção de Joanes, o Parvo e os Quatro Cavaleiros.

A contemporaneidade da obra de Gil Vicente: quando o passado apresenta o presente.

Gil Vicente foi considerado um autor de transição entre a Idade Média e o Renascimento. As estruturas de suas peças e muitos dos temas tratados foram desenvolvidos a partir do teatro medieval, defendendo por exemplo valores religiosos.

No entanto, alguns apontam já para uma concepção humanista, assumindo posições críticas.

A dimensão e a riqueza das obras de Gil Vicente constituem um retrato vivo da sociedade portuguesa nas primeiras décadas do século XVI, onde estão presentes todas as classes sociais, com os seus traços específicos, seus vícios, suas preocupações.

Ao ler a obra de Gil Vicente, não podemos deixar de comparar alguns fatos que presenciamos em nossos dias, ou seja, em nossa realidade, e o retrato da sociedade portuguesa pintado pelo autor na referida obra.

Em nossos pensamentos, o que se reveste de mais singularidade, é imaginar que se os personagens que vão ao encontro do Anjo e do Diabo fossem personagens que compartilham nosso cotidiano através dos jornais, das revistas ou até mesmo convivendo no aconchego de nossas casas através da telinha da televisão, afinal, seriam julgados dignos de prosseguir na barca celestial para a última morada de paz e amor ou teriam por companheiro o Diabo e seu ajudante por todo o sempre.

Aceitando que O Auto da Barca do Inferno é um retrato da sociedade portuguesa do século XV – XVI, e fazendo uma análise comparativa entre o passado deles e o nosso de agora, perguntamo-nos: será que evoluímos de alguma maneira, será que nos tornamos mais civilizados e humanos, ou ainda incorremos nos mesmos erros descritos por Gil Vicente.

Será que em nossa última viagem, abarrotaremos a barca do Diabo ou viajaremos na tranqüila companhia do Anjo do Senhor

ESPAM - Escola Superior Professor Paulo Martins

Literatura Portuguesa I

Letras

3º Semestre

Noturno

Luciana e Ângela

F I M

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